Um Estranho Caso de Amor
Entre o Criador
E a Criatura
Numa noite
Fui embora
Sem canções de Love Story
Perguntaram-me o por quê
De minha partida
Do que eu disse
Ninguém entendeu
Que fique assim
O segredo mantido
Nas páginas de meu diário
Quem sabe um dia
Publicado
Numa obra póstuma
Cause espanto
Não me importa
Estarei morto
Compondo poesia
Com fantasmas do além
Aqui na terra
Serei tido
Como mais um poeta louco
Justo por aqueles
Que haverei de vê-los
Escarnecido d`outro lado
Como dementes do espírito
Saudades da sombra eterna
D`onde ninguém regressa...
A luz desse mundo
Clareia o que vemos
Desnudando cada aresta
Causa desencanto
Meu gosto pela treva
Assim compreendo
Filosofando
Ó Noite Sem Amanhecer
Como te espero!
Tu que és
Minha verdadeira amante
Venha desposar-me
Não tarde
Que me arrebate
De ímpeto
Num lapso de instante
Tão breve
Quanto o luzir do relâmpago
Meus versos
Voam alto demais
Se distanciam
Da realidade mundana
Tocando o celeste
Templo onde habitam
Deuses imortais
Por que minha sina
É mirar a estrela mais alta?
D`onde vem tamanha hipérbole
Enraizada na espinha de minh`alma?
Obsessão ufana
Em erguer castelos
No vão das nuvens
E arrastando os tampos das lápides
Revolver túmulos
De amores de fábulas
Que devaneios são esses
D`onde me vem?
Tanto me embebedo de meus versos
Que perco o tino
Como todos os bêbados
Sou motivo de troça alheia
E me vejo amando
Perdidamente
Loucamente
Em cada poro
Não um ser real
De carne e osso
No entanto
A mais utópica quimera
Nascida de minha própria
Fantasia de trovador
Ao esculpi-la com tanto zelo
Abençoado pelos dons
Concedidos por Zeus
Que a Dona Consciência
Dá-se conta:
A obra é de estética
D`alma tão perfeita
Graciosa e delicada
Cosida em finos fios de ouro
Moldada em madrepérola
Que é bem mais bela
Do que a modelo que posou
O criador
Embriagado de seus versos
Se apaixona
Perdidamente
Loucamente
Pela mais ufana quimera
Nascida da arte
Dum trovador:
A criatura
No seio desse estranho caso de Amor
A brisa passa
De encontro ao Oceano
Na angústia de não tocá-la
- Minha Obra Amada -
Atônito espero
A Noite Sem Amanhecer...
Rob Azevedo
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