domingo, 30 de dezembro de 2007

Devoção




Devoção


Não, eu não te disse
Da noite triste
Sombria que existe
Quando de partida parte
Quem meu coração reparte
Nem do que amargurado senti
Sem ti ao meu lado
Sequer te contei
Tudo que imaginei
Por horas a fio
Na solidão do quarto
Têm coisas que não te conto
Por falta de coragem
Ou acho bobagem
Ainda aquele receio
De ver-me despido, indefeso
Flagrado em pecado sacrílego
Herético em delito
No recôndito
Do confessionário
Deslumbrado mirando
O crucifixo
Entre dois róseos mamilos

Guardo o segredo comigo
Do templo que ergui
Debaixo do véu
Da tua saia
O altar que venero
Dele sou servo
Devoto fiel
Encontra-se sob o céu
Do Santo Sudário
- A peça íntima que te veste -

Água benta
Nesse altar enlevo
O espírito e rezo
Nele teu cacho de uva
É Minha Santa
Hóstia, vinho e sacramento

Contrito me confesso
De joelhos entre um par de coxas
Minha fronte se coroa
Beijando a Redentora

Acaricia-me as madeixas
Ó deusa e abençoa
Teu servo devoto fiel
Que humilde vos beija
Arrebatado em transe místico
No santuário
Da carne e espírito



Rob Azevedo







sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

No reverso do clamor enche o cálice e toma...




No reverso do clamor
Enche o cálice e toma...


-> Trilha sonora


Moro numa casa pequenina, pobrezinha
Na beira do mar
Não tenho nada pra te dar
Tenho Amor
Tenho Amor
Tenho Amor

Não tem nem linho, nem seda
Ouro nem prata
Vaso de louça, nem cristais
Não tem nada não
Não tem nada não

Tem o Amor
Tem Amor
Tenho Amor

Nada o que roubar
Nem o que se guardar
Nada que envelheça
Nada que pereça
Lágrima aquela
Que te mereça

Não tem teto nem chão
Ao alto o Céu
O Sol
A Lua, as Estrelas
As Nuvens
Abaixo o purpúreo tapete
Do Meu Coração

Não tem sim nem não
Nem contradição
Luz nem sombra
Silêncio nem som

Não tem nada não
Não tem nada não

Tem o Amor
Tem Amor
Tenho Amor

Não tem janela nem porta
Parede nem compota
De doce de Pêra
Nem tem cadeira
Sequer tem cama

Não tem nada não
Não tem nada não

Teus meus olhos a janela
Da alma
Tua minha boca a porta
Nosso Amor a compota
Do doce de Pêra

No lugar da cadeira
Teu trono
No Meu Coração

Na relva à beira da ribeira
Minha tua cama
Rimando com chama
Daquela
Que não se apaga não
Não se apaga não

Sou pobre então
Nada tendo à mão?
Não tem problema não
Não tem problema não
Tenho o Amor
Tenho Amor
Tenho Amor

No Amor tenho
Inspiração
Faço uma canção

Dó, Ré, Mi...

Vejo o universo em ti
Daí a razão
É teu meu verso
Mais pequenino, singelo:

Amo-te!

No reverso do clamor


Se arrepia

Enche o cálice

!et-omA

Meu Amor



Rob Azevedo







segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Jardim Interior




Jardim Interior

-> Trilha sonora


Guardo pra ti um jardim
Onde não murcham flores
Ainda na mais prolongada
Estiagem
Nem cresce erva daninha
Ou coisa alguma devasta
Um jardim que sempre existirá
Florido
E dele as flores
Não podem ser pisadas
Ninguém
Nem nada
Que não seja as mãos
De nossas almas
Para adornar em guirlandas
Notre maison de l'amour
Pode levá-las
Dos canteiros roubando-as

Entre as fronteiras
Não viceja
A vaidade
O orgulho
A dúvida
Interesses
Jamais o mal-querer
E o esquecimento

Atravessa o tempo
Sem a tibieza de espírito, pudor
De declarar os sentimentos
Porque é dádiva
Força interior
Ainda quando jaz ferida
Amordaçada pelo orgulho
A Flor do Amor

De tudo se despe
Das pedras
Ergue castelos
Do veneno na fonte
Remédio
Do espinho que sangra
Brota vinho santo
Transbordando cântaros

Assim nada resta
De material
Que os sentidos embace
Então o milagre:

O coração vê
O que vive
Por si só
Tem vida própria
Imortal valor
Semeado, florescendo
No jardim interior
Que guardo pra ti
Amor



Rob Azevedo





FIZ DE CORAÇÃO... FIZ DE CORAÇÃO...






sábado, 15 de dezembro de 2007

Quem sabe um dia eu volte pra onde estou




Quem sabe um dia eu volte
Pra onde estou


-> Trilha sonora


Já deu minha hora
Meu Amor
Tenho que ir embora
Vem luzindo a aurora
Enxuga a lágrima
Por favor, não chora
Acaso doer bastante
Daquela dor imensa
Abraça a Saudade
Diz bom dia, boa tarde
Tem de mim piedade
Quando vier a noite

Chora o jardim
A Colombina, o Arlequim, a Rosa
Choram as nuvens do céu
Minha alma quem chora

Guarda aquele verso
Nosso Amor é eterno
Rasga aquele outro
Nada na vida é duradouro

Escuta minha prosa
Com as paredes do quarto
De quem parte com o corpo
Permanece de alma

Aguça os ouvidos
Escuta, Amor
Na sinfonia dos Sabiás
Meu coração o Tenor
Cantando
No refrão teu nome

Vê o Sol
Do alto te olhando
Sorrindo e aquecendo
Lembra o manto
De estrelas sem fim
No breu da noite

Agüenta a Saudade
Firme e calma
Conversando com o vento
Os arvoredos
As ondas do mar

Quem sabe um dia eu volte
Pra onde estou
De coração e alma



Rob Azevedo





quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Triangle Royal




_Triangle Royal_


Lençóis, travesseiros, véus
Azul-turquesa no leito
Florais e quadros do menino Deus
Tapeçarias orientais, no ninho perfeito

O H do Rei sobreposto
Aos dois Cs opostos
Entrelaçados de Catherine
Formando o D de Diane
Lareira digna de reis, lustres, vitrais
Teto cofrado, esculturas, romântica vista
Do Rio Cher

Esplêndidos jardins
Em terraços elevados
A Torre de Marques
Estábulos, hortos
Pavilhões de caça
Na imensidão dos bosques

Cenário de sonhos
Do triângulo amoroso
Ménage à trois real –
O Rei, a Rainha
A amante
Favorita do soberano

À Catherine submissa
Diante o Amor do monarca
Por todo reino conhecido
A gentileza de Diane
Em conselhos sobre a vida íntima de cônjuges
E permissões, incentivos
Para que o amado
Ao leito da Rainha se recolha
Providenciando ao trono herdeiros

Em cada ducado
Com toda pompa
Recebida a preferida
Ao lado do Rei
Catherine esquecida
Vem
Dois dias depois

Solenidades
Títulos, honrarias
Propriedades rurais e urbanas
Châteaux e obras de arte
Todo Ouro e libras
À Diane
Venerada como a deusa
Da caça e da Lua

Seu ofício
Entre todos do reino o mais rentável
Cumpre
Na alcova do Rei
Tornando-se manjar da libido

Ouro, prata, jóias
O reino aos pés...
À despeito de coquetéis irrecusáveis
Marionetes em mãos vaidosas
São coadjuvantes na peça
Quando o Amor
A ambos une

Amante ornada em diamantes
De amantes as madrugadas
O depois, o antes
Tão somente nada
Horas contadas

Prepara-te!
Como a Relicário Sagrado
Banquete do Rei
No dever e honra de saciá-lo
Banhada em leite de rosas
Perfumada, maquiada
Depilada e penteada
Por damas de companhia

Ó meretriz elegante
Da fina nobreza
Por detrás dos véus
Refulgindo a pele alva
Abre tua guarda
Oferta a relíquia
Que trazes no corpo
Aos desejos
De teu soberano

Santificado será o gozo
Em Bula Papal
Solenemente trazida
Nas mãos
D`algum cardeal

Santo deleite!
Salvação da alma! – dirá o Sumo Pontífice

Ó, Favorita!
O reino conspira
Em matéria e espírito
Práxis e filosofia
Qualquer heresia
É-nos bendita!

Abre as portas levadiças
De tua fortaleza ao Rei
Adentra-rei
Ainda que me afunde
Perdido no fosso
Que seja aquele
Bem-quisto
Entre duas alvas Camélias



Rob Azevedo








quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Diane




Diane


Diane, teu Rei, das profundezas da alma
Por ti clama, ardendo na chama
Que jamais se apaga, ainda extinta a vida
Vem ao meu encontro, ó pérola feminina!

Sobre o rio, o château mais belo
Erigido do engenho da arquitetura
Contempla com requinte e esmero
Tua fineza, romantismo, vasta cultura

És a eleita que a todas desbanca
Deusa mitológica da caça e da Lua
Enlevo do espírito em noite branca

Vem ao meu encontro por florida rua
De versos, lembranças, paixão, encanto
Encontrarás o Rei em leito de Ouro esperando



Rob Azevedo







O Lago dos Cisnes




O Soneto abaixo o escrevi inspirado no balé dramático de Tchaikovsky – O Lago dos Cisnes. Minha composição – do meio em diante - é um pequeno resumo do enredo da obra de mesmo nome do compositor russo.





O Lago dos Cisnes


Um passeio meditativo num parque
Na beleza estupendo, bosque florido
Verdejante gramado, ao Sol da tarde
Às margens do lago, cenário esplêndido

Cisnes brancos nas águas desfilam
Graciosos, serenos, sonhos invocando
No devaneio do maestro um balé despertam
De reino e feitiço, príncipe e donzela se amando

Juras d`Amor, verdadeira, eterna paixão
Artimanhas de mago, inundando de engano
No cisne negro, malevolente ilusão

Quebrado o juramento, traz o pranto
Persistem votos incólumes no coração
Que se afoga no lago pelo cisne branco



Rob Azevedo






terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Château de Chenonceau




_Château de Chenonceau_


A noite vai alta
Após o Amor com a Rainha
Para que dê herdeiros ao trono
Sorrateiro me despeço
A caminho do prazer verdadeiro
A alcova da favorita
Dona do reino
Do meu coração
A Duquesa de Valentinois
Aquela com quem
O Amor é ardente
Profunda paixão

No leito me recebe
Como Rei
Descortino os véus
Fito olhos lânguidos
Cúmplices
Flamejando desejo
Ao lado
Da favorita me deito
Nua esperando
Banhada em leite de cabras
E pétalas de rosas
Coberta por lençóis de cetim
Suplicando em voz doce
Coroarmos almas e corpos
De Amor
Inteiramente saciado

Ó, deusa serva
Dos meus caprichos
No recôndito do leito
Beije minhas mãos
E tenha a honra
De servir ao teu Rei!

Sou soberano do reino
Teu Rei e vassalo
Ó, minha dona!

Teu corpo é meu recreio
Oásis, aconchego
Perdidamente anseio
Que venha a primavera
E mudemos com a corte
Para o Château de Chenonceau
Sobre o rio Cher

Ao mais glorioso
Esplêndido
Encantador
Romântico
De todos châteaux
Da França

Aquele que vos dei
De presente, ó, deusa!

Onde nossas iniciais
Entrelaçadas
Com resplendor são vistas
Por toda parte

Memorial suntuoso
À minha devoção por ti
Símbolo da paixão
Ícone de amantes
Por Deus escolhidos

Coroa-me de prazeres
Com as delícias do teu corpo
Rendido de coração e alma
Porque destes
Sou teu Rei

Qual de todos os reinos
Haveria eu de mais amar
Senão vós em pura essência?
Ó, Duquesa de Valentinois

Mais cara que todas as terras
Da Europa
De todos continentes

O Amor com que me presenteias
Do cair da noite ao arrebol da aurora
Não tem para ti rivais

Amor sem igual
Nem amanhã
Nem outrora
Nenhum
Da mais excelsa dama
Será digno
De comparar-se
Aquele que me doa
Nas alcovas
Dos châteaux

Que venha a deusa Vênus
Ao reino
Rivalizar contigo...

Ao Olimpo
Regressará
Cabisbaixa
Tendo a deidade
Para ti perdido

Antes
Beijará teus pés
Venerando-te
Pela vitória

Nenhuma jóia
Ou prata
Nem Ouro
Paga
A glória
De vos ter
Em minha cama
Como teu Rei
Ó, Luz
Que eclipsa a aurora!

Minha coroa, meu reino
É a Duquesa
De Valentinois



Rob Azevedo






segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Maîtresse en Titre




_Maîtresse en Titre_
Omnium Victorem Vici



Entre as beldades da corte
Vem ser minha Maîtresse en Titre
No palácio acomodada
Teus aposentos soberbos
Unir-se-ão aos meus
Por túneis secretos

Tornar-te-ei Dama de Honra
Da Rainha
Em breve tempo
Marquesa
Ornada de jóias
Retratada por gênios pintores
Para posteridade
Como exuberante deusa

Dar-te-ei o ducado que queiras
Serás duquesa
Honrarias e títulos de nobreza
Brasões e libras
Renda vitalícia
Prataria e Ouro
Louça chinesa
Magnificentes carruagens
Encantadores châteaux
De Outono, Inverno
Primavera e Verão
Às margens de rios e lagos
Entre bosques e jardins
De contos de fadas

Bem vinda aos prazeres da corte!
Bailes de gala
À fantasia
Festas glamorosas
De sete dias
Celestiais banquetes
Adegas, vinícolas
Transformadas em súditos
Ofertando a safra
Mais primorosa
Solenidades
Com toda pompa
Da monarquia absoluta
Santificada pelo Papa
Incontável criadagem
Uniformizada, sempre atenta
Salões decorados
Com obras de arte
De Rembrandt a Da Vinci
Quadros, esculturas
Cristaleiras
Lustres e vitrais
Tapeçarias orientais
Dramaturgias, sinfonias
Vistas
De preciosos camarotes
No teatro real
Jogos de cartas
Equitação
Caça aos veados
Pesca
Esgrima

Passeios ao Sol
Nos pátios internos do palácio
Sob sombrinhas
Levadas por damas de honra
Jardins esplêndidos
Estátuas clássicas
Chafarizes

Trajes suntuosos
Ostentação
O reino inteiro
Aos nossos pés
De camponês a nobre
Aos cofres
Do tesouro nacional

Cada capricho
Saciá-lo um dever
Dos cortesãos

A preferida do soberano
Maîtresse en Titre
A serviço do Rei
Na alcova elegida
Pela paixão

Mesmo a Rainha
Haverá de beijar-te os pés
Dizer-te boa noite agradecida
Pelos serviços prestados
Ao monarca
Em ménage à trois real
Ao vê-la no cair da noite
Retirar-se em companhia do esposo
Ao teu aposento
De Maîtresse en Titre
Contíguo ao dela

Que enlevo à tua alma feminina
Saber que a Rainha
Com teimosia ferina
Secreto deleite de voyer
Que a alma humilha
Ainda vê teu Amor com o Rei
Ardente, extrapolando a exaustão
Todas as noites
Encharcando o corpo de suores
Através de frestas abertas
Por empregados a mando dela
Na parede que os quartos divide

Choramingando com as confidentes
Confessa:

- Ele nunca me usou tão bem!

Bastardos serão nobres
Duques e duquesas
Marqueses e marquesas
Condes e condessas
Criados pela Rainha
Como os próprios filhos

Ou como queiras
Haverá de criá-los
Também aqueles da soberana
Como teus

Nosso ideograma
Sobre os portais
De deslumbrantes châteaux

Cada súdito
Ao passares se curvará
Humildemente
Todo pedido
Dever e honra cumpri-lo

Ai de quem
Contra si se volte tua ira
Expropriação de bens
E banimento do reino?
Prisão perpétua
Na masmorra?
Forca?
Decapitação?
Esquartejamento?

És a predileta do soberano
Contra ti ninguém pode
Tudo que desejas tens

Em alcova Diamantes
Leito de Ouro
Cravejado de Esmeraldas e Rubis
Acima os dizeres:

A serviço do Rei
Só vivo através dele
Conquistei aquele
Que a todos conquistou





Rob Azevedo








sábado, 8 de dezembro de 2007

O Rochedo de Gibraltar




O Rochedo de Gibraltar


-> Trilha sonora


Alma posta
No papel em branco
Sagrado refúgio
Do poeta saltimbanco

Campos de Lírios
Altar no Templo
Picadeiro do Circo
Alamedas do Palácio

Do mundo esvaído
O passeio em versos
Vôo de pássaro
Navegar em mares

Aonde me levas
Ó, Lira de Poeta?

Ao Rochedo de Gibraltar?

Ondas espumantes em escumas
Dispersas ao vento
A maresia
Garças grasnando

Marinheiros no píer
De toca e tatuados
Ancorando embarcações
Trazendo cestos
Transbordantes de pescado

Olhos mortos
Guelras
Barbatanas
Escamas prateadas
Refulgindo ao Sol
Sobre corpos cinza
Viscosos

Peixe fresco!

Revoada de garças sibilantes
Voando em círculo
Pousando
Andarilhando com pernas
Compridas e finas
Nas beiradas
De caixotes abarrotados

Os pesqueiros balouçam ancorados
Ao sabor das ondas
Peixeiros limpam o pescado
Refletindo ao Sol lâminas
De facas amoladas

Um gato a tudo espreita
Desconfiado
Entre um e outro miado

Rosna
Serpenteia o rabo
Crava na madeira do píer
Afiadas unhas
Escorrendo
Deixando trilhas
Espreguiça
Eriça pêlos
Alisa o bigode
Se lambe
E mia

Rola e se deita
Aconchegado
Num amontoado
De cordas

Espera sua hora
Com a ansiedade dos felinos famintos
Que alguma tripa
Por caridade
Lhe seja dada

Falta ainda
Um bom tanto para o meio-dia
Ao longe alguém assovia
Canções do mar

Mãos calejadas
Pela vida
De marinheiro
Recolhendo cordas
Anzóis e redes
Empurrando barcos
Carregando caixas
Se cortando em facas
Afiadas
E corais

Peles curtidas
Pelo Sol causticante
Morenas
Da cor dos troncos
De amendoeiras

Shorts desfiados
Nascidos
De velhas calças recortadas
Camisetas surradas
Puídas
Manchadas

Pés descalços
Cobertos de calos
Couro de touro brabo

As ondas balouçam
Os últimos pesqueiros
Vão chegando ao píer
Acompanhados
Por revoadas de garças
Em febril algazarra

Ao longe alguém canta
Canções do mar
Canções de Amor
Recordando aos marinheiros
Que amar
Também é preciso

Cumprida a lida
Se vão às suas singelas casas
De paredes caiadas
Contemplando as moças
Passarem ligeiras
Rebolando as ancas
Em saias curtas
Saltitando os seios
Em decotes fartos

Detém-se nas tavernas
Na beira da praia

Uma dose, duas doses, três doses
De bebida forte
Quente
Como o Sol causticante

De repente
A cabeça gira
Um bufão
Toca cítara
Castanholas
Entreolham
Uma jarra
De Sangria

E se vão os cavalos-marinhos
Galopando pelas ruas
À beira-mar...

Se vão com estes
Os peixes-de-asas
Voando em bandos
Cruzando o rochedo
De Gibraltar

Estupenda bebedeira
Ao meio-dia
Quando a noite chega
Pós descanso
Tarde inteira
O marujo se levanta
Da cama
Com bafo de onça
Cabeça zonza
Toma um banho
Se apronta
Ajeita a barba
Põe um pano
De festa
Xadrez
Azul-grená

Água de cheiro
E preces
Profanas
À deusa do mar

E se vai o marujo
Atrás das moças
Que rebolam as ancas
Pelas vielas, nos mercados
E em passes de dança
Nos bailes
De Gibraltar

No caminho
Ancora o lobo dos navios
Nas habituais tavernas
Esvazia canecas
Garrafas
Barris

Embaçada a bússola
Sem Norte nem Sul
Segue rumo
Na esperança
De encontrar
O porto noturno...

A cama
D`alguma moça
Faceira, de olhar brilhante
Riso fácil
Vistosas coxas
Cintura fina
Ancas roliças
Seios firmes
Do tamanho
Exato
Da boca

O porto noturno
Noturno porto
Ancoradouro
No corpo
De mulher
Entre coxas
Abertas
Feito pétalas
De Perfeito-Amor

Mergulho
Na fenda purpúrea
Em busca
Da pérola

Se falasse
O Rochedo de Gibraltar
Diria que vê se amando
Estrelas-do-Mar



Rob Azevedo








sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Por Quem Suspiro?




Por Quem Suspiro?


Nas manhãs
Tardes e noites
Arrebatado o espírito
Por quem suspiro?

O nome de qual dama
Encravou-se em meu peito
Na ponta da lança de Cupido?

Por quem
Ó Lua
Arde a chama?

Minha alma clama
O corpo se revira
No leito

Mourro em suspiro...

Qual diva
Ó Céus
É razão
Do delírio?

A quem meus versos dedico?

Flores em primavera
Se abrem
Em delicadas pétalas

Beldades vistosas
Em rosas
Camélias
Açucenas
Magnólias
Jasmins
Margaridas...

Tantas flores infindas!

Qual delas
Definha meus sentidos
Torna o pranto rio
Faz da lucidez desatino
Viver morrer em suspiro?

Ó Flor, te amarei
Raiando o Sol
Vindo mostrar-me quem és

Basta um sorriso
Onde o meu nele se espelhe
Um afogar-se em olhos
Arrepiando poros

Bastam dois corações uníssonos
Entoando harpa e címbalo
Em boas vindas
Ao Amor Bendito



Rob Azevedo






O Cão




O Cão


Tornei-me um cão
Risonho
Sem alma nem coração
Lambendo o chão

Vagueio pelas ruas escuras
No frio madrigal
Entre brumas
Revirando lixo

Meus pêlos orvalhados
Abrigam pulgas
Cheiro a cão molhado

Rindo demente
Mostro os dentes
Inconseqüente troçando
Da vida alheia

Maldita a minha sina
Clamo companheiros
Em desgraça canina!

Alguém que sinta
A si tão em cão transformado
Sem pedigree, nem dono
Que venha ladrando
De quatro patas
Vadiar no breu noturno

Adeus! Correntes, coleiras, canil
São indignos de mim
E vice-versa

Sou cão vadio
Vagueando por desertas ruas
Revirando lixo
Faminto
Fatigado de amores
Que em cão me tornaram

À promiscuidade do cio
Animal instinto
Sem tino, nem dona
Cantarei minhas trovas em uivos
Ofertando-as à Lua

O Amor único
É humano demais
Num mundo habitado
Por cães

Ladrarei até o dia
Em que restabeleça a fé
E torne
A caminhar de pé



Rob Azevedo






quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Poema Sem Cor




Poema Sem Cor


Sem sentimento
Inspiração
Nem vontade
Escrevo um poema
Nasce pálido
Descamisado
Pé descalço
Sem-teto
Sem-terra
Inválido
Em pecado
Sem sentido
Faminto
Famigerado

Passo o tempo
Deslizando a pena
Sem nem mesmo valer a pena

Tantas sem-razões no mundo
Por que não um poema
Ainda que nasça mudo?

Desnudo
Carrancudo
Sisudo
Robusto ou miúdo?

Falta de inspiração
Amargura dos poetas...
Oh! Meu Deus!
Oh!
Minha pena zombeteira
Escreve poesia desinspirada
Falta de inspiração é tema
Calando qualquer dilema

Que venha um poema cinza
Vazio, desbotado
Sem nada a dizer...
Lembrará os filósofos
Em crise existencial
Diante a vida

Todos nós um dia
Não nos perguntamos a razão de tudo?
Não nos deparamos com o Nada
O absurdo
O tédio
A retina fatigada?

Tão natural do ser humano!

Então...
Falta de inspiração é tema
Calando qualquer dilema



Rob Azevedo






sábado, 1 de dezembro de 2007

Tributo a Ti no Tom




Tributo a Ti no Tom


-> Trilha sonora


Eu tenho que ir
Dindi
Nessa vida num deu pra gente
Amei, sofri
Tenho saudades
Do que não vivi
Nosso Amor não sei por que
É sombra, nuvem, vento
Água escorrendo
Entre os dedos e dos olhos
Eterno etéreo
De pedra e aço
No sentimento
Concreto armado
Castelo erguido na rocha
Fantasma no viver
Agora e aqui
Embora eu queira o que tu queres
Deus não quis
Que vivêssemos as lendas
De nossas poesias

Tenho que ir
Dindi
Vou ouvindo Tom Jobim
Se soubesses o quanto
É difícil pedir
Me deixe partir

Vou indo
Dindi
Chorando demais
Tudo que não vivi

Nossos passeios na praia
De mãos dadas
Nosso descanso na rede
Duma casinha de sapé
No pé da serra

Serenatas ao luar
Contando estrelas
Dias inteiros
No aconchego da cama
Coberta de rosas

Vou indo
Dindi
Sonhando todos esses sonhos
Contando em versos
Histórias de Amor
Contigo
Dindi



Rob Azevedo





O Crisântemo




O Crisântemo


Tan tan, tan tan, tan tan, tan tan...
Tamborilo na mesa
Ecoando no tédio vespertino
Meu nonsense musical

Espero o tempo escorrer
De grão em grão
Formando dunas

Talvez à noite
Alguma novidade
Quem sabe
Uma festa inesperada?

Nessa hora eqüidistante
Do Nada ao Porvir
Ninguém sequer lembra
Que existo

Abandonado no mundo
Soterrado entre ossos de ócio
Miro o vazio
Na folha nua da agenda

Escrevo um poema
Sentindo na língua
A alma do Nirvana...
Quietude
Ostracismo
Paz
O espaço branco...

Pareço exilado
Numa cidadela qualquer
Além da Sibéria

Se eu grito e morro
Alguém ouviria antes da morte
Meu clamor de socorro?

Acaso ouvisse
Se importaria?

O que valho no mundo?

Fatigado imagino
Valer o mesmo que sinto:

Um Nada absurdo...

Menos que um pirilampo...

Por que me cristalizei
Num ser humano?

Não poderia ser tão somente
Um crisântemo?

A vida tão menos complicada
Sem filosofias em horas vazias
Sem exigências
Nem coisa alguma

Sem dores de consciência
Nem perguntas e respostas
Mal formuladas
Sem insônias
Nem tardes entediadas

Até o monótono vazio
Imperturbável
Rotina do dia a dia
Sempre igual
Seria natural
E nenhum pensamento
Discorreria em contrário

Quisera eu ter nascido
Apenas um crisântemo
Inocente
À beira de um rio



Rob Azevedo






quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Piano de Cauda




Piano de Cauda


-> Trilha sonora


O piano soou
A última nota
O drink acabou
A luz se apagou
A porta da taverna
Rangendo se fechou

Tudo que tenho
À frente na noite escura
Sem nem mesmo lua
É uma deserta rua
De paralelepípedos
Aberta no vão
Dos amores arredios
Não obstante
Ecoam em meus ouvidos
Acordes magníficos
De outrora
Gravados
Na memória

Cães ladram
Revirando lixo
Trocando o passo
Vou-me embora
Acendendo
O derradeiro cigarro

Meu ir é tão amargo
Ocre, desbotado
Preso ao passado
Que no íntimo de mim
Pulsa o ímpeto
De voltar d`onde vim

Na taverna
Cerrada a porta
O silêncio
Abissal dos túmulos
A escuridão
Do além mundo

O burburinho
Da boemia se foi
O sorriso
O galanteio
As querelas
De Cupidos tantos
Entorpecidos
De vinho

O piano
Calou-se
No entanto
Com os ouvidos
D`alma
Ainda ouço
Os acordes
Magníficos
De outrora

Da lembrança
Levantam-se fantasmas
Num sarau noturno
E valsa

Dou boas vindas
Aos convivas
Em trajes
Principescos

Nos vitrais
Reflete-se o brilho
De colares
E olhares

Suave
Soa
O piano
Em ritmos
Magistrais

Cavalheiresco
Convido a dama
À dança
No baile
De quem se ama

Minhas mãos
Se entrelaçam em mãos
Suaves, delicadas
Como fina seda persa

No calor d`outro corpo
Embevecido me aqueço
E mãos
Envolvendo pousam
Na cintura esbelta

Dançamos
Nuas peles roçando
Aos acordes
Do piano
Em murmúrios clamando
Eu te amo

Madeixas graciosas
Perfumadas se derramam
Em espáduas preciosas
Descortinando
Duas rosas

Ao som da valsa
Olhos se fecham
Na brisa dos suspiros
A alma se entrega
No encaixe de lábios
A paixão se esmera

Tornamo-nos cada tecla
Do piano de cauda
Que rege a festa

Florida rua
De paralelepípedos
Alvos
E cor ébano
Com destino
Ao fim do infinito



Rob Azevedo








Tordesilhas




Tordesilhas


Singrando mares
Vem a fragata
Sobre ondulantes ondas espumantes
Velas abertas
Ao vento
Cruzando horizontes
À bordo, o poeta
Vem cantante
Na proa, guiando o leme

O arrebol da aurora
Reluz distante
Na ilha
De Bora-Bora

Um beijo flamejante
Do Sol dourado
No oásis
Do Amor sem pecado

Golfinhos em bando
No mar seguem brincando
Descortinando o quadro
Encharcado
De maresia

Constelações
De Estrelas-do-Oceano
Cintilam no manto
Que reveste o corpo
Do deus Netuno

A vida vou levando
De porto em porto
Sou marujo
Cavaleiro
Dos cavalos-marinhos
Tenho minha casa
No abrigo
Dum caramujo

Em companhia
Dos escafandristas
À vinte mil léguas
Submarinas
Procuro tesouros
De galeões naufragados
Em batalha...

Ânforas da Grécia
Porcelana chinesa
Dobrões de ouro
Das terras
Da Andaluzia

Canto histórias
Dos verdes mares
E verdes olhos
Azuis
Castanhos
Negros
Que em tantos reinos
De amores e devaneios
Sem permeio
Nem salva-vidas
Afoguei-me

Canto
Meu destino
Sem dona nem ninho
De encontro
A alguma ilha
Além
De Tordesilhas



Rob Azevedo






Cala-te!




Cala-te!


Cala-te!
Tenho algo a dizer:
Amo-te!
Não reclame
Deixe que eu esbanje
Meu Amor, Meu Amor, Meu Amor...
Senão amordaço
Tua boca
Com a mordaça
Do meu beijo
Roubo-te o fôlego
As palavras
Tua língua entrelaço
Na minha
Enlouqueço
Nós dois

Cala-te!
Porque amo-te
Ainda mais
Do que antes

Só existe
Uma coisa
Importante:

Nós nos amamos
E ponto final (.)
O resto
É poeira na sola
De nossas alparcatas

Ao léu
Bem longe
Naufragam fragatas
O tempo depressa passa
Então
Cala-te!
Os olhos cerre
Deixe que eu te ame
Amando te beije
E transborde o cálice
Enquanto
Teu rancor se cale



Rob Azevedo





segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Desatino




Desatino

-> Trilha sonora


No desatino
Do instante finito
Recebo-te em meus braços
Recaindo
Entorpecido do vinho
Do Amor que sinto.
Rezo novena
Sei da ladainha
Da ida e vinda
Alternância
Entre as fases da lua
De riso e lágrima
Lágrima e riso.
Paixão não tem siso!
Negando-me te recebo
E bebo
Na boca sorrindo
O cálice do sofrer.
Embriaguez
Faz tudo esquecer
Num torvelinho
De frágeis ilusões
Remendando cacos
De cristal despedaçado.
O quão sou fraco!
Diante o Amor traiçoeiro
Que vem brejeiro
Numa cilada deliciosa
Apunhalar-me com a adaga da dor
Oculta em pétalas de rosa.
Em nossa história
A felicidade só dura
Até o luzir da aurora
Quando a cotovia canta
Sei que é hora
Da escuridão
Em plena luz do dia.
Essa dor que choro eu sei de cor
Tem a cor da paixão desvairada e rubra
Cega e surda
Vindo como se fora o Sol
Em promessa de verão
Incendiando os campos
Do sofrido coração.
Vai e volta
Como revoada de garças
Brancas e plácidas
Levadas pelo instinto fugaz
Trazidas pela saudade.
Pousam na costumeira deserta praça
Na ida e vinda devassada
Esgarçada, delinqüida, sem força
De clamar
Banhada em mágoa:
Não volte mais
Nunca mais
Pra mim



Rob Azevedo






Caramujo-Bruxo




Caramujo-Bruxo


-> Trilha sonora


Quando esconjuro
Meu Bem-Me-Quer
Sou caramujo
Fujo
Do mundo
De mim mesmo
Torno-me bruxo
Faço feitiço
Suplico
À Lua Cheia
Armistício
No front de batalha
Que maltrata
O coração

Nessas horas
Tortuosas
Tenho dó de mim
Do meu orgulho
Que finge e cala
Não ver
A borboleta
Entre as rosas
No jardim

De Nostradamus
À Merlin e Rasputin
Canto em trovas
O Amor de um Querubim

Ó profetas
Do além
Ajudai-me porque canto
Por saudades de alguém

Profecias
Magias
Cartas de Tarô
Lâmpada de Aladim
Bola de Cristal
Alquimia
Oráculo
São ósculos apaixonados
Nas páginas
Do diário de um Mago

Clamo a todo santo
Compaixão ao pecado
De um anjo caído
Amargurado

Penduro uma guirlanda
De alho
Na porta de meu quarto
Desarrolho
Uma garrafa de vinho
Envelhecida
Em barril de carvalho

Bebo sozinho, me embriago
Na dor que amargo
Depois abro
Enquanto oro
Uma garrafa
De licor Absinto

Na alta madrugada
No céu bailando vejo
Uma girafa
Escarnecendo
Do que dizem meus versos

Ah! Filosofia alcoólica!
Ah! Visão sórdida!
Que vem em miragem caótica
Zombar de minha prosa melancólica
Comigo mesmo em trova

Ó quimera nebulosa!
Ri de mim
Ri bastante
Ainda perto do fim
Sangrando o espinho que corta
Sinto o aroma
Do perfume de Yasmim

Senão naquela
Rósea, úmida, entreaberta
Penetro na concha
Da minha aquarela
De poeta

Nela me escondo
No bem-vindo ostracismo
Fujo
Do mundo

Fleumático cismo
Na profundeza do abismo
O quanto
Tornei-me sombrio

Mil saídas imagino
E vou-me embora pro meu refúgio...

Tenho a ilha
De Avalon
O que importa
Se eu mesmo
Endoidecido
Tranquei a porta?

Senão Yasmim
Devoro
Uma maçã!



Rob Azevedo






domingo, 25 de novembro de 2007

Minha Alma Responde




Minha Alma Responde


-> Trilha sonora


Lembro-me daquela noite
Amor
Em que aflita, hesitante
Indagaste em meu ouvido:
- Tu me amas em verdade?
Sussurrante
Como o vento
No Morro do Vento Uivante

Minha boca se cala
Minh`alma responde:

Amar-te é tão pouco
Tão pequeno
Quanto um único verso
Em meio
Aos mil e um sonetos
De Amor
Que te prometo

Não entendes
Amor-Perfeito?

Amar-te é pouco
É pequeno
É solitária pétala
No seio
Dos Jardins
Da Babilônia
Que em devaneios de poeta
Rasguei o ventre da Mãe Terra
E colhi
Para em tuas mãos
Macias te dar



Rob Azevedo






Refrão da Nossa Eterna Canção




Refrão da Nossa Eterna Canção

-> Trilha sonora


A cada dia se prova
Seja em riso
Seja em palavras
Marejadas em lágrimas:

Verus Amor Vincit Omnia

A cada rompante de ira
- Nunca mais quero falar contigo!
Entendo o tamanho da mentira
Quando sozinho durmo
Sabendo que sentes o que sinto
Prisioneiros do Amor
Vindo ligeiro
No manto da noite
Desvendar o segredo:

Verus Amor Vincit Omnia

Refrão
Da eterna canção
Que conhecemos tanto
Tão bem

Nada parte o grilhão
Do Amor que nos envolve
Nem tente
Teu coração é meu
O meu é teu
Forever

De resto
Não me arrependo
Do espinho
Da flor se abrindo

Porque a cada vez que te firo
Me vedes sofrendo
Bem mais
Do que qualquer alguém no mundo

Agora o pesar é tanto
Que aqueles que me vêem
Já vão encomendando
Meu esquife
No Jardim da Noite Triste

Para lá partirei
Cantando esperançoso
Numa outra vida:

Verus Amor Vincit Omnia

Onde beijar-te-ei
Luzindo
As estrelas
Do infinito



Rob Azevedo






O Bosque das Ilusões Perdidas




O Bosque das Ilusões Perdidas



Fui morar aonde
O Vento faz a curva
A felicidade se esconde.
Meu pranto e a chuva
Vivem em voraz disputa
De quem rega mais
Ou mesmo inunda
Os campos
De minha solidão.
Amargura e lamento
Postos à mesa
Num farto banquete.
Sou o Senhor Desencanto
Respeite meu canto
Se aquiete
Acaso desconhece
O que é o Sofrer.
Padecer de dor que não se vê
É angústia tão cruel
Que peço em súplica ao Céu -
Venha depressa
A Noite
Sem Amanhecer.
Há um lugar mais triste
Que o abismo do Tártaro
- O Bosque das Ilusões Perdidas –
Dê graças a Zeus
De joelhos em prece
Não ser tua morada
Onde tenho minha casa
Com vista para os portões
Dos Campos Elíseos
Sem que nele possa
Jamais adentrar.
Do Vale das Sombras
Ecoam meus versos
Chorando desterro
De imortal martírio o preço
Uma seta de Amor envenenada
Lançada por Cupido em meu peito
Quando era sepulcro
E jazia morto
O cerne vital da paixão.
Corpo fechado – maldição
Minha vida ilusão.

Silêncio!
Deixe as folhas dos arvoredos
Farfalharem ao Vento!
Respeite meu pranto!
Sou o Senhor Desencanto!



Rob Azevedo





sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Dor




Dor


-> Trilha sonora


Ah! Maldita Dor!
Bebi da ânfora do desengano?
Pisei nas flores
Do Jardim do Amor?
Ó Noite!
Não serás como outrora
Cântico em leito de rosas
Onde beijaria mil estrelas
Na mesma e lânguida boca
Luzindo o arrebol da aurora

Virá o Vento
Ao acaso
Bater em minha porta?

Seu canto
É meu triste lamento
Na soturna hora
Uivando

Que algum anjo
Compadecido de meu tormento
Venha visitar-me
E traga âmbar
Para ungir meu corpo
Ao deitar-me
Sozinho
Em minha fria cama
Feito lápide

Clamo
Um socorro
Um escudo
D`algum anjo
Que me proteja
Do sofrimento –

Os lençóis que ardiam em chama
Vê-los mortalha
Envolvendo meu corpo moribundo
Solitário
Sobre este
Não sentir escorrendo
Suores de Amor
Mas orvalho do sereno
Como abandonado ao relento

Ah! Maldita Dor!
Saudade lancinante que devora
Da ponta de meu cabelo
À raiz de minh`alma!

Que canto cantarei agora
Sem minha dama de outrora?



Rob Azevedo





Amar, Amor, Sofrer




Amar, Amor, Sofrer


O que seria do Amor
Sem as tempestades?
O que seria de Romeu e Julieta
Sem a morte de ambos derradeira
Na escuridão
Dum mausoléu?
O que seria da Love Story
Sem o triste final?
De Tristão e Isolda
O que seria
Sem a morte do cavaleiro
Em batalha
À beira de um rio?
O que seria
De Casablanca
Sem a despedida
Da escada
De um avião?
O que seria
Do Morro dos Ventos Uivantes
Sem as lágrimas
De Heathcliff e Cathy?
De Abelardo e Heloísa
O que seria?
O que seriam de tantas histórias
Canções e poemas
Sem a dor
Do sofrer?

O que seria
De Cristo
Sem a Cruz
Sem o Calvário?

O que seria?

Amar, Amor, sofrer...
Sagrado Relicário
De riso e pranto
Felicidade e lamento


Rob Azevedo





"Todo grande amor
Só é bem grande se for triste...

Assim como o poeta, só é bem grande se sofrer"...

(Vinicius de Moraes)






Quasar Azul




Quasar Azul


-> Trilha sonora


Dói em mim
Perfume de Jasmim
A saudade
Dói demais
Mentir
Que nosso Amor morreu
Doeu
Como a morte de Deus
O peso da Cruz
Carrego sozinho
Pela Via Crucis
Ao fim do infinito
Onde nada jaz
Tão somente adormece
E renasce
A cada dia mais forte
Que a própria morte

Quiçá em breve eu chegue
Ao fim do infinito
Onde a paixão não morre
Porque lá no destino
Meus lábios
Encontram os seus
Refulgindo a luz
Do Quasar Azul
Senão de saudades
Minha vida se finda
Em derradeira agonia
Carregando a Cruz
Da própria mentira
Que plantei no campo
Do Amor sem tamanho



Rob Azevedo






quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Tempestade de Amor




_Tempestade de Amor_

Os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades.
(Epicuro)

-> Trilha sonora


A fúria das ondas
Açoita inclemente a nau
Arremessando-a contra os rochedos
Velas se rasgam
Mastros se partem
O casco se avaria
Perde-se o leme
A nau deriva
E parece
Irremediável o naufrágio

O Mar a tudo engole
Imenso sem fundo
Escuro
Inexorável destino
Quando o desafiam
Em tormenta voraz

Qual razão de tanta ira?
O que haverá deixado
Netuno tão revoltoso?

Tempestade, Tempestade
Tua insana maldade
Esconde uma só verdade:

Aquela que cala
Sabendo que para bom entendedor
Até o silêncio fala

Ó Tempestade, não sabe a nau
Temendo que naufrague
Que és Tempestade
Tempestade de Amor!

Ó Saudade
Não sabe a Flor
O quanto
Me causas dor

Dor imensa
Sem tamanho
Mais profunda que o abismo
Do profundo mar infindo

Não!
Não é a nau pelas ondas açoitada
Que à deriva naufraga
É Netuno em paixão amargurada
Que a si mesmo se traga
Num Mar de Lágrima



Rob Azevedo







quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Por Nós Dois




_Por Nós Dois_

-> Trilha sonora


Por nós dois
De coração partido
Eu parto
Quem entenderia
O por tanto Amor partir
Senão tão somente
Um poeta apaixonado?

Qualquer pretexto é valido
Mesmo o mentir
Negando o sentir
Amor tão grande e cálido

Por nós dois
De coração partido
Eu parto
Se vivendo ao teu lado
Tão somente reparto
Pranto amargurado

De coração partido
Eu parto
Derramando o mesmo pranto
Que ao teu lado
Sem que pare
Derramo
Transbordando cântaros

Amar, Amor, sofrer...
Triste sina
Tudo em minha vida
Uma só coisa
Ninguém me entende
Nada dos meus versos
Que há tanto tempo te escrevo
Te ensina
Minha triste sina
De Amar, Amor, sofrer

Do sofrer
Somente me aparto
Se de coração partido
Sofrendo eu parto
O Amor
Que jurei a ti
Até morrer


Rob Azevedo






terça-feira, 20 de novembro de 2007

Já Que...




Já Que...


Que as outras morram
De ciúmes
Só farei poemas
Pra você
Já que...
A vida quis assim
Já que...
Jaqueline apareceu
É minha diva
Já que...
Sem você não sei
Nem mais de mim
Por Jaqueline eu vou viver
De amar, Amor fazer
No calor do seio aconchegado
Esperando
O dia claro amanhecer

Já que...
Nossos corpos se entrelaçaram
Já que...
Os lençóis desarrumaram
E no encaixe dos teus lábios
Bebo embriagado
O orvalho das manhãs
De quem amanhece
Apaixonado...

Já que a vida é bela
Para quem vive de amores
Já que em teu espírito e corpo
Sorvo o aroma de mil flores
Já que o céu é infinito
Quando rasga meu peito
A poesia que a ti dedico
Contigo ressuscito contrito
De maldito mendigo
Ao homem no Amor mais rico

Já que
É linda
A vida e você
Jaqueline em versos
Cantarei
Cantarei
Cantarei
Por nós dois
Em honra ao Rei
Que me tornarei
Quando sermos um
Longo suspiro
Abençoado
Pelo Celeste Pai



Rob Azevedo






The Last Good-Bye





The Last Good-Bye


-> Trilha sonora


Estou de partida
Para o Bosque das Ilusões Perdidas
Rasgue minhas fotos
Meus poemas
Esqueça que existi
Em sua vida
Deixe-me seguir
Meu caminho
Sozinho

Não me prenda
Não sou pássaro na gaiola
Nem repita mais
Em meus ouvidos
Forever

Encare a realidade:
Tudo um dia tem seu fim
Mesmo o Sol se apagará

Não vedes que vivemos de passado
E hoje estou triste?

Os versos que te faço
Há muito
Têm gosto amargo
Não são como antes
A pureza se perdeu

Vêm carregados de incertezas
Amarguras
Raiva

Um tanto de Amor
Eu sei
Mas daquele que corta a alma

Cabeça posta no travesseiro
Me pergunto:

O que estou fazendo?

Se tantas vezes jurei
Que partiria no cair da noite
Sendo o destino, no entanto
Seu quarto

Desatar o laço
Não é fácil
É como um vício
Na embriaguez do momento
Se perde o tino
Nos aprofundando no abismo
Mas a lucidez depois
Dói mais fundo
E me pergunto:

O que estou fazendo?

Não tente entender
Minhas razões
Saiba somente
Que as tenho

Não tente entender
O porquê da minha tristeza
Incerteza
Amargura
Raiva

Não tente entender
Nada

Não há Mea Culpa
Para nenhum de nós

Apenas me deixe partir
Livrar-me do fardo
Que pesa em minh`alma




Rob Azevedo







Será?





Será?


-> Trilha sonora


Se eu digo que te amo
Rezando, segurando o terço
De pé junto
Não me perguntes sempre:

- Me amas mesmo?

Nem negues
Minha jura
A cada vez
Que a sacramento:

- Me amas nada!

Porque assim
Me confunde
Eu paro comigo
E penso:

Será que te amo
Realmente?

Confuso no que digo
Por tanto questionamento
Acabo parando – de te amar - e pensando:

Será que realmente
Te amo?

A duvida
Contagia
Bem mais do que qualquer epidemia
Ébrio da incerteza
De tanto bater água mole
Em pedra dura
Já nem em mim mesmo
Acredito

E passo noites insones me perguntando:

Será que realmente te amo?

Ah! Dá um tempo!
Vai que me confundo
Numa dessas reuniões
À sós comigo
E de repente, duvido
Do que eu mesmo digo?

E decido:

Senão te amo
Amarei outro alguém




Rob Azevedo







Amor-Mal-Assombrado





Amor-Mal-Assombrado


Adeus
Amor meu
Adeus
O trem se foi
Eu digo Adeus
Procure os seus!
Mais triste que um Amor
Quando se finda
Só a dor
De um defunto-Amor
Para quem não existe
O descanso, a paz
Da despedida
O alívio
A redenção
Do Adeus

Adeus
Amor meu
Adeus
Procure os seus!
Amor-museu
De passado vivendo
Lembranças d`algum tempo
Quando foi bom

Toca o sino...
Faca de dois gumes
É minha sina:

Tão bom haver sido
Que me guardam
Como peça de antiquário
Apodrecido relicário
Vestígio
De um Amor empoeirado

Espane as teias de aranha!
Mate as traças
Sobre a foto preto e branco...

Aonde se foi a graça
Em meu sorriso amarelado?

Amor-escravo
Acorrentado
Ao passado
Sabe o futuro:

Amor-Mal-Assombrado

Síndrome de Hamlet
Amedronta meu espírito:

Ser ou não ser?

Eis a questão!

Ser um fantasma
Correntes arrastando
Pelo castelo
Maldizendo as chagas
Do coração maculado
Ou feliz campeiro
Colhendo entre flores
Amor-Perfeito?

O queijo
Tem gosto azedo
O vinho, amargo
Uma coruja me espreita
Enquanto morcegos silvam

O luar
Ilumina o túmulo
Uma vela
Quase ao fim
Tremula a chama
E apaga

Minha companheira
Lúgubre
Da derradeira hora
Vem voando
Zigue-zagueando
Desajeitada
Pousa em meu ombro

Ó Mariposa
Por que não vá embora?
Nem tens a doçura da rosa!

Ao menos
Teria algo das flores
Para depositar no túmulo
Do Amor-defunto



Rob Azevedo







domingo, 18 de novembro de 2007

JAQUE




JAQUE


-> Trilha sonora


O bom da vida
Muitas vezes se encontra
Bem mais perto do que pensamos.
Acalentaste teus sonhos
De paraíso de encanto
D`outro lado do Atlântico
Porque longe estava
Milhas sem fim distante
Dos olhos que tudo vê
E por si mesmo
Compreende.
Imaginavas
Não haver pobreza nem dores
Somente riso e flores...
Ah! Quimeras!
Teu desejo
Foi pousar longe
Dos teus
Das águas ondulantes
Que beijam as praias
Verde-amarelas.
Nem tanto ao mar
Nem tanto à terra...
Agora sabes:
Nossas favelas
São mais belas!
Sem hipocrisias tolas
Nem rótulos
De primeiro mundo
E nosso belo
É tão mais formoso
Que chega a ser esplêndido
Inspirando
A Canção do Exílio...

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá...


Meu Deus!
Quando partiste
Rogando em prece pedi:
Não permitas que de saudade eu morra
Estende minha vida
Por vinte dias
E quando volte a amada
Entenda:

O bom da vida
Muitas vezes se encontra
Bem mais perto do que se pensa.



Rob Azevedo






Sentir




Sentir


Descobri que um poeta
É como um cantor
Que precisa cuidar
Atentamente das cordas vocais -
Fazer gargarejo
Não tomar gelado
Não gritar demais
Evitar resfriar-se...

O poeta
No caso
Há que cuidar
Dos seus sentimentos
Porque cada verso
Reflete o que sente

No ponto extremo
Torna-se deserto estéril
Onde nenhuma flor-poesia
Floresce
Morre a cria

Cala-se a Inspiração...

O poeta
Há que sentir!

Lá vem a chuva...

Verso de ira
É meu termômetro que indica
Por qual caminho devo seguir
Qual abandonar

Ah! Quero somente os poemas de Amor!
Sem dúvidas, sarcasmos
Desilusão ou raiva...

Quero um Amor que seja
Como a folha nua
Quando deito a primeira letra

Um campo em branco
Sem histórias sendo
Simultaneamente escritas
Vindas
D`outros tempos

Sem congestionamento
Nem bate-cabeça...

Alguém que viva
Cada coisa
Ao seu momento
Nunca
Ao mesmo tempo



Rob Azevedo






sábado, 17 de novembro de 2007

Não Há Vagas




_Não Há Vagas_


Não há vagas em meu harém

Não há vagas em meu harém

Leia a placa:

LOTAÇÃO ESGOTADA!

Com dinheiro algum se paga

Nem um milhão

Nem um vintém

Não há vagas em meu harém

Beldade da Pérsia

À mais excelsa

Bacante da Grécia

Leia a placa:

LOTAÇÃO ESGOTADA!

Com ouro algum se paga

A única vaga

Exclusiva, cativa

Se encontra ocupada

À sete chaves trancada

Guardada, sacramentada

De Amor jurada

Até o fim da meada

Da vida de Deus



Rob Azevedo





F...




F...


Use
Sem que abuse
Porque o bolo
Meu Amor
Desanda
Quando menos se espera
Saiba que nunca se releva
Avisos
D`alma de quem se exaspera
E ferve
Feito panela
De pressão

Uma hora
Estoura
Já era!
Partiu o coração?
FODA-SE!


Rob Azevedo



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Minha definição do Orkut:

-> O mais eficiente detector de mentiras que existe.



Hehehehehe...






sábado, 10 de novembro de 2007

(In)farto




(In)farto

"Escravo é aquele que não pode dizer o que pensa". Eurípedes

-> Trilha sonora


Estou farto
Ao que me causa esse estado
Falta o senso de piedade
Para entender que estou farto

Tenho culpa em parte
É bem verdade
Porque me calo
Para que não cause espanto
Quebrando o espelho côncavo
De Narciso envaidecido

A imagem que tenho
De teu Alter-Ego
Não é aquela que tens
Para si

Deixe o leão rugir
Eriçando teus cabelos
Esbugalhando olhos
De estarrecimento

Ao menos
Saberás o que penso
Não vivendo junto a mim
Num mundo falso

Celebremos a verdade
De nossas hipocrisias
Inextinguíveis mentiras
De santos e santas
Do pau oco

O prazo vencido
Da estratégia que utiliza
Tão conhecida
Como a palma da mão
Minh`alma abomina

Resume-se no teorema:

Mostrar o que dá problema
Relevar o que é irrelevante
E calar-se
Quando ambos são redundantes
Em silêncio conveniente

Assim tudo adquire
Ares de naturalidade
E se confunde
Ainda nos deixa
De mãos atadas
Impondo o que na garganta entala

Ah! Minha Virgem Santa
Não me enganas
Nem te engano
Sou anjodemônio
És o fermento
Do meu aborrecimento



Rob Azevedo - VISCERALMENTE ROB!!!





Guns N' Roses - Used To Love Her


I used to love her,
but i had to kill her
I used to love her,
but i had to kill her

I had to put her, six feet under
and I can still hear her complain

I used to love her, (whoa yeah)
but I had to kill her
I used to love her, (oooo yeah)
but I had to kill her

I knew I'd miss her,
So I had to keep her
She's buried right in my backyard
(whoa yeah)
(whoa yeah)
(whoo-oo yeah)

I used to love her,
but I had to kill her
I used to love her, (whoa yeah)
but i had to kill her

She bitched so much,
she drove me nuts
And now we're happier this way, alright
(whoa yeah)
(whoa)
(whoo-oo yeah)

I used to love her,
but I had to kill her
I used to love her (ooooh yeah)
but I had to kill her

I had to put her, six feet under
and I can still hear her complain (yeah-eeeah)



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Guns N' Roses - Used To Love Her (tradução)


Costumava amá-la


Eu costumava amá-la,
Mas tive que matá-la
Eu costumava amá-la,
Mas tive que matá-la

Eu tive que a pôr seis pés abaixo
E eu ainda posso lhe ouvir reclamar

Eu costumava amá-la, (whoa yeah)
Mas tive que matá-la
Eu costumava amá-la, (oooo yeah)
Mas tive que matá-la

Eu soube que sentiria sua falta,
Assim eu tive que mantê-la
Ela está enterrada bem no meu quintal dos fundos
(whoa yeah)
(whoa yeah)
(whoo-oo yeah)

Eu costumava amá-la,
Mas tive que matá-la
Eu costumava amá-la, (whoa yeah)
Mas tive que matá-la

Ela era cadela demais,
Ela me deixou louco
E agora nós estamos mais felizes desse jeito, certo,
(whoa yeah)
(whoa)
(whoo-oo yeah)

Eu costumava amá-la,
Mas tive que matá-la
Eu costumava amá-la, (ooooh yeah)
Mas tive que matá-la

Eu tive que a pôr seis pés abaixo
E eu ainda posso lhe ouvir reclamar (yeah-eeeah)








Cinderela




Cinderela



Cinderela era aquela
Até meia-noite
Princesa encantada
De incólume castidade
Bastava o relógio soar
As doze badaladas
Em abóbora
Ela mesma se transformava
Debandando em retirada
Aos braços do leiteiro

Coitado do príncipe encantado
Onde foi, meu Deus
Onde foi amarrar a égua?

Cartas de baralho
Marcadas
Desculpas esfarrapadas
Que ninguém acreditava

Ai meu Deus
Tens piedade de mim!
Já não agüento
Fazer-me de cego
E trabalhar feito escravo
Açoitado no lombo
Para que Cinderela
A auto-intitulada
Semi-donzela
Se esbalde
Com Joaquim
José
Manuel
E mais alguém

Vaidade, vaidade
A princesa-abóbora
Fez-me vassalo
Da vil vaidade

Ai de mim!
Que tantas vezes
Chutei o balde
Em vão
Cinderela se vai
E volta
Feito excremento n`água
Aquele mesmo
Que aduba o jardim



Rob Azevedo





quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Tábua de Salvação





Tábua de Salvação



Que venham ventos, temporais
Chuvas, tempestades, vendavais
Escureça a treva a luz do dia
Minha regra será do amor a alquimia

Madeixas contra o vento desleixadas
Aderida ao relevo do corpo a roupa molhada
Se despe no mar em sutil transparência
Tragando a nau que à deriva naufraga

Como quem aos céus suplica clemência
Clamando a vida no desejo afogada
Encontro em tua alma da salvação a tábua

Refém e cativa em voluptuosa alegria
Em gratidão devotada à mulher que queria
Da liberdade perdida não sobrevém a mágoa



Rob Azevedo & Karla Julia





(Blas)fêmea





(Blas)fêmea


Ó Fêmea Virgem Santa
Desça do céu
Venha deitar-se em minha cama
Tua candura celeste
Doçura do Éden
Incólume castidade
De Mãe de Deus
Amalgama com toda vontade
Dos porões da minha voluptuosidade

Liberto sem tino
Tornei-me libertário, libertino
Libidinoso menino
Cantando em poema blasfêmia
Inconseqüente, delirante
Tão verdadeiro quanto a Verdade
Queimo dogmas na fogueira
Da Inquisição luxuriante

Ó Virgem Mãe
O que é a deidade
Sem o êxtase do gozo
Criador do Universo?

O Arcanjo Gabriel foi teu amante?

São José o marido traído?

Ah! Quem blasfema
Contra a natureza
Gerando um filho
Sem o encontro de dois corpos
Mutuamente entregues, desnudos
Um sobre o outro...

Eu blasfemo?

Ó Fêmea Virgem Santa
És mãe
Do meu fetiche
Mais secreto
Nem revelado
No recôndito do confessionário

Virgens me instigam
São sinônimos
De ebulição dos meus hormônios

Santas me provocam
Desafiam meus instintos
A pervertê-las ao abismo
Da perdição deliciosa

No coito transformada
Em Rainha Meretriz
De ponta à cabeça
Com mãos e língua
De corpo, alma, mente, coração e membro
Dos mamilos ao bendito paraíso
Um pouco abaixo do umbigo

Cidade da luxúria
Destruída com fogo e enxofre
Descido do céu
Pela ira de Deus?

Não!
Cataclismo de dois orgasmos
Masculino e feminino
Em vulcânica erupção
Ascendendo ao Divino
Em gloriosa redenção



Rob Azevedo






In(can)descente




In
(can)descente


Sorvo teus mamilos
Como quem joga no bicho
Em flagrante delito
No útero adultero

Como quem encomenda
A alma ao Diabo
Escrevo um poema
A ti dedicado

Dou um passo ao cadafalso
Sinto a corda no pescoço
E urro
Como boi no matadouro

Caio morto

No breu tenebroso
Degolo
As três cabeças de Cérbero
Adentro no Tártaro

O fogo que arde
É da cor
Do meu rubro desejo

Passagem de ida sem volta
Ao eterno tormento
Onde sou o fígado de Prometeu
Carcomido pelo abutre

Mas teu gozo em minha boca
Teu gozo uníssono ao meu
Tem o sabor do pecado
Do adultério da Mãe de Deus

Assim de bom grado
Rasgo a Escritura, me igualo ao Diabo
Num grau mais baixo
Sou um mero lacaio

A região in
(can)
descente que habito
Tem a profundeza do abismo
Que engole meu corpo
Entre o par de coxas
Da mulher que atraiçoa

Acendo uma vela
Seguro o terço
Rezo e me despeço
Encomendando num gozo
Minh`alma ao inverso
Do que dizem o Inferno



Rob Azevedo






Ode aos Escribas




Ode aos Escribas



Fala-se muito
Diz-se pouco
Escreve-se bonito
Versos ocos
Daí o por quê
Faço ouvidos moucos
Aos escribas imitadores
De Carlos Drummond

Não me acusem de pretensioso!
Vomitei até meus versos
Quando os reli ao inverso

Sem rima, nem sentido
Poesia sem nexo
Caos perplexo
A sinfonia fez-se barulho
O claro, hermético
O texto, holocausto
Meus testículos preciosos
Um par de ovos estrelados

Liberdade, claustro
Claridade, breu
Trompete, clarinete
Acordeom, gaita
Violão, guitarra

O epitáfio
- Aqui jaz -
Outdoor de show
De New Orleans

Então, caros irmãos
Não me acusem de presunçoso
Não somente os teus
Mas os versos meus
Vomitei-os da entranha
Cuspindo sangue e chama
Quando os reli ao inverso




Rob Azevedo





Nonsense Matinal ou Manhã Azarenta




Nonsense Matinal
Ou Manhã Azarenta




Café com pão
O pão
Cai no chão
Com a manteiga
Virada pra baixo

Encontro uma mosca
Varejeira azul
Boiando em meu café
Debatendo-se, coitada
Em vão
Pra não morrer afogada

Meu microcosmos
É tão trágico
Divago
Soltando
Baforada de cigarro

O leite
Virou coalhada
Fede
E tem gosto horrível
De coisa estragada

Irei aos Cafés
Do Rio de Janeiro
Beberei cerveja no gargalo
Jogarei bilhar
Farei uma fé
No jacaré
Cercando a milhar
Centena e dezena
O algoritmo
Co-seno
Tangente
E dízima periódica
Vai um
Desce dois
Pro quinto dos infernos
Já estamos no térreo
De frente
Pra Atlântica

O expresso Botafogo-Baixo Gávea
Atropela
Um puddle de madame
Que surta na calçada
Aos berros, descabelada

Minha poesia é insurgente
Contra a lógica inconsciente
Do lirismo métrico concebido
Nos versos que escrevi outrora

Reviro os bolsos
Da calça desbotada
E carteira
Procurando
Um real que seja

Resmungando com meus botões
Dou-me conta:

Fiz a conta equivocada
Volto pra casa
Ruminando
O nonsense do nada



Rob Azevedo





sábado, 20 de outubro de 2007

Diana




Diana

-> Trilha sonora


Inspiro, cerro os olhos, imagino
Relaxo o corpo e vôo, sentindo
Nós dois, sobre uma cama de rosas

Em pensamento me dôo
Pétalas no quadro pinto
Devagar se abrindo

Contrito me confesso
Tocando seu corpo
Como um violino

Meu Amor e carinho
Não se mede
Sem contar as estrelas do infinito

Tampouco meu desejo
Companheira dor que arde em meu peito
Nessas noites de solitude insone
Em que derramo nas brancas folhas nuas
Versos banhados em sangue
Dum coração ferido
Atravessado pela seta de Cupido

Que devaneios loucos, incompreendidos
Amarguram a alma dos trovadores
Quem os entenderá?
Algum William Shakespeare
Nos dará as respostas
Formulando teses onde se explique
Por que tanto Amor ao Amor sofrido?

Por que te elevei
Ao píncaro do monte mais alto
Onde já não posso alcançar-te?
Por que te vejo
Na lua refletida
E te procuro trilhando
As sendas da Via Láctea?

Vem para o chão
Meu Amor
Desça das nuvens
Abre mão de ser anjo
Desça do pedestal
Em que assentas como estátua de mármore
Idolatrada Diana



Rob Azevedo




quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Cama de Rosas




Cama de Rosas


-> Trilha sonora


Vela no castiçal
Incenso no ar
O quarto em penumbra...

Eu na sombra
Escrevendo poema

Nosso palco de Amor
Ao lado
Cama de Rosas
Em lençóis de cetim vazia
Em minh`alma inspira
Poesia

Em devaneios perdida
Minha pena desliza comovida
Em sonhos de poeta
Meu corpo junto ao seu transpira

Cantamos nosso canto
Cantando seu nome clamo
Amando meu nome clamas
Na cama que se torna chama

Mordendo os lábios
Meus lábios encontram
Nos meus os seus
Como duas mãos juntas que rezam

Da alquimia o feitiço:
Encontrar-te em mim
Quando não estou contigo
Duas almas unindo

Assim que te amo
Elevado em prece
Venerando
Purificando o espírito
Profanando seu paraíso
Em Sacro Sacrilégio



Rob Azevedo






sábado, 13 de outubro de 2007

Foto Preto e Branco




Foto Preto e Branco


-> Trilha sonora


A chama crepita
Amanhã
Será cinza
Meu peito se aperta
Dói
Tudo um dia finda
Vida
Luz do dia
Riso
Jardim florido

Outrora
Fui menino
Brinquei no pátio
De peão
Bola de gude
Roda

Joguei bola
Soltei pipa
Catei conchinha
Na praia
Nadei no mar

Daquele tempo
Sou sombra
Foto preto e branco
Com ar de medo e pranto
Desbotada
Lembrança

Como eu amo
Aquela criança
Fantasma de mim
Que vejo

Em preto e branco
Com ar de medo e pranto
No quadro

Ela
- Digo alto para que todos saibam –
Sou eu!

Tão frágil...

Segurando um brinquedo
Não queria perdê-lo!

Comprado por meu pai
Na feira
Da praça

Singelo
Uma coisa somente
Inerte
Que não responde

No entanto
Naquele momento
Era meu mundo
Alegria
Riso

Dele eu cuidava
Como meu pai e mãe
Cuidavam de mim
Com todo Amor e Carinho
Por algo tão querido

Um dia
O presente quebrou
Eu cresci
A infância findou

O rio segue seu curso...

Ainda tenho meus pais por ora
Ainda tenho
Aquele Amor...

Melancolia
Fluindo o rio
Tanta água secou
E flor murchou

Agora tudo é mais trágico
De brinquedo inanimado
À gente falante
Que sente e se locomove
Feito nuvem flutuante
Me apego

Meu brinquedo era surdo
No entanto me ouvia
Era mudo
E falava comigo
O que ouvir desejava
Pois eu quem por ele falava
Tornando-o vivo

Agora tudo é mais trágico...
Do que faço meu mundo
Alegria
Riso
Cântaro de sentimento
Se move
Por livre e espontânea vontade
Vai para onde bem quer
Diz o que lhe convém
Nem sempre
O que ouvir desejo

Ainda tem o fato
Não raro:
Me fazem de brinquedo

Agora tudo é mais trágico...

Da situação
Perdi o controle
Tenho mais medo
E ar de pranto
Que antes:

O Amor em que me ancoro
Não é o dos meus pais
Não tem
Sua duração
E verdade

Com ar de medo e pranto
Miro o céu
O Sol se põe
A noite cai

Passou o trem
Com destino
A lugar nenhum

Uma vaca mugiu...

A chama virou cinza
Meu peito se aperta
Dói

Medito:

Tudo um dia finda
Vida
Luz do dia
Riso
Jardim florido



Rob Azevedo






domingo, 16 de setembro de 2007

Razão de Tudo




Razão de Tudo


-> Trilha sonora


Manhã de sol
Um corpo ao lado
Acordo contigo
Abraçado
Aninhada em meu peito
Serena dorme nua
O descanso da noite
Cheia feito a lua
De Amor

Sou teu manto vivo
E travesseiro
Em silêncio te protejo
Te conforto, te aqueço
Enquanto dormes

Acaricio teu cabelo
Tua testa beijo
Lábios, queixo
E ponta do nariz

Ah! Sou feliz!
Porque acordo contigo
Abraçado
Aninhada em meu peito
Em contemplação te vejo
Dormindo
Serena e nua
O descanso da noite
Cheia feito a lua
De Amor

Desperto em sonho sigo
De olhos abertos
Adormecida sonhas comigo
E eu confesso:

Meu sonho mais belo
Deitado ou de pé
De olhos fechados ou abertos
É mulher e tem teu nome
Acordado ou dormindo
É sonho digno do paraíso
D`outras vezes contradito
Quando não tenho teu carinho
Afligindo me deixas insone

Mulher sou teu homem
O Amor que tenho
O inverno não esfria
Com dinheiro não se paga
O vento não carrega
O tempo não apaga
A distância não separa
O fogo não consome
Ateia a chama
Da paixão que incendeia
Corpo e alma toma

Mulher sou tua água
Alimento, teto e cama
Da minha vida é o ar
Senda que caminho
No horizonte o mar
No céu o Sol
No sertão a chuva
Das veias o sangue
Dos olhos a visão

Do meu existir o sentido
Tem um nome
Daquela que dorme
Aninhada em meu peito
Dele faz travesseiro
Do meu corpo manto
Da minha boca relicário
Do desejo encanto
Do meu beijo rosário
Onde nos deitamos itinerário
Com destino
Ao Amor Divino

Desperto em sonho sigo
De olhos abertos
Adormecida sonhas comigo
E eu confesso:

Não te esqueço
Quando à noite me deito
Quando ao amanhecer levanto
Quando no leito sonho
Quando desperto amo
Quando à luz do Sol caminho
Quando ao luar eu canto

Não te esqueço
Quando derramo pranto
Quando abro o riso
Quando escrevo versos
Quando em silêncio rezo
Quando busco o sentido
Do nonsense do Universo...

De ti eu lembro
Lembrando compreendo
A razão de tudo
Do existir do mundo
Do meu coração pulsando
Em sete notas E-U T-E A-M-O


Rob Azevedo






sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Chevalier de la Reine




Chevalier de la Reine

-> Trilha sonora


Ó Encanto da Vida
Melodia e Rima
De toda poesia
Que nasce graciosa
Da minh`alma de poeta
És o lúmen dos meus olhos
O cálice da rosa
Brilho da pérola
Flor mais bela
Com pétala
De orquídea violeta
E folha
De Amor-Perfeito

Em meu peito teu nome
Gravado eternamente
Não se vê
Ninguém o lê
Porque te guardo em segredo
Na chama que consome
Dia e noite
Sem que se apague

Da Rainha me consagro
Fiel cavaleiro
Até o fim dos tempos
Em minha cama coroada
Rainha das Rainhas
Do Amor
Da Paixão
Do Desejo
Como Rainha amada
Em cada pêlo saciada
E toda gota de orvalho derramada
Sou dentes, sou língua
Sou lábios e mãos
Cada músculo do meu corpo
A ti consagro
De alma e coração

Ser teu vassalo
Amante-irmão
No Amor abençoado
Cavaleiro devasso
É a chave que temos
Das portas do Paraíso
Onde em glória gozamos
O júbilo de sermos
Eros e Psique
Amor e Libido


Rob Azevedo






Afortunado Enleio




Afortunado Enleio

-> Trilha sonora


Ó Rainha dos meus versos
Sem segredo me confesso
Amar-te tanto e tão perdidamente
Que nada além d`Amor meu peito sente

Peregrino nas alamedas do palácio
Colhi purpúreas flores, trago-as no regaço
Para ornar-te a fronte e o leito
Onde nos deitamos, em afortunado enleio

Teu vassalo me consagro
Sacramentando causa e efeito
Canto em trovas o segredo

Da Rainha sou cavaleiro
Fiel amante-escudeiro
Homem em pêlo jardineiro - Amor-Perfeito



Rob Azevedo






Bem Pra Lá das Pedras do Arpoador




Escrevi o poema abaixo com intenção que fosse letra de música. Se dá para ser adaptado para tanto, não sei ao certo, tem-se que arrumar um músico para compor algum melodia para esses versos e ver se há como transformá-los em música.




Bem Pra Lá das Pedras do Arpoador


-> Trilha sonora


Ao Meu Senhor do Bonfim
Rogando em prece pedi
Pra te trazer pra mim
Se compadece, Ó Meu Deus, das minhas dores
Atende minhas súplicas antes do cair da noite
Devolve meu sono ao lado dela aaaaaaaa ha!
Depois do Amor ôôôôôôrrr ho!
Depois do Amor ôôôôôôrrr ho!


Eu vou bem pra lá das pedras do Arpoador
Vagando pelo meu Rio de Janeiro
Vou navegando num barquinho cor do céu
Aportando no cais da paixão
Encontro em pranto o coração
Da mulher menina que amo
Nua em pêlo me esperando uhhhhhhh hu!

Me esperando uhhhhhhh hu!


Ah! Meu Deus, à saudade eu peço
Que vá embora aaaaaaa ha!
Vá embora aaaaaaa ha!
Morra aaaaaaa afogada nas ondas
Dos lábios dela aaaaaaaa ha!

Aaaaaaaaaaaa ha!


Ó por favor, Meu Deus, Meu Deus
Ó Meu Senhor ôôôôôôrrr ho!
Traz de volta Meu Amor ôôôôôôrrr ho!
Atende minhas súplicas antes do cair da noite
Devolve meu sono ao lado dela aaaaaaaa ha!
Depois do Amor ôôôôôô ho!
Depois do Amor ôôôôôô ho!


Eu vou bem pra lá das pedras do Arpoador
Vagando pelo meu Rio de Janeiro
Vou navegando num barquinho cor do céu
Aportando no cais da paixão
Encontro em pranto o coração
Da mulher menina que amo uhhhhhhh ho!
Nua em pêlo me esperando uhhhhhhh ho!

Me esperando uhhhhhhh ho!

Me esperando uhhhhhhh ho!



Rob Azevedo








Saudade do Old Time




Essa composição abaixo eu escrevi com a intenção que fosse uma letra de música, mas não sei bem se pode ser adaptada para de fato ser uma música. Teria que se arrumar um músico para fazer uma melodia para esse poema e ver se há como ser transformado em letra de música.



Saudade do Old Time

-> Trilha sonora



A noite cai
A saudade toma a gente
Sau-da-de
Do old time

Seu nome lembro
E tomo um gole
De um drink
On the rocks
Trinco os dentes
Escrevo num guardanapo
À tinta de caneta
Um poema
Entre meus dedos crepita
A chama dum cigarro
Que me faz
Companhia
Em nuvens de nicotina
Me perco, me acho
Em cartas marcadas
De baralho

Pedras de gelo balouçam
Num copo de whisky
Me olho no espelho
Ajeito o cabelo
Tiro um Az da manga

A saudade dói
Helena
A saudade dói
Nessa mesa de bar
Tem uma cadeira
Vazia sem eira nem beira
Bem na cabeceira
Onde guardei seu lugar

Helena vem depressa pros meus braços
A saudade dói
Helena
A saudade dói
Helena
A saudade é uma dor assim não definida
Que dentro do peito corrói
Dilacera e amargura
É uma dor só resolvida
Quando estou em sua companhia

Helena vem depressa pros meus braços
Vem depressa pros meus braços
Guardei na cabeceira
Dessa mesa de bar
Uma cadeira
Com seu nome
Helena
Esperando a aurora
Iluminar a treva
Chamada Solidão
Que sem dó desterra

Vem depressa Helena
Vem depressa, não demora
Vem luzindo a aurora
Vem depressa
Nada já importa
Vem agora
Vem voando
Vem batendo as asas
Que eu te dei

Mas vem Helena
Vem depressa, não demora
Vem luzindo a aurora
Vem depressa
Nada já importa
Vem agora
Vem voando
Vem batendo as asas
Que eu te dei



Rob Azevedo







quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Transcenderemos o Tempo Em Poesias nos Amando




Transcenderemos o Tempo
Em Poesias nos Amando


-> Trilha sonora


Às vezes a gente se perde
Nos caminhos intrincados da vida
E não vê o tempo que passa
Escorrendo entre os dedos

Voltada a visão
Às coisas do mundo
Imergimos em nossos afazeres
E não damos atenção a quem amamos
Da forma como queremos

O Amor adiante
Tão perto
Clamando companhia
E o coração não responde
Da jura se esquiva
Embora nele pulse
E quase estoure
Porque o dia a dia
Voraz nos consome

As estrelas cintilam no firmamento
Lembrando promessas
De lábios se encontrando
Contando o infinito
E miro paralelepípedos
Da rua em que caminho
Contando os passos
Rumo à eternidade
Dos meus versos

Neles
O Amor fazemos
Noite e dia
Feito Poesia

Se me perco nessas ruas
De encontro aos ramos de louros
Que haverão de ornar minha fronte
Da Flor do Amor me afastando
Ó Encanto da Minha Vida
Meu Lirismo e Rima

Do profundo de mim te prometo:

Levar-te-ei comigo
Rumo à eternidade
Transcendendo a noite dos tempos
Gravados com letras de ouro
No Diário Incólume da Paixão
Ao lado dos deuses no Olimpo
Na forma graciosa de versos
Que serão lidos
Encantando corações apaixonados
Despertando suspiros
Enquanto nos amaremos
No seio do universo -

Profundo recôndito íntimo
De cada poesia
Que a ti dedico



Rob Azevedo





Extasis




~ EXTASIS ~


VEO TU CUERPO

ACOSTADO SOBRE EL TAPETE

ENTRE ALMOHADAS

LINDA Y DESNUDA

COMO LA LUZ

QUE BRILLA ALLA AFUERA

DE LA LUNA

LLENA Y DE PLATA

VEO TU RELIEVE

MONTAÑAS REDONDAS

CURVAS SINUOSAS

INSINUANTES

BOSQUES HERMOSOS

EN SILENCIO

DEL ALTO DE UN PALCO

ADMIRO ESE DESLUMBRE

NATURAL QUE ME ESPERA

OFEGANTE, INSACIABLE

POZO DE LIBIDO

TOQUE DE MIDAS

QUE LA NOCHE

TRANSFORMARÁ EN DIA

ASI QUE MI CUERPO

JUNTO AL TUYO

MOJADO COMO ROSAS POR LA LLOVIZNA

DE TANTO HABER AMADO

LLEGAR EN UN LARGO SUSPIRO

AL EXTASIS

HABRÁ ENTONCES NACIDO EL SOL

ASI COMO UNA FLOR

EN LOS JARDINS

DE MI CORAZÓN

AMANECIENDO

HASTA LLEGAR EL DIA PLENO

PODRÉ EN FIN

DECIR EN VERDAD

TE AMO!



Rob Azevedo






Nau Desilusão




Nau Desilusão



Desenganado do mundo
Ouvindo uma bossa-nova
Daquelas que afogam a gente
Na mais profunda fossa
Num dia amargo
De céu cinza
Levanto a âncora
Da Nau Desilusão
Içando velas parto
Sem olhar pra trás
Nos acordes dum violão

Onde haverei de aportar
Ou se hei de naufragar
Cruzando mares
Não me importa
Se em nosso jardim
Murcharam as flores
E as luzes do palco
Amor-Perfeito
Se apagaram
As cortinas se fecharam
Minha trupe mambembe
De saltimbancos arlequins
E bobos da corte
Se despede
Num triste adeus
Zarpando na Nau
Desilusão


Rob Azevedo






Anel Di-amante




Anel Di-amante


-> Trilha sonora


Fui teu lacaio
Mais um caso
Entre flores
Na tua agenda

Foste pra mim
Mais uma mucama
A deitar-se em minha cama

E juramos as juras
De Romeu e Julieta
Profanando o sagrado
Com tamanha doçura
Que oculta no buquê de rosas
Não se via
A lâmina da adaga
Que nas costas
De ambos se cravava

Teu sorriso me feria
O meu te atraiçoava
A Arte nos protegia
Da completa ruína
Assim um romance vivemos
Fingindo acreditar
Em histórias da carochinha

Brindávamos em cálices de vinho
Vinagre
Dos favos de mel
Sorvíamos fel

Mas as lendas
Contos de fadas e fábulas
Que no ouvido um do outro contávamos
Marcaram mais forte
Nossos corações
Nos protegendo da verdade

O mal que definha
Tornou-se ar que respiramos
Água que bebemos e alimento
Necessário padecimento

Veneno fez-se remédio
Remédio, veneno
Contentamento, tormento

Nós dois viciados
No que lentamente nos mata:

Amor com o inimigo

Nosso lema e escudo
Palavras
Do meu filósofo-ídolo:

“Temos a Arte para que a verdade não nos destrua.”

Assim
Nossos Anéis Di-amantes
Não foram partidos
Ainda somos
Os mesmos
Catadores de pérolas
No lixo




Rob Azevedo





terça-feira, 11 de setembro de 2007

Poesia de Deus




Poesia de Deus


-> Trilha sonora


Sou seu poeta
Homem-menino
Ursinho azul
De pelúcia
Fofinho
Sou a escultura de Apolo
Esperando minha deusa
Vênus
Sou a esperança
No lúmen dos meus olhos
O verde das matas
Sou tudo
O que tu queres
Seu desejo secreto
Mais devasso
Sem pecado
Sacralizado
E delicioso
Sou o leito onde dormes
O edredom que te envolve
Seu travesseiro
Espelho
Escova
Batom
Bolsa
Que levas contigo
Sou seus suspiros
De Amor e Paixão
Seu coração
Descompassado
Seus cremes, perfumes
Sabonetes, shampoos
Estojo de maquiagem
Anéis
Colares e brincos
Sou a lâmina
Que depila cuidadosa
Seu cálice de rosa
E a lingerie
Que te veste
E que se despe
Nos meus dentes
Sou
Seu tesão
Seus pêlos eriçados
Seu uivar de gata
Em pleno cio no telhado
Sou
Seus dedos
Adentrando em seu íntimo
Em perfeito ritmo
Prazer sentindo
Sou
Aquele que vedes
Em sonhos
Quando dormes
Sou suas lágrimas
De saudades
Seu riso
De contentamento soberbo
Sou
Seu doce de coco
Caramelado
E quindim
Pavê de pêssego
Torta de morango
Floresta Negra
Trufas
De todos os sabores
Sou
Seu sorvete de ameixa
E favos de mel
Escorrendo
Em sua boca
Sou
Seu arrepio
Estremecendo inteiro o corpo
Seu revirar de olhos
Ligeiro desmaio
E gemido
Subindo pelas paredes
Sou tudo o que tu queres
O anseio mais delirante
Da sua libido
Sonho de consumo
Sou felino
Sou seu orgasmo
Cristalino
Tão belo
Glorioso
Profundo
Quanto estrelas
Cintilando
No infinito
Sou
O mais almejado
Dos seus sonhos
Femininos



Rob Azevedo





Inconfessável Segredo - Hurting you softly –




Inconfessável Segredo
- Hurting you softly –


-> Trilha sonora


Versos se derramam
Nas brancas folhas
Palco do Poeta
Entoando cantos d`amor
Sob luz de holofote


Algum acorde
Do piano se levanta
A platéia se cala
O peito sangra


D`alma liberta
O coração transborda
O que por dentro chora


Desprendem-se pétalas
Alguém se corta
Com espinhos de rosa


O murmúrio do canto
Ecoando profundo
Ateia a chama
N`alma aflita
D`alguma dama
Contendo o pranto


Enquanto um jovem
Em versos canta
A vida
Da mulher que o ama
Esquivam-se olhares
Mãos tremulas procuram
O companhia do lenço
Que os ampare


O íntimo
A todos se desvenda
Sem rodeios
A gregos
E troianos


Cada verso
Um segredo
Com poder de lâmina
Rasgando a carne
Derramando lágrima


A fantasia
De toda não se despe
D`algum modo reveste
O romance que protege -


Na platéia
Entre drinks
Nuvens de nicotina
E querelas tantas
Ninguém sabe
Qual a dama
Que chora
Porque ama


O amor inaudito
Suavemente desfila
Na voz que canta
Ferindo
Acompanhando o ritmo
Da bateria
Guitarra
Baixo
E retinir do piano


Um jovem
Com o coração da mulher que ama
Entalado na garganta
A todos conta
Na canção que canta
O amor que o toma


Suavemente fere
Com requinte
De vingança
Aquela que tem
Cúmplice
Entre os dedos
Que dispersam aos quatro ventos
Versos de Paixão
Amor
Desejo
Onde cada sentimento
É purpúreo
Sagrado
Inconfessável
Segredo




Rob Azevedo