domingo, 17 de junho de 2007
Amar o Ermo
Amar o Ermo
-> Trilha sonora
Numa noite em que no céu
Há tanto encoberto
Abriu-se um claro
Contemplo a Lua
Paira sem palavras
Feito rabisco de giz
Círculo
No quadro negro
Do infinito
Muda e feliz
Como quem sacramenta
Segredos inauditos
Nem mesmo em recônditos
De confessionários
Moeda de prata
Em tesouro encontrada
De galeão naufragado
Numa auréola dourada
Pintura ornada
De estrelas sem fim
No frio do inverno
De volta o desejo
Em bruma, esvair-me além
Do monte mais alto
Evaporar-me...
Não mais ser visto
Por toda cercania
Nem ao léu, depois do horizonte
Morar na toca
D`alguma coruja
Na ponta da árvore
Mais alta
De toda floresta
Mata virgem
Incólume
Do animal-homem
Ser pensante
Bípede
Amar o ermo
Consagrado servo
Do Nirvana
Caminho Reto
À quietude do Eu
Desejar não ter desejo
Sequer desejar não tê-lo
Apenas deixá-lo
Apagar-se
Feito extinta chama
Até que a calma
A alma invada
E me deite serenamente
Na cama do Nada
Em companhia de ninguém
Nem ter cinza
Que possa ser dispersa
Ao vento ou nas águas
Do Ganges
Ser apenas um alguém
Que passou pelo mundo confuso
Escreveu poemas ininteligíveis
Semeando enigmas
Perguntas sem resposta
Viveu a duração
Dum cometa riscando o céu
Depois, sem dizer adeus
Desapareceu
Insondável como versos do lado avesso
Versos lidos e relidos, formando formosos
Sol, Lua, estrelas
Declinando no Ocaso em tão somente linhas
De páginas amarelecidas de livros esquecidos
Desfeitos sem dó por traças, retornando ao pó
Na extensão do Universo
Que nem mesmo um grão
Testemunho da dor
Minha em cada verso
Que escrevi seja o resto
Do coração partido
Que em meu peito bateu
Cantando ilusão.
Rob Azevedo
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