sexta-feira, 29 de junho de 2007

O Plebeu e a Princesa




O Plebeu e a Princesa



Sonhei
Presentear minh`amada
Com castelos
De princesas
De contos de fadas

Mas que vida ingrata!
Não sou nobre
Nem príncipe
Tampouco Rei
Ou sheik árabe

Sou mero pastor de cabras
Nascido plebeu
Quando menino
No lugar dos asnos
Eu quem puxava as carroças

Ó sina malfadada!
Inteirando meus trocados
No fundo dos bolsos procurando
Encontro uns poucos centavos
Nem pagam os repolhos
Que jogam para os porcos
Na ceva da casa
De Dona Emengarda

Nos prados
Pastoreio cabras
Escondo minha dor
Nos matos que ruminam
Engordando, à caminho
Do matadouro

Ainda vão desnudas
De suas vestes
A lã vira casaco
De mademoiselle

Minh`amada
Tem sangue azul
E título de nobreza
À tarde sai à passeio
Pelas vilas
Em carruagem dourada

Colares e jóias raras
Ornam suas espáduas
Vestidos parisienses
De seda persa

À beira do Danúbio
Seu castelo de cristal
Mais alto que os píncaros
Do Olimpo

Tão alto
Que a sombra que faz
Sob o sol do meio-dia
Deixa em penumbra
Meu casebre de palafita
Às margens do pântano
Onde coaxam os sapos

Talvez eu seja um deles...
Um anfíbio mutante
Metamorfoseado em bípede humano
Nas mãos de algum deus sarcástico
E profano
Vangloriando-se o insano
De sua bestialidade

Vedes Cupido maldito
Nas ciladas em que me metes!
Por que a flecha
Lançaste logo
Em meu pobre coração?

Andava tão risonho
Pelos prados
Pastoreando minhas cabras
O alimento dividido
Com potros e vacas

Minha mãe querida
Ah, coitada!
De retalhos
Nos lixos recolhidos
Costurava minhas roupas
E dizia:


- Vedes meu filho
São vestes mais belas
Que aquelas de Salomão!



Agora
Neste prado descampado
Rumino um naco
De capim
Absorto em devaneios
Imagino de mim
Um príncipe
Presenteando minh`amada
Com castelos
De contos de fadas

Quiçá, um dia
Abandone os campos
Em direção à praia
As cabras que morram
Antes da hora!
À beira mar
Erguerei castelos
De areia
Zeloso o tanto quanto
Possa em meu coração apaixonado
Erguerei o mais belo
Castelo já visto
Em todos os reinos
Com ele
Minha princesa presentearei
Sabedor que não será derribado
Pelas ondas do mar
Nem conquistado
Por exércitos inimigos
Porque não será comprado
Por ouro algum
Nem erguido por mãos
De camponeses escravos
Mas tão somente na força
Do meu Amor
No coração de quem o castelo
Em versos oferto



Rob Azevedo




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