quinta-feira, 28 de junho de 2007

Alta Tensão




Alta Tensão



Nas manchetes dos jornais
O amor enlouquecido
Derrama rios de sangue:

A delegada graduada
Da Delegacia da Mulher
Dispara tiros
Mata o amante.

Rompeu o namoro
Jaz morto!

O armador grego
Milionário
Atirou do iate
A noiva
O motivo ninguém sabe
Por que um cadáver
Da elite proeminente
Veio dar à praia.

Funeral com pompas
Choro e vela
Um bando de paparasis.

Quem no ombro dos pais
Da jovem enterrada
Inconsolável se lastimava
Era o assassino
Teatral e frio.

Um playboy sedutor
Sempre alinhado
Na última moda
E carro importado
Presença constante
Na hight society carioca
Por todas cobiçado
Bebeu dois drinks
Sentiu ciúmes
Fez cena na boate
Discutiu com a namorada
E foram embora
Num Audi cantando pneus
Avançando sinais.

No dia seguinte
Estampado nos jornais:

Bateram boca, se agrediram
A filha de magnata
Empurrada da cobertura
De condomínio na Barra

Tem hora marcada
De sepultamento
No Jardim da Saudade.

O galã conquistador
Em coletiva à imprensa
Disse somente:

Matei por amor!

A reitora da universidade
Quem entende?
Catedrática
Poliglota
Tão respeitada
Conhecia meio mundo
E cidadã exemplar.
Vinda da Filadélfia
Do seminário de bioquímica
Decorrido cinco dias
Com doze facadas
Assassina um aluno
Do segundo ano de Informática.

Um romance proibido
Nunca imaginado
Ele, menos da metade
Da idade da reitora
Ela esposa
Do vice-governador.

Personagem da mídia mundial
Quem diria
Nome carimbado
No cenário do futebol
Gozando os louros da fama
Abandonado por seu amor
Atirou-se do prédio
Nem morreu
Ficou inválido
Em cima da cama um vegetal.

Homicídio seguido de suicídio
Num quarto de mansão
Telefonemas gravados
Na secretária eletrônica
Pareciam despedidas
Da vida mal quista
E dois corpos sem vida
Encontrados na cama ensangüentados.

História mal contada
Nos bastidores da política
Ou trágico amor?

Tantos casos
Todos dias
Nas manchetes de jornais
As folhas espremendo
Escorrem o sangue de corações
Em crimes passionais
Romances à flor da pele.

Na primeira página:

Marido enciumado
Mata a esposa
E filhos recém-nascidos
Depois estoura os miolos.

O bibliotecário da cidade
Homem calmo
Equilibrado
Vivia calado
Filho exemplar, nunca deu trabalho
Invade a lanchonete
Mata dezessete
Dentre tantos cadáveres
À bala perfurados
Aquela por quem sofria
Paixão não correspondida.

O amor é dinamite
Endoidece e explode
Gente de bem
Sensata
De mente analítica.

A razão se perde
O frio esquenta
Tão logo derrete
A massa encefálica.
O que resta
É instinto passional
Imprevisível
E decisões se tomam
Num breve segundo
Irreversíveis.

No coração incendiado
Não procure na Psicologia
Explicação de patologia mórbida.
Aguce os olhos
E leia com atenção a placa:


Cuidado - Alta Tensão


Em plano de fundo
A caveira dos corsários.



Rob Azevedo




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