sexta-feira, 25 de abril de 2008

Tratado Filosófico Poético...




Tratado Filosófico Poético

E Bíblicopelo tamanho
Em muitos ângulos
Até Concluir:
Eu Não Sabia!




Quando eu me for
Desta vida
Direi comigo:

Não foi feia nem bonita
Não foi doce nem amarga
Não foi leve nem pesada
Não foi cinza nem colorida

Direi essas coisas comigo
Quando me for
Para que tenha consolo
E pareça brando o tempo
Em que estive no mundo

Não tão boa
Nem tão ruim
Uma garoa à toa
Caindo
O dia inteiro

Não foi festa em circo
Nem irreparável castigo

Não fiz
Quase nada do que quis
Engavetei sonhos
Rasguei a planta do castelo
Que imaginei um dia
Sorrindo diria:

Eu construí!

Não fui triste de morrer
Nem feliz
Por mais de uma semana
Ainda que tão pouco refrigério
Fosse aquela felicidade
Feita de ilusão
No fim das contas se conta
Subtraindo na soma
Do pesar

Foi um viver por aqui estar...
Que jeito há
Senão viver?

Uma nuvem branca passando no céu despercebida
Um caminhar sem ter aonde ir
Uma pergunta no ar:

Qual razão de existir?

Fosse uma estação
Diria Outono...

Fosse uma canção
Diria uma Bossa-Nova
Daquelas melancólicas
De fossa, nostalgia
Lembrando tardes vazias
Depois de um carnaval que se finda

Fosse uma partida de futebol
Diria um zero a zero
Sem perigos de gol

Fosse uma nota
Diria um cinco

Se me perguntassem o que achei
Diria mais ou menos

Caso fosse a pergunta
Valeu a pena ter vindo?
Diria não sei

Decerto
Não foi a vida que queria
Foi como um famigerado ruminante
Apenas mais um
No imenso rebanho
Ruminando um naco de capim
Filosofando
Com os olhos postos
No pasto cercado
Um pouco detrás
Do matadouro

Aquelas questões filosóficas
Lugares-comuns
Clichês
Vindo à tona:

O Nada
O Sem Sentido
O Absurdo

Qual razão
De toda essa grande droga?

No entanto
Minha sina
Ainda deu pra ser vivida
E não havia mesmo
Outra saída...

Como um cacto vicejando no deserto
Mas por bem pensante
Adaptei-me ao estéril
Cri no etéreo
E sorri quando pude
Sem graça, confesso

A tudo fui levando
Tão somente porque existo

Algo ao meu gosto
Aqui e ali
Garimpando encontrei...

Um bom livro...
E outro...
E outro...
Uma biblioteca inteira...

Virando páginas
Vi tanta coisa
Que me deu alívio
Nessa vida sem colorido!

A história da humanidade
Sempre foi uma árdua luta
De dor
Pouca felicidade
E muita loucura

Tudo tão no superlativo absoluto extravagante
Espantoso aos olhos gritante
Vomitado por bufões dementes
Entremeado por espasmos de cavaleiros andantes
Que ainda com aquela pontada de dor conseqüente
Encontrei um manancial de alento
Entricheirado no passatempo ao meu grado

Afinal, um mundo interessante...

O que seria de mim
Sem os livros
Sem a cultura?

Essa deusa que me concedeu
Ao desprezo que a vida me deu
O poder
Desprezar um tanto a vida

Deu as costas para mim
Eu para ela
Estamos de mal

Viver eu posso sem a vida
Há o mundo intelectual
Do qual
Sou afeito

Trilhando tortuosa senda
Margeada de árvores ressequidas
Sob o Sol causticante
Cruzei a campina
Avistei pomares
Onde colhi maduros frutos
De exuberante Literatura

Deparei-me num bosque
De solitude e rigores, é vero
Mas de cenário ameno
Existindo no intelecto

Nele fiz morada
E tão cheio de viver a sós comigo
Compreendi que me era fundamental da alma
Ser bem rico
De modo que eu me bastasse
Fosse meu próprio abrigo
Água, alimento
E válvula de escape
Pro instinto

Assim
Em mim
Ajuntei tesouros
Invisíveis

A vida continuou
Sem ser boa nem má
Não foi das melhores
Nem das piores

É fato:
Não foi a vida que quis
Não fui feliz...
Mas sabe de uma coisa?

Dos males o menor
Também não fui tão triste
Daqueles que o diabo sente dó
Poderia ser pior

Sentei-me à mesa
Meu manjar veio frio e insosso
Sem sabor
Com gosto de isopor

Ao lado um copo de água
Da torneira

Mas tive meu prato
E o que beber...

É nefasto
Mas sempre
Meditar sobre a miséria alheia
Num mundo de mazelas tão colossais
Nos faz um certo bem
E temos consolo
Rindo sem tino
De piadas
De humor negro

Então
Dei meu jeito
Cacei com gato
Comi pedra e areia
Encontrei água no lodo

Adaptei-me ao deserto
Procurei algo ao meu gosto
Encontrando me entretive
Passando o tempo
E a vida fui vivendo...

No fundo
Não nego
Entranhou-se em mim
Aquela sensação
De desperdício, lástima
Pelas coisas – ah! Tão belas! Ah! - que poderia ter vivido
Da forma como sonhei
E não as vivi
Somente as sonhei
Enquanto passavam por mim
Ao alcance das mãos
Desejosas em serem colhidas
No entanto
Não pude sequer tocá-las

Esse pesar dói, sangra...
Mas não mata
E estou vivo...

E o destino de todos
Não importa
É o mesmo...

Tão logo as flores murcham
E seremos pó
Esquecidos
Havendo a passagem
Sido malquista
Ou de bem-aventurança

Ao menos
Para quem tem
Olhos
Ouvidos
Ou ainda algum sentido
Pode-se ver o Sol nascer sobre o mar
Sobre os campos
Ou por detrás das montanhas
Num dia límpido

Pode-se ouvir os pássaros silvestres cantando
Em algazarra nos pomares carregados
Ou o canto das ondas marinhas
Lambendo a praia

Pode-se sentir o ar matutino
Das serras verdejantes
Entrando no corpo humano
Tomando os pulmões

Pode-se sentir a textura das pétalas de rosas
Ou do pêlo dos dóceis animais domésticos

Pode-se sentir o repouso benéfico do sono
Quando dormimos

Pode-se sentir o perfume
Das primaveras

Pode-se sentir na pele
O calor do Sol aquecendo
E o frescor da brisa
Dando alento

Pode-se sentir o gosto
Das frutas maduras
E sentir mesmo prazer
Na água límpida
Escorrendo na garganta
Ou banhando nosso corpo

Pode-se sentir
O Amor de alguém – ou de algum cão ou gato
Por nós...

Isso tudo é a vida!

Não só a conta bancária...
Aquela moça bonita...
Aquele Amor que não deu...
Viagens não sei pra aonde...
Noitadas...
Festas...
Farras...

Não só aqueles sonhos
Que não podemos realizar
São a vida...

O Sol é a vida!
A ar puro das manhãs é a vida!
A Lua é a vida!
As estrelas são a vida!
As flores são a vida!
Todo o verde é a vida!
A chuva é a vida!
O mar, os lagos, os rios são a vida!
Os animais das florestas e das águas são a vida!
A música e os sons da natureza são a vida!

Tudo é vida!

O que se dirá então
Ainda temos a Arte
A cultura...

O pesar depende
De onde fixamos nossos olhos...

De um lado tudo é cinza
Do outro dourado
De um lado desterro
Do outro refúgio

Se nalgum ponto não se encontra a felicidade
Ande mais um bocado
Procure além
Abrindo bem os olhos
Aguçando os ouvidos

Tão somente partir em busca dela
Já é um grande bem
É a jornada
Enquanto o parar
É a morte, o nada

Talvez não a encontre
Como eu que tanto digo...

Mas saiba
Felicidade não é isso ou aquilo
É um estado de espírito
De quem
Dá valor no que tem

A grande lição:

O que temos vale bem mais
Do que tudo o que não temos

- Sem comparações, nem de longe! -

Por que então tanto se lastimar
Pelo que não se tem?

Reflita...

Talvez ainda assim
Embora não seja triste
A felicidade não encontre
Nem realize aqueles sonhos tão acalentados
Como eu
Que tanto digo

Mas tenho convicção
Encontrarás a paz
O equilíbrio
A compreensão da vida
E algo que para ti
Seja bom

Sempre dizem:
Isso é sabedoria!
É pé no chão!

O resto é quimera
Que vendem
Os mercadores de ilusão

Queira
Pense positivo
Peça
E consiga
Isso...
Vende na banca da esquina!

Não tem segredo
O Segredo
É enganação!

Não existem tábuas de Moisés
Com os dez mandamentos da felicidade
Nem tampouco eu sou o profeta
Pregando a salvação

Mas a vida, compreenda
É TUDO
Não meia-dúzia de coisas definidas
Se não tem isso
Há aquilo
Se não se encontra aqui
O que se busca
Há de se encontrar lá
Ou em algum lugar

Se algo é ruim
Outra coisa é boa
Se algo nos entristece
Outra coisa nos alegra

Procure e faça o que goste
Dentro do que se pode...

Pense um bocado!

Cada pessoa é única
Não existem fórmulas
Nem receitas

Uma caminhada ao amanhecer ou cair da tarde
Pela cidade
Ou num belo parque
Ou areia da praia...

Um passeio de fim de semana
Eco-turístico
Numa cidadezinha próxima
Daquela bucólica
Na zona rural...

O verde faz tão bem!

Filmes, TV, música, livros
Um jogo de xadrez...

Um punhado de bons amigos
Gente interessante...

Artesanato, pintura, escultura, escrever
Algum esporte
Ginástica ou hobby

Espiritualidade!
Em casa consigo
Ou nos recônditos
D`alguma igrejinha por perto...

Tanta coisa boa nesses meios...
Fraternidade, lições, cantos...

Ter sempre em casa
Na medida do possível
O que se goste:

Flores em jarros...
Alguma fruta que muito apreciamos...
As músicas que gostamos
Bem à mão

Nosso lar e, principalmente, refúgio no quarto
Sagrado
Bem do nosso jeito
Como podemos

Mesmo decorar a casa
Pô-la com a nossa cara
É algo que pode nos dar
Muito prazer

É nosso castelo
Que construímos...

Comprando num mês um quadro
Noutro uma estatueta pra estante
Além mudando o lustre da sala
Depois comprando um tapete com belos desenhos bordados...
Um móvel novo...
Um artigo qualquer de decoração...
Repintando a casa...

Uma saída à rua na noite...
Pra ver nova gente
Buscar diversão
Uma paquera
Um namoro

Se algumas dessas coisas
Não se encaixam
Não dão certo
Há muitas outras mais
No âmbito da simplicidade
Das coisas bem simples

Pense!

Encontre o que goste, o que lhe entretém agradavelmente
O que lhe faz bem e lhe é possível

Se empenhe nisso
Porque é importante!

Quanto mais coisas que gostamos fazemos
Mais gosto pela vida temos
Mais ela nos prende

Assim surgiram
Os grandes artistas
Os grandes desportistas
Os grande alguma coisa...

Tamanho gosto tomaram por algo
E nele se encontraram
Que se tornaram
Gênios no ofício

Menos, menos...
O apenas lhe entreter em seu tempo
Agradavelmente
Enchendo a vida
É um bem pra saúde
Mas se dedique!
Leve a sério o que gosta!

Não vendo fórmulas
Mágicas
Do pense positivo e conquiste
Nem sou feliz, feliz...
Já o disse!

Também não sou triste!

Sou alguém
Que viu uma multidão de sonhos
Tomarem o bonde sem mim
Partirem

Pra quem a vida não foi
Um pálido facho
Do que desejava

O que poderia ter sido é um martírio
Já o disse, me confessei

Sou alguém comum
Como tanta gente
Nesse mundo estranho

Se não sou feliz
A tristeza em mim não dura
Não cria raízes
Nem me rouba o riso
Por alguma coisa à toa
Mesmo que me venha no rosto
Amarelo, sem graça
Vem
É o meu jeito
Rir ainda com meu riso
Faz bem
Rir sempre faz bem

Do bom humor eu digo:
Não abro mão
Sou divertido
Piadista de improviso
Espirituoso
Palhaço de picadeiro
Invisível

O mais intrigante:

Zombeteiro
Do mundo inteiro
E de mim mesmo...

O que somos senão
Abelhas zunindo?

Bufões embriagados
Pela ilusão do carnaval momentâneo?

Afinal...
Do que tanto falei...
Felicidade existe
Ou é mero entorpecimento?

Há que se discernir bem as coisas...

Paz no sentido amplo
Não é momento
Não é maré cheia ou baixa
Não é bonança nem vaca magra
A paz independe de tudo
Do que nos dá o mundo

A felicidade
Sempre depende de alguma coisa
Ou coisas
Daí o perigo
A incerteza
A inconstância

É feito uma colheita
Se não vem a chuva
O plantio estraga

A felicidade é um ópio
Atraente, desejado
Todos querem, eu também
Mas a paz
Vale mais
Não é questão
De se escolher uma coisa ou outra
Que se tenha as duas
Mas o que levo em conta
É a solidez do bem

Há um milhão de coisas na vida
Que não deram certo pra mim
Coisas que não vivi, nem viverei
Sonhos que não realizei e sei
Não realizarei

Mas o pouco que tenho vale bem mais
Do que todas essas coisas juntas...
E não me custaram nada
São de graça
Ou me vieram do esforço aonde vinguei

No fim, me amoldei, me adaptei
A história da vida na Terra
Sempre foi assim

Há vida na floresta
Há vida na água
Há vida no deserto
Há vida no alto
Há vida no baixo
Há vida dentro
Há vida fora
Há vida no frio
Há vida no quente
Cada qual adaptada
Ao seu ambiente

Resistir, sobreviver
É a lei da vida
A nós que temos mente
Nos adaptando
A façamos atraente
No melhor que podemos

Assim não seremos tão somente
Uma bactéria resistente
Um cacto vicejando na rocha estéril
Não pensante
Nem tampouco
Seres lamuriantes

Queixumes não mudam as coisas em nada
Para melhor
Sequer as deixam como estão
Somente pioram
São boomerangs
Que se voltam contra nós

Sempre há algo bom
Ao alcance das mãos
Se estas não estiverem tão empenhadas
Em se auto-flagelarem
Por não haverem alcançado
O que não deu

Enquanto o menino chorava o leite derramado
Todas vacas leiteiras que haviam no pasto
Morreram
Ele chorou e chorou
Enquanto o suco de laranja que havia
Estragava
Quando se pôs a chorar a perda do suco
E se demorou
Todas laranjas da dispensa
Apodreceram
Ele chorou de novo
Enquanto as laranjeiras dos campos definharam ressequidas

Chorando enquanto
A última gota de água do regato secava
Morreu de sede o coitado
Bebendo as derradeiras lágrimas

Não cuidou do que ainda tinha
Embaçados os olhos pelo pranto inútil
Não viu o que poderia...

Como tudo muda
Após refletirmos profundamente
Em frente e verso
Prosa e poesia
Quando eu me for
Desta vida
Direi comigo:

Não foi feia nem bonita
Não foi doce nem amarga
Não foi leve nem pesada
Não foi cinza nem colorida

Afinal...

Eu era feliz e não sabia!



Rob Azevedo







quarta-feira, 23 de abril de 2008

Miserabilis




Miserabilis




Fiquei sentado
Na beira do caminho
Esperando o bonde...

Ele não veio
Fodeu!

Mil planos desfiz
De sonhos dourados
Juvenis

Adiei tudo
Para o futuro
Bem distante...
Quem sabe Deus
Um dia virá...

Olhei pro céu...
Nuvens encobriram o Sol
Trovejou
E choveu...

Eu na estrada
Começando o caminho
Sozinho
No meio do lamaçal

Parei
Sob a chuva caindo
Num descampado no fim do mundo
E vi
Meus sonhos passarem
Sem mim
Troçando
Rindo

Passaram-se anos também
E cadê o bonde
Que tanto esperei
Em vão
Será que não veio
Ou cheguei atrasado
E se foi?

Fiquei pra trás...

A lama era tanta
A cada passo mais me afundava
De corpo inteiro no nada

Quando o bonde se vai sem a gente
Tudo morreu
Sem enterro nem vela

Um morto-vivo
Esperando
Passar o tempo
Dar a hora
De ir embora
Pro além mundo
Sem glória
Nem história
Feliz
Na pele sentida

Frus
tra
ção

Maldito mundo cão!

Por que não se abriu o chão
Tragando esse amontoado
De carnes
E ossos
Sem alma
Nem coração?

Ah! Meu Réquiem
Queria eu antes
Que naqueles tempos
Houvesse sido ouvido

Melhor, melhor...

Do que viver
Fazendo hora
Até que badalem os sinos
E eu vá embora

Quisera eu
Nunca ter nascido...

Melhor, melhor...

Do que entender este mundo
Como um lugar
De expiação...

Frus
tra
ção

Meus sonhos se vão
Sem mim
Troçando
Rindo



Rob Azevedo





quinta-feira, 17 de abril de 2008

Dá-me Alívio




Dá-me Alívio
(É uma letra de música no estilo Bossa-Nova - Tom Jobim e cia - para ser acompanhado o canto por um piano.)



Ela é tão linda
Tão linda
Não há poesia que diga
O quanto
O poeta de Amor suspira
Ó vida!
Encanto!

Ela é tão linda
Menina
Tão linda
Em noite de luar na orla marinha
Do Rio
Seu riso
É minha falta de siso
Eu perdido, menino

Ó Meu Cristo
De braços abertos
Desce do alto
Do Corcovado
Vem e me socorre
Corro perigo
Meu coração tão aflito
Morre em suspiro

Vem Meu Cristo
Me socorre
Corro perigo
Meu coração aflito
Morre em suspiro

Ela é tão linda
Quanto o Sol
Amanhecendo
Sobre o mar
No meu Rio

Montanhas, o verde
Palmeiras
Eu canto
Delírio

Ela é linda demais
Tão linda
Não há poesia que diga
O quanto
O poeta de Amor suspira
Ó vida!
Encanto!

Dá-me alívio
Olívia
Dá-me alívio
Olívia
Dá-me alívio
Olívia

Dá-me alívio
Olívia
Olívia
Olívia



Rob Azevedo






domingo, 13 de abril de 2008

Um Canto Para O Tibet




Um Canto Para O Tibet



Om Mani Padme Hum
Ahum
Som
De armas de fogo
Disparando no topo
Das cordilheiras íngremes
Do Himalaia

As neves caem
Brancas
Pombas voam
Brancas
Nuvens cobrem o céu
Brancas
Lírios se abrem
Em pétalas brancas
E ninguém vê
O alvo sinal da Paz

O vermelho sangue
Vem do leste
Inundando o Tibet
Na força
De um bilhão de habitantes

Ordens são dadas
Soldados marcham
Disparam armas

Na bandeira o emblema
Que move a marcha
Rumo à cordilheira:

A cor do sangue

Vindos das entranhas
Da intolerância
De séculos e milênios
Que não se apagam
Soldados marcham

Ó infame tirania
Imperadores
Samurais das trevas
Tanques de guerra
Fuzis e baionetas!

Nossa cidade
Não é proibida
É Flor de Lótus concebida
No Jardim da Paz

Nem muralhas de pedra a cercam
Porque não somos guerreiros
Que dilaceram peitos
E seguem marchando
Sobre cadáveres de irmãos

Renegamos trincheiras, barreiras
Contra inimigos
Semeando a Paz
Estendendo a mão

Toda alma
Seja bem vinda
Quando em si não abriga
Dragões
Da maldade e discórdia

Vinde serena
Límpida
Como água cristalina
E sente-se à mesa
Repartiremos contigo nosso pão

Ofertaremos de bom coração
O humilde teto
De todo e qualquer monastério

Cale-se fuzil!
Torna-te branca da Paz
Vil bandeira sangrenta!

Tornem-se fardas
Mantos
Soldados
Monges

Brados de guerra
Nosso mantra:

Om Mani Padme Hum
Ahum
Mestre Iluminado
Ensinando a compaixão
Por todos seres vivos

Om Mani Padme Hum
Ahum
Lugar sagrado
Sangrando
No teto do mundo
Chamado Tibet



Rob Azevedo







Foi o Vento




Foi o Vento




Quem foi que levou Meu Amor?

Foi o Vento!
Foi o Vento!

Quem foi que me trouxe a Dor?

Foi o Vento!
Foi o Vento!

Ó deus Éolo uivante
Os ramos das árvores se pedem
Esvoaçando verdes folhas
Ondas do mar se levantam
Estouram na praia e rochedos

Fogem velozes as nuvens do céu
Ao léu distante depois do horizonte
Bem além do farol

No cais do porto alvoroço e medo
Uma menina chora
A mãe ora nas contas do terço

- Ó Pescador de Almas!
Velai por nossos marinheiros
Singrando mares em veleiros
Buscam o alimento dos filhos


Arredio o Vento não ouve
Enfurecendo as águas
Açoitando matas
Destelhando casas
Cruza vales e montes

Poeira das estradas
Barulhentas latas
Velhas páginas
De jornais
Seguem caminho
Aonde o Vento vai

E ninguém
Ninguém sabe aonde
Vai o Vento
Com tanta pressa...

No alto da igreja
Uma portinhola aberta
Bate e o Vento leva
Hinários do Nosso Senhor

Noutras janelas
De casas de paredes caiadas
Cortinas caramelo
Esvoaçam onduladas

Derrubam vasos de plantas
Voam papéis

Quando vem o Vento
Em vendaval
Tudo sem dó devassa
Sem destino, afoito, ligeiro
Uivando
No matagal
Sob a força curvando
Com medo e respeito

Roupas quarando no varal
Bandeiras na praça central
Moinhos às margens da ribeira
Bambuzal
Arrozal
Canavial

Sob o Vento
Todos tremem tementes
Se atiçam
Curvam, giram, voam

O Vento uivando
Num rompante de ira
Uma canção me inspira:

Quem foi que levou Meu Amor?

Foi o Vento!
Foi o Vento!

Quem foi que me trouxe a Dor?

Foi o Vento!
Foi o Vento!

Ó deus que esvoaça
Minha cabeleira enquanto canto
Se tudo que há levas
E levaste, também, de mim Meu Amor
Trazendo-me a Dor
Arremessa em tua força meu corpo
Ao mar bravio
Cinza, sem cor
De encontro ao rochedo

Se viver desalmado
Me é por demais pesaroso
Que se partam meus ossos
E sejam tragados
Por redemoinho assombroso

Quero antes
O destino nefasto
Ao ver em vida meu canto
Espalhando lamento
Calando mesmo
O uivo do Vento




Rob Azevedo





quinta-feira, 10 de abril de 2008

Meu Ar




Meu Ar




Eu preciso, por favor
De um balão
De oxigênio
Porque essa mulher quando passa
Me deixa sem ar
Ai, não respiro!
Viro pedra
Estátua de mármore
Estática
Pálida

O mundo pára...

Por fora, é assim
Dentro de mim
Meu coração
Bate
Bate
Bate
Feito um tambor

Bate coração
Bate coração
Bate...

Por causa do Amor...

De tanto bater
Estremece
A estátua de mármore
E bambeiam as pernas...

Mãos tremulam
Feito bandeirolas ao vento...

Ao ouvido o canto
D`algum anjo
Enviado por Eros...

O peito arde...

A visão se embaça...

A vida se enche de graça...

Mas por que
Meu Deus
Roubaram-me o ar?

Se tão docemente
Em prece confesso
Tudo o que quero
É te amar...

Afinal...
O que me importa o ar?
Esse elemento sem o qual
Ninguém vive...

Levem-no de mim
Tu jamais...

És minha vida
O ar que respiro
Sem ti não vivo
Meu Jasmim
Caminho dourado
Rumo ao infinito



Rob Azevedo





segunda-feira, 7 de abril de 2008

Olhos do Amor




Olhos do Amor




Toda vez que te vejo
É com outros olhos
Aqueles que não miram ninguém
Além de você
São os olhos do Amor

Toda vez que te vejo
Percorre em meu corpo
Do início ao fim
Um arrepio

Respiro, suspiro, transpiro
Poesia

Meu dia
Se inunda de alegria
Vem em meu rosto
O sorriso

Meu coração
Canta feliz
Cheio, transbordante
A canção que fiz
Pra outro coração
O teu

É tão simples
Só diz
Três palavras:

Eu Te Amo!

Tenho olhos
Que só olham
Através do Amor
Estes
São teus
Não enxergam mais ninguém

O que acontece
Quando te vejo
Se você soubesse...

A graça
Que vem de ti
E me endoidece

O encantamento
Que me inunda
Em cada pêlo

Amanhece
E acordo
Pensando em nós

Entardece
Sem eu e você
A sós
Tudo entristece

Anoitece
Faço uma prece
Por teu nome
E passo a noite insone

Há um lugar vazio
Ao meu lado
Que só pode ser ocupado
Por Olívia Sampaio

Conversar com as paredes do quarto
É tão chato!
Coisa de poeta apaixonado...

Hipnotizado
Da ponta do cabelo
À raiz da alma
Miro teu retrato
Enfeitiçado

Pego uma folha branca
E escrevo um pouco
Do que sinto
E me deixa louco

Só te quero bem
E a mais ninguém
Nem coisa alguma
Você me basta
Não desejo
Mais nada

Porque só você
Enxergo
Com os olhos do Amor
De resto
O mundo é folha branca
Sem nenhum verso

Com o travesseiro converso!

Nas palavras tropeço...

Da noite me despeço...

Vem amanhecendo o dia
Na rotina
Da minha sina:

Amar
Suspirar
Sonhar
Do nascer ao pôr do Sol
Atravessando madrugadas
Compondo poesia
Inspirado em Olívia



Rob Azevedo








Jasminum Polyanthum




Jasminum Polyanthum




Teu sorriso
É a coisa mais linda do mundo
Muito além do que pode ser dito
Em mil poesias
Sou eu sem tino
É o meu suspiro
O coração batendo fora de ritmo
E esse brilho que trago no olhar
É algo que me rouba o ar
E me dá felicidade

É a pureza
A inocência
A boa criação dos pais
Numa vida cheia de valores
Elevados
E sonhos altruístas

Teu sorriso é alento aos meus dias
É você menina
Linda
Como Deus te fez

E sou eu assim
Esquecido de mim
Bebendo dos teus lábios que sorriem
O gosto por viver

Ah! Quem me dera!
Embriagar-me da tua boca
Sem ar, sem ar, sem ar
De Amor perdido
Beijando o infinito

Ah! Quem me dera
Meu Jasmim!
Tomar num gole
O cálice do teu sorriso

É tão bem que te quero
De um Amor tão puro
Gratuito
Nessas horas vazias
Contemplativo

Um quadro com teu retrato na parede
É o meu portal dos mundos
Desse em que sou um errante sonhador
Para aquele
Onde sei que você existe
E me faz trovador
Por força do Amor

Só queria
Que soubesse
Ao menos um verso
De toda poesia que tenho escrita
No profundo de mim
Pra você Meu Jasmim

Esse verso
Dito por minha alma em teu ouvido sussurrando
É Eu Te Amo!

Eu Te Amo!

Eu Te Amo!




Rob Azevedo





Jasmim




Jasmim




És a flor
Mais bela do jardim
Aquela por quem
Não paro
De compor poesias
Se me calo
Quando contigo me deparo
Bem mais alto falo
Com a voz do coração
Esse que é teu
Se o quiseres...

Amor, te amo
Não importa o tempo
Poesias vou escrevendo
O que sinto confessando
Que não se leva pelo vento
Nem escorre pelos dedos
Feito água
É paixão gravada
Na alma
Espontâneo sentimento
Gratuito
Sem contrapartida

Em contemplação
Naturalmente te amo
Te quero, se me quiseres
Caso não
Te amo ainda assim
Meu Jasmim
Só não te preocupes com nada
Meu Amor é de graça
É semente que brota
Aqui dentro
No encantamento
Que vem
Em sonho cor de rosa

Ao Sol da tua companhia
Floresce noite e dia
Enraizado à beira do regato
Alegria
Por amar alguém tão bela
Tanto quanto
Um Jasmim



Rob Azevedo