quarta-feira, 4 de julho de 2007

Lavrador de Palavras




Lavrador de Palavras


Os bons morrem primeiro
Primeiro morrem os bons
Depois os bon vivants
Então, finalmente, os bois

No pasto rumino
Um naco de poesia
Deleitando degusto
Filosofia
Em campo abro valas
Correndo o arado de meus traços
Semeio com mãos calejadas
De lavrador de palavras
Minha nova safra
De poemas amargos

Quiçá a colheita
Não será devorada pelos corvos
Pus no meio
Do branco papel onde germinam versos
Um espantalho

Nem as ervas daninhas
Apodrecerão nenhuma estrofe
Se cuidadoso eu podo
Cada folha nua onde escrevo
E meus dedos
Extirpam o joio
De toda rima

Desflorando todo pasto
Reviro a terra, garimpando
Dentre minhocas airosas
Jazidas de húmus

Transbordando o alforje
Carrego sobre meus ombros
Alimento decomposto
Negro e úmido
Depositando nos canteiros
Onde nascem meus versos

A estiagem racha o solo
Impede que floresça a vinha
Definha tudo que é plantado
E nada vinga

Sem os frutos
Nos galhos das videiras
As bacantes não têm o vinho
Onde se embriagam de poesia

Nuvens quando não brindam
Meus campos de água
Lágrimas de Amor derramo
Regando o cultivado

E florescem nos prados
Da semeada folha nua
Sorrindo a primavera
O trigo d`alma
De nós, os bardos



Rob Azevedo





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