quinta-feira, 28 de junho de 2007

A Veraneio Azul e Branco




A Veraneio Azul e Branco


-> Trilha sonora


A veraneio
Azul e branco
Vem vindo devagar
Farol baixo
Tensão no ar
Quatro jovens estudantes
Trabalhadores
Filhos da boa sociedade
Num canto escuro da cidade
Indefesos, ninguém por perto
Em suas casas, os pais
Esperam que voltem
Dormem
Após preces
Para que Deus os proteja

Rangendo
Parece um dragão voraz
Devorador
Inspirando medo, terror
Se aproxima e pára...

Quatro bocas se abrem
Saltam de dentro
Quatro assassinos fardados
Fortemente armados
Suas armas
Escopetas e metralhadoras
Algemas, cassetetes e pistolas
Pagas pelo Estado
Com o dinheiro do trabalho
Dos quatro jovens malfadados
Para que a segurança
Os dessem...

Perguntas de praxe
Vociferam ásperas
Como ditas pelo Diabo
Em olhares estéreis que lampejam
Horror e morte

A dúvida pairando
Sombria na mente
Dos quatro jovens:

Veremos nossos pais
Outra vez?
Viveremos ainda
O amanhã?

Revista
Bolsos revirados
Cada parte da roupa
Até os sapatos
Meias
Debaixo da língua
Pelo chão a luz
De lanternas procuram
A ponta
Dum baseado

Tiras de seda encontradas
Pedacinhos de plástico
Com pó branco de resto

Esbravejam os quatro
Assassinos fardados
Mirando no fundo dos olhos
Apontando dedos e canos
De metralhadoras na cara
Dos quatros estudantes
Trabalhadores desarmados


- Quanto dinheiro vocês têm aí?

Pergunta uma voz
Vinda das entranhas da Besta...



Jovens apressados
Reviram carteiras
Fazem intéra
A soma auferida
Pagaria
Uma caixa de cerveja

Uma pata infame
Estende-se em direção aos jovens
Desprezível
Movida pela imundície das trevas
Recolhe nas garras
Três notas de dez



- Vão bora!
Desapareçam e não olhem pra trás
Dêem graças a Deus
Por não serem agora
Cadáveres desovados
Neste canto sujo, escuro, solitário
Imersos em poças de sangue



Sentindo calafrios
Faces banhadas de suores
Quatro jovens se dispersam
Rapidamente
Pelas ruas desertas
Desaparecendo na noite
De volta para suas casas
Veriam os pais
Teriam o amanhã

Noutro canto da cidade
Um tiroteio no Vidgal
A mesma veraneio
Azul e branco
Não se atreve
Subir a favela
Sentindo os quatro
Assassinos fardados
Calafrios
Banhando suas faces de covardes



Rob Azevedo






Nenhum comentário: