quarta-feira, 4 de julho de 2007

Expresso da Meia-Noite




Expresso da Meia-Noite

-> Trilha sonora


Um recreio
Em meio ao caos
Pausa que entrecorta
O ir e vir impetuoso
Do machado zunindo no ar
Cortando sem dó
O sândalo a sangrar

Intervalo
Brilho de Luz
Meditar, refletir
O absurdo da vida
Que a si mesma maldiz

Vida que se devora
Mastiga
Engole
Rumina
Expele e vomita
Apodrecida

O tempo se consome
Ponteiros do relógio correm
Num infinito ciclone

O cão dispara
Atrás do próprio rabo
Não pára

Na cara do jovem
Brotam espinhas
O tempo passa
E surgem rugas
Fendas no solo ressecado
Tornando-se estéril

Chronos faminto
Saliva
A fome nunca sacia
Caem grãos
Formam dunas
E resmungam duas velhas
O leite derramado
No sótão
Soterradas
Em lamúrias

Caravelas singram mares
Rumo à Atlântida perdida
Enquanto choram violões
Violinos, bandolins
No vão das nuvens

Um Arlequim
À beira-mar
Contempla a onda
Vir e voltar

Cruzando o céu a gaivota
Pousa na espádua
Da Colombina
Cismando solitária
O Amor que o tempo
Levou

E tudo passa
Com pressa
Parece
O expresso
Da meia-noite
Com destino
Ao Oriente

Esse comboio
Não volta
Pega a mala
Enxuga a lágrima
Se acomoda
No vagão
E vamos embora!

Já estamos
Noutra estação...



Rob Azevedo





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