sexta-feira, 29 de junho de 2007

Na Lápide Fria





Na Lápide Fria



Por que falas em morte?
Com tuas idéias somente
Desperta no poeta
Nova poesia

Caminhemos no Bosque
Das Ilusões Perdidas
Onde nos conhecemos
Contemplemos os túmulos
Façamos amor
Sobre a lápide fria

No ardor de meu beijo
Calarei tua boca
Confessarei desejos
Cumprirei promessas

Dá-me teu veneno
Não o negues
Transbordando no cálice
De vinho rosado
Necessito sentir o gosto
Do teu gozo umedecido
Na ponta de minha língua
Ardente que te arrepia

Dá-me teu corpo
Entrega-te desnuda
Façamos amor
Com a mesma paixão
Que me devora
Rasgarei tua roupa
Com os dentes
Sobre a lápide fria

Abre a caixa
Onde guardas o poema
Que mais desejo
Dá-me teu cálice
De vinho rosado
Necessito senti-lo
Nos lábios
Perder o tino
No desejo que não se cala
Dissimulado em teus versos
Explícito nos meus

Sentindo nossas peles
Deslizando uma noutra
Encaixarei a boca
No relevo de teus seios
Envolvendo as mãos
No contorno da moldura feminina
Desvendarei cada pedaço
Da menina poetisa
Em mulher transformada
No encantamento rendida
Com contentamento devassa
Morderá a orelha carnuda
Do poeta que devora
Suplicando ardente:


- Te quero embriagado
Com paixão profunda
No cálice da minha flor
Cor de vinho rosado



Sorverei o veneno
Embriagado de prazer
Sentindo teu êxtase
Na ponta de minha língua

Delirante em gozo
Serás minha
Teu somente serei
A cada segundo inteiro
Completo, total
Na doação
Navegarei no mar
Atingirei teu porto
Mergulharei na onda
Penetrando teu corpo
Entregar-me-ei com paixão
Sentindo a ti minha somente
Somente teu serei
Puro de-lei-te

Provando no cálice
O vinho rosado
Veneno suave
Doce e ardente
Gozarei cada instante
Repleto de amor verdadeiro
Em algum ponto eqüidistante
Além do infinito sombrio

Sentindo assim meu toque
Serás minha somente
Teu somente serei
Amor e Êxtase

Se queres no entanto
Partir
Dá-me teu veneno
Seguirei teus passos
Aonde fores
Faremos amor
Do outro lado
Onde se refugiam os poetas
Que nos deixaram
Conheceremos Camões
Fernando transformado
Noutra Pessoa

O doce canto
De Pablo
Na lira ardente
O encanto de Milton
Em tom diferente
Suave, penetrante

Ao subir as escadas
Cruzando o portal
Deslumbraremos o salão principal
Da mansão dos mortos
No palácio dos deuses poetas
Dispensaremos o convite
Nos sentiremos em casa!

Em celestial sinfonia
Dos poetas maestros
Que nos deixaram
Nossos anfitriões
No Reino da Poesia
Dançaremos abraçados
Corpo colado
A Valsa do Desejo
Vestindo fantasia
Despindo o medo

No piano, seis mãos
Dos deuses da música:
Mozart
Bach
Beethoven
Em sutil harmonia

No soprano
Encantando os ouvidos
O Anjo Desconhecido
Acompanhando o violino

Nossos corpos colados
A pele deslizando
Calor sentindo
Coração queimando

Nossas bocas
Feito rios que deságuam no mar
Revoada de pássaros
Buscando o verão
Beijando-se em doação completa
Infundindo nossas almas
Na profundidade da paixão
Extensão do infinito
Onde vivem os deuses poetas
No mundo eterno da poesia
Que tanta saudade sentes
Em teu canto sombrio
Clamando a morte
Na verdade a volta
Para nossa casa querida
Onde vivem os poetas
Que nos deixaram
Já não estão na lápide fria




Rob Azevedo





Nenhum comentário: