quarta-feira, 20 de junho de 2007

Águas do Céu - Enlevo Místico -




Águas do Céu
- Enlevo Místico -



O Poeta entristecido
Mira no céu
A cor do que sente
Cinza
De águas derramadas de nuvens
Imagina o pranto divino
Vertido sem motivo aparente

As coisas do alto
São como aquelas d`alma
Ninguém entende
De repente a tristeza
Num murmúrio vindo de dentro
Diz boa tarde
E vai crescendo
Empalidece o semblante
Dando adeus à alegria
Quando vê
Já é noite

Mal vinda melancolia
Por que me invade
Entorpecendo o coração de venenos
Embriagando meu ser de nostalgia?

Chove e o tempo passa
Quando passa o tempo
N`alma de quem fica chove

Pelo caminho esmorecidos
Quantos estão vivos
Parados em meio ao nada?

E as águas da chuva
Caem em torrentes
Regam os campos
Encharcam o quintal
Gotejam no telhado
Suas melodias serenas
Dizem mais que mil palavras

Fluem pelas calhas
Descem as escadas
Vão dar à rua
Seguindo pelos meio-fios
Morrem n`algum bueiro
Renascendo nos rios
Deságuam nos mares

O fluir das águas
Arrasta tantas coisas
Deixando n`outros lugares
Se desemboca no oceano
Imerge no infinito
Tudo que leva consigo

Levai então minhas dores
Àquele que é imenso
E abarca tudo em sua compleitude
O deus Netuno
Trazendo dos céus
Paz e amores
Bem-aventurança

Desabando as águas
De nuvens cinzas
Em trovoadas
Banham meu corpo
Lavam meu espírito
Num enlevo místico

Ao murmúrio desse fluxo
Seguir seu curso
Reflito contemplativo
E vislumbro que o destino de tudo
É sempre o mesmo

Um dia
Cedo ou tarde
Igualmente desaguaremos no mar
Onde o pequeno imerge no Grande
E Dele faremos parte

Individualidades
Ruminando suas porções de sofrimento
Tornar-se-ão como as gotas do oceano
Que em sua unidade tudo dissolve
Apagando todas dores
Numa imensidão azul sem fim
De paz e quietude

Reflito
Chove e o tempo passa
Quando passa o tempo
N`alma de quem fica chove

Lá fora
As águas correm
Sem lamúrias inúteis
Rumo ao inexorável destino



Rob Azevedo





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