quarta-feira, 4 de julho de 2007

O GATO DE BOTAS




O GATO DE BOTAS


-> Trilha sonora


Acendo um cigarro
Apago uma estrela
Afago um gato
E mato
Um carrapato
Afogado
Num copo duplo
Em dose
De Conhaque.

Aliso o cavanhaque
Bebo num gole
Um refresco
Me refresco
Com leque árabe
Tiro uma pedra
Da bota
E um coelho
Da cartola.

A gata assanhada
Com jeito moleque
O rabo abana
Ao som da corneta
Vitrola
E Gaita de Foile.

Ouço o canto
Estridente da cigarra
Erguendo o tridente
Rompe a aurora
Toca o sino
E vai embora.

Zunindo delirante me toca
Zombando inconseqüente
Afrontando o espírito
Ultraja o hino
Do Anjo Cupido.

Num recanto d`alma
Rangem meus dentes
Afino a guitarra
Aguço ouvidos
Recobrando sentidos
Esvaídos.

Amargurado e aflito
Sentido de havê-los perdido
Gato que sou, pêlos eriço
E apelo ao sexto-sentido
Fe-li-no
O por quê, o que terá havido?
Se ávido e compadecido
Percebo que tinha, o que tendo ido
Me dói de dor tão doída
Que melhor seria
Não haver existido
A ida.

Nem mesmo sequer
A vinda.

Num canto do quarto
Contendo o pranto
Elevo meu canto
Procurando o encanto
Que um dia guardei
Em baú de ouro
Enquanto passava
Um quarto de hora
E a velha senhora
Como quem pede esmola
Muda e amarga
Passava uma muda
De roupa lavada
Ao lado da muda
De erva cidreira
Planta amarga
Feito um naco
De açúcar mascavo
Degustado ao contrário
Pela boca
Que mastiga.

Tal espécie herbácea
Flor bastarda
Sobre a cômoda estava
Que diz minha mãe
Com ar feliz, cheia de pompa
É o criado-mudo.

Prefiro empregada surda
Que seja boa
Quando nua
E papoula
D`onde se tem o ópio
Que inalado anima
Minh`alma quando desanima
Em tardes de ócio.

Cheio de ódio
Malcriado e intruso
Falante e ardiloso
Depois dum pileque
E meia dúzia
De cheque sem fundo
Salto com o cavalo
Sobre o bispo
E tomo a torre...

É Xeque-Mate!

Venço a partida
E perco o sentido
Da vida.

Alguém ao léu
Não mira o céu
Como devia
Se desvia
Da Via Láctea
E me chama
De chato.

Calado
Tranco a porta
A chave
Jogo fora.




Rob Azevedo





Nenhum comentário: