quinta-feira, 28 de junho de 2007

A Agonia de Don Quixote Nas Mãos dos Hipócritas




A Agonia de Don Quixote
Nas Mãos dos Hipócritas



Vivo nas Terras de Platão
As pessoas no mundo real
Isso me assusta...

Por que do pó nascidos
Que ao pó voltarão
Insistem tanto
Aparentar perfeição?

Esse ódio da hipocrisia nunca me deixa
Eu que cresci lendo fábulas
De Camões e Shakespeare
Tão pequeno olhei ao redor
E vi que o mundo era feio
As fábulas eram falácias...
Cervantes deu luz
Ao ícone do achincalhe
Até pelas crianças
O Cavaleiro Andante
Don Quixote
Que acreditava pelejar contra gigantes
Em sua tentativa solitária de mudar o mundo
A partir das pessoas
Que não queriam ser mudadas
Embaçou no estupor a visão
Não enxergando a si lutando contra moinhos de vento

Tantas lendas
Eram somente histórias de ninar
Ingenuidade
Diante o mundo nefasto
Que pisoteia no túmulo
De Romeu e Julieta

Por que as pessoas tanto se encantam com as fábulas
Derramam-se em lágrimas
Sussurram palavras entrecortadas em soluços
Comovidas no descompasso do coração
E na vida real trazem na capa a adaga
Cravando nas costas daquele
Que oferta flores?

Talvez o pranto
Seja a consciência se dando conta
Que a alma não é mais criança
Envelheceu e se tornou amarga
Raposa traiçoeira que à noite ladra
E no amanhecer devora a cria
Cri-a-ção de sonhos infantis

Por que somente eu não cresci?
Olho ao redor e as pessoas envelheceram a entranha
Donde o altruísmo
O caráter
E a moral habitam
Tornaram-se ranzinzas
Fazendo galhofa com as lendas
Porque são perfeitas
E o que é perfeito desperta no âmago o medo
De mirando-se na perfeição
Reconhecerem a si indignos da mediocridade
Porque esta para aquele que no perfeito se mira
Seria prêmio de honra ao mérito

E celebram a hipocrisia
Coroada na cabeça dos boçais
Assentados no vaso sanitário

Por que não te revela tal qual é
Ó Ser Imperfeito?
Alimenta disfarçado de cordeiro
Quimeras no espírito do bondoso
Nascendo de dentro nos ninhos
Corvos que devoram o hospedeiro

És tão feio que não podes mostrar a própria face?
Ou esta de tão feia te envergonha?

Em meus surtos de ira súbita
Vomito a hipocrisia maldita
Com que encheram meu prato
Usando dois pesos
Duas medidas
Leis que só se aplicam para um dos lados
E o cúmulo da incoerência
Pregando discursos moralistas
Que na prática exercem ao contrário
Ainda julgam-se
Exemplos de santidade!

Ó blasfêmia que abomina
Eu te vomito do fundo de minh`alma!

Sou da linhagem dos filósofos
Amantes da Verdade
Se vindes a mim
Vem tal qual és
Se desnude da fantasia dos hipócritas

Porque nunca fui prendado à diplomacia
Fazer agrado visando interesses outros
Quando dói o sapato eu esbravejo
Contra o que abomino eu grito
Se quiseres ouvir agrados
Busque a companhia dos hipócritas malditos

Porque vim das Terras de Platão
Onde o perfeito é sagrado
E o feio jamais celebrado
Donde mais poderia vir um poeta
Senão dos Jardins Floridos
Da Babilônia
Onde tudo é encanto?



Rob Azevedo





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