quinta-feira, 28 de junho de 2007

O Circo




_____O Circo_____


-> Trilha sonora


Dia desses caí na real
Vi que não posso mudar o mundo
Olhei os pôsteres na parede
Dei-me conta:

Che Guevara está morto...
Gandhi, Lennon, Luther King
Chico Mendes
O estudante chinês na Praça da Paz Celestial...

Vozes clamando reforma agrária
Sindicalistas e militantes tantos
Denunciando holdings, corrupção e desmatamento
Nações indígenas dizimadas
Incontáveis desaparecidos na calada da noite
Nos porões da ditadura militar em tempos idos
Na Amazônia covas de indigentes
Sem vestígios sepultam a Guerrilha do Araguaia
Geraldo Vandré sem paradeiro esquecido
Em boatos louco, desterrado, inválido
O Papa sofrendo atentado
Outrora apóstolos perseguidos, martirizados
Cristãos nas arenas romanas
Sócrates bebendo cicuta...

Jesus Cristo, quanta gente!

Valores invertidos
O mundo de pernas pro alto
Eu pregando sozinho na praça
Alardeando ao som do bumbo
Armando meu circo
No picadeiro berrando

Nas arquibancadas
Gatos pingados, desocupados
Jogando pipocas
Prum macaco...

As pessoas têm me decepcionado...
Não se importam com nada
Usam máscaras e dissimulam
No entanto não representam personagem algum.
Sendo elas mesmas
Estão mais fantasiadas
Que o pierrô e a colombina
O Arlequim com bandolim
O palhaço trapezista

Na bolsa
Carregam uma escopeta...

Nesse circo do dia a dia
Os animais enjaulados
Somos nós
Famintos, ferozes
Traiçoeiros
Amestrados
Exóticos, causamos estranheza
Se nos encaramos no espelho
O que se dirá aos outros?

A curiosidade atrai
Público ao nosso circo
Espanto e perplexidade
Olhos esbugalhados mirando
Boquiabertos
Nossos atos...

A platéia ri de nós
Comendo algodão doce
Estourando balão de gás
Atirando pipoca

Nosso show:
Querer mudar os fatos
Dum mundo
Para eles abstrato...

Tão abstrato
Quanto o sangue derramado
De tantos mártires
Homens de paz
Ou de tantas criaturas
Que nem podemos mais chamar de gente
Dormindo debaixo de marquises ou pontes
Aos maltrapilhos, imundos
Comendo restos de lixo
Disputados com ratos

Geram crianças
Que diria-se a esperança do mundo
O riso, o sonho e a pureza
O encanto de nossa poesia
À beira de esgotos
Futuros mendigos graduados
Como pedintes no trânsito
Aliciados pelo tráfico
São números para os matemáticos
Do Estado burocrático

O Décimo Quarto DPO chaciná-los
É mais fácil...
Basta uma ordem
Vindo da alcova do Poder
Engendrado pelo Diabo

Ninguém saberá de nada
Tampouco se importará
Eram problemas para a sociedade
Drogados, usuários de cola de sapateiro
Vendedores de craque, maconha e cocaína
Trombadinhas, mal elementos
Mantidos ao custo do vício
Dos estudantes empedernidos da Pontifícia Universidade Católica
Sócios do Golf Club
Que passam férias na Disney
Vestem Giorgio Armani
Andam de BMW
Moradores dos condomínios
Da Gávea, Barra
Ipanema, Leblon...
Que almoçam no Plataforma I
Jantam no Porcão
Filhos burgueses da Besta:

Os Senhores do Poder
Que deram a ordem de extermínio...

Essas coisas, caros irmãos mambembes
Não causam espanto
Perplexidade, estranheza
À platéia que vêm ao nosso circo

Tão somente o que os atrai
Ao espetáculo
É ver-nos e rirem de nós
Os Don Quixotes da nova era
Tentando mudar os fatos
Dum mundo abstrato
Banalizado
Enquanto a lona incendeia...

E onde o concreto
É o dinheiro
Que podem ter no bolso
Status e ego inflamado
Ser melhor que o outro
Mais esperto

De resto...

Nada...

O circo já pegou fogo!





Rob Azevedo





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