sexta-feira, 22 de junho de 2007

O Rebanho




O Rebanho



Cansei de procurar
O que nunca existiu
O poeta desistiu
Da longa jornada
Retornei de mão vazia
Só trouxe o nada
Apedrejado no caminho
Restou um corpo cansado
Estendido
Morrendo sozinho
Minha alma antes
Já morta
Enterrada
Ninguém flores nela
Depositava
Nenhum alento
Nem brisa suave
Que devolvesse a vida
Enquanto padecia
E caminhar ainda podia
Nem mesmo pranto
De olhos algum
Estranhos ou conhecidos
Em agonia tentei
Ninguém vi chorar
Que nenhuma lágrima
Em minha face escorre
Quando perdido, cansado
Sou eu quem morre
Amigos e irmãos
Pareciam inimigos
No funeral de minha alma
À luz do dia
Ainda em vida
O corpo se cansava
A mente resistia
Se perguntava
Resposta não encontrava
Na verdade
Ninguém nem ouvia
Devagar desistia
Vigoroso outrora
Andei pelas ruas
A companhia
Um cigarro
Vi multidões
Ninguém conhecia
Rostos carrancudos
Se mostravam ocupados
Caminhavam ligeiros
Em todas direções
Tempo não havia
Nem mesmo um café
No balcão dum bar
Beber devagar
Se podia
Andava pelas ruas
Pensava
Nada entendia
Todo mundo estudava
Fazia provas
De ano passava
Mirando um alvo distante
Depois trabalhava
Trabalhando
Só reclamava
Que o dinheiro não dava
A vida se perdia
Tempo não havia
Como todo aquele oceano
De pessoas
Andava
Não importava a direção
Tentava ser igual
Àquela gente
Parecendo ocupado
Tendo o semblante carrancudo
O olhar desconfiado
Passo apressado
Assim caminhei
A vida inteira
Sem direção
Tentando ser igual
Àquele rebanho
De cordeiros
Condenados a morte
Porque a vida
No que entendo
É passagem só de ida
Voltar ninguém pode
Chegando ao destino
Se morre
Sábio é aquele
Que vive a estadia
Nesse mundo
Mero lampejo obtuso
Insólito devaneio
Na extensão do infinito escuro
Sem tentar ser igual
A esse gado
Que vejo pelas ruas
Ruminando
Pastando
Caminhando
Rumo ao matadouro


Robson Azevedo




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