segunda-feira, 18 de junho de 2007
A Poetisa Suicida
A Poetisa Suicida
Um tiro corta a noite...
A poetisa cai desfalecida
Estampido agudo no meu ser
Dilacerando entranhas
Em vermelho sangue
A poesia está morta!
Nenhuma estrela cai do céu
Nenhum anjo se compadece
Obtuso, o mundo segue
Moribundo seu curso
Nos canteiros
A flor que semeamos juntos
O jardineiro zeloso – que sempre fui
Haverá de colher
Depositar em seu túmulo
Ao menos
O jardim sem dona
Sorrirá contente
Regado pelas lágrimas
De tão devoto amante
Os dias se revestem de negro betume
Tornam-se noites sem lua
As noites vazias são frias
São adagas que dilaceram minh`alma
De meus olhos, os regatos que nascem
Transbordam nos cântaros Saudade
No horizonte resplandece o pôr do Sol
Não aquece, não aquece meu corpo
O toque sutil de sua pele fosse
Incendiava em rubro êxtase
Meu ser inteiro e no ápice Desejo
As ruas desertas são itinerários
Das ressequidas folhas soltas
Das árvores mortiças em fins de Outono
Pela força do vento que desprende
Inclemente só não leva minhas dores
Para bem longe, ao mar do esquecimento
Os casarões fechados, esquecidos
Como se a vida nunca houvesse
Habitado aqueles palácios burgueses
Já nem sorriem, de pudor ou tão tristes
Na capela os sinos não dobram
As portas se fecham
As estátuas barrocas de santas
Em respeito solene e preces
Tímidas se emudecem
Está morta a poesia
Na rima que transcende
Minha vida vazia
As pernas se cansam
Se a mente não alcança
Em tão profunda ausência
Motivos para caminhar
O cerne vital que resiste
Definha lentamente
Em gemidos de dor lacerante
Até que desiste
Por que partiste?
Doce poetisa
Se a melodia que surgia
De tão delicados dedos
Era a luz que iluminava meu dia?
Uma canção... uma canção vinda de longe
Pelas mãos do vento num eco obstante
Inunda meus ouvidos, aflige meu espírito:
Se a morte mata a vida
Sobrevive o eterno amor
Um eco, um eco...
Inquietando inteira minh` alma:
Se a morte mata a vida
Sobrevive o eterno amor
Ah pobre poeta!
Não adianta cobrir os ouvidos
Com as mãos que escrevem poesia
Essa canção não foi o vento quem trouxe
Mas é de dentro que entoa
Bem de dentro...
De seu coração!
- Tens compaixão de mim
Oh voz que aflige
Aquele que já não vive
Somente viceja
Feito erva
Que na rocha estéril floresce
Tens piedade de mim
Que não suporto tamanha dor
O alívio me concede
Dilacera meu peito
Arrancai meu coração!
Quando a luz se cala
Mergulha em trevas insolventes
Sobreviventes do naufrágio
No mar alto da paixão
Aos malditos sorumbáticos
Felicidade torna-se dor
O tempo, lamentação
Riso, desterro
O sagrado, perdição
Amor, agonia
Meio-dia, escuridão
Esperança, armadilha
Alegria, ilusão
Promessa, mentira
Viver, maldição
- Oh voz que assusta!
Entremeada nos versos
Não vedes que estou aflito?
Levai somente a poetisa
Tão equidistante
No Mundo das Sombras além
E dentro de mim
Meu último pedido:
Só não me digas
Não me siga!
Irei contigo aonde for
Se partes na neblina
Solene enterro
Minh` alma entristecida
Sou pálido e oco
Caveira entorpecida
Vagando semiviva
Perdida sem motivo
Somente um corpo vazio
Nadando em águas salgadas
De lágrimas doloridas
Se eras o Sol
Iluminando meu dia
Por que vem a noite
Escurecendo a poesia?
Vagando em ermo bosque
Espero que voltes
Devolva-me a alegria
Para que eu ande ao menos
Um passo a cada dia
Se o tempo passa e não ressuscitas
Libertas teu canto
Vem ao mundo feito fantasma
Devolva-me o alento:
Ter de volta minha vida
Rob Azevedo
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