quinta-feira, 5 de julho de 2007

A Velha Cabana




'ﺅﺊﺋჱﺅﺊﺋ''ﺅﺊﺋჱﺅﺊﺋ' A Velha Cabana 'ﺅﺊﺋჱﺅﺊﺋ''ﺅﺊﺋჱﺅﺊﺋ'

-> Trilha sonora


Vieste numa noite
E se deparaste com um trovador provocante
A despertar sorrisos
Em ti
Aos borbotões
Tirei da manga
Tantos casos engraçados...
Quis dar-te tudo que podia
O bem mais precioso que tinha:
No riso espontâneo
A docilidade dum menino
Em quem pudesse confiar
Ser puro contigo
Gentil e cavaleiro

Embora sempre nos perdêssemos em risos
Os palhaços – fazendo jus à lenda
São tristes
De uma dor que não se entende

Embora também
Tantos poemas de amor
Nunca soube
Dizer eu te amo
De forma convincente

Minhas palavras soam
Em tom carinhoso
Lúdico
Refletindo a criança grande que sou
Essa
Que não haverei de deixar
Que se perca em mim
Jamais perecerá

Somente assim
Foste tantas em minha vida
Vinda de lendas infantis
E acreditamos
Em contos de fadas
Princesas e cavaleiros
Castelos e reinos
E fui teu herói
Salvando-te, em minha perspicácia
De bruxas madrastas

Contei a história
De minha cabana na árvore
Ouvi contar-me
Que caçava borboletas
Quando menina
Andando descalça
Como bem queria

Outro dia
Enveredei-me nos pomares
De minha casa
Procurei o local exato
E encontrei
O pé de cajueiro

No tronco largo
Ainda as madeiras
Pregadas transversais
Fui subindo a escada
Transpondo galhos
Cheguei à velha cabana
De meus tempos de menino
Abandonada
Parecia as ruínas
D`algum templo da Grécia Antiga

A melancolia caiu n`alma
Numa dor
Que não tenho como medi-la

Tantos anos se passaram
Tantos...
Amigos que seguiram outros caminhos
Entes queridos que perdi
Tanta água que correu
E desaguou no mar
Longe
Longe demais

E lá estava minha cabana
Dos tempos
Em que eu não era somente
Esse palhaço triste
Que o riso que provoca
Nem sente
E a felicidade que me traz
É vê-lo se abrindo
Em outros rostos
Sem que em verdade
O compartilhe

Em sonhos de criança
Pedi a Deus
Um caminho feliz
Procurei sempre
Ser um bom samaritano
De acordo com as lições
Do catecismo na paróquia
Mas fui sempre triste
Passada minha terna infância

Os amores que almejei
Ainda desejando-os
Num ardor sem tamanho
Por mim mesmo
Vi todos
Escorrerem entre meus dedos

Desculpas por isso...
Pois agora olho no tronco do cajueiro
E vejo um coração nele gravado
Recordando meu primeiro amor
Dos tempos em que no rosto do menino
As primeiras penugens de barba surgiam
Senti aquele fantasma invadir-me em lembranças
No pátio da escola fitando-me com olhos brilhantes
E tudo tão puro
Naquele amor
Que nunca vivi

Desde aqueles tempos
Nas dores que me foram causadas
Num coração de menino
O pranto que derramei
Desaprendi a vertê-lo
Porque não queria me ver novamente
Derramando lágrimas
E desejando deixar de viver

É...
Embora nunca acreditasses realmente
Em cada segundo
Cada instante ao teu lado
Cada verso dedicado
Eu te amei
Nunca menti
Por favor, não pense assim
Porque é pecado
Em face dum sentimento tão grande
Imaginei contigo
Histórias que nem ouso contar
De amor pra vida inteira
E conhecer Luxor ao teu lado
Mirando as esfinges no deserto
Tendo a resposta do enigma:


- Eu te amo e agora... O que faço?


Se minha história é sempre triste
De amores perdidos...
E quando declarei o que sentia
De forma mais crível
Ouvi somente:


- Estou sem palavras
Não sei o que dizer



Perdoa-me por tudo isso...
Sou eu o culpado
Minha sina é lastimosa
E Deus não ouviu minhas preces de criança

Ensinei-te o riso
Voltar a ser menina
Na pureza que contagia
Agora, em minha velha cabana de menino
Que se perdeu no tempo
Mirando o coração gravado no tronco do cajueiro
Vejo ao lado, num galho
Um pequeno cajuzinho
E choro...

Ensinaste a mim
Derramar novamente
O pranto

Porque estava certa:
Seremos sempre
- Tão somente -
Amigos
Embora continuarei te amando
E eu sei
I `ll stand by you FOREVER

Além, o que te prometo
Até a noite de meus dias
É que serás eternamente



Minha


Adorada


Musa





Rob Azevedo





Um comentário:

Karla Julia disse...

Rob,
Já lhe disse que adoro reler sua poesia, e isso venho fazendo com frequência durante esses anos. Confesso que a cada leitura me convenço mais de que sua poesia é visceral e universal também.Creio que os próprios astros conspiram a seu favor quando você se senta para escrever, fazendo até com que os próprios deuses invejem esse seu dom que me embriaga de um sentimento de urgência de emoção.
Queria também agradecer-lhe pelo insondável que às vezes encontro em seus poemas, porque nem tudo consigo decifrar, e isso é o que torna a leitura de sua obra ainda mais deliciosa.
com toda minha admiração

Karla Julia