quarta-feira, 4 de julho de 2007
A Tirania e o Sangue Vêm à Terra Firme
A Tirania e o Sangue
Vêm à Terra Firme
Numa cidadela distante
No norte da África
Assentado em pedras defronte
O Mediterrâneo
Um poeta contempla
Do costão rochoso o horizonte
Mórbidos navegantes cruzam o extremo
Do Golfo di Surriento
Velas estendidas impelidas por Éolo
Trazem a bordo Tânatos
Vestido de negro manto
Segurando firme a foice
O aço frio cintila
Refletindo o furor de Apolo
Tânatos se atiça
Navegando sombrio
Nos braços de Poseidon
Hades espera
Ansioso, trincando os dentes
Aqueles que descerão
Aos seus domínios subterrâneos
Todo panteão antigo
Assiste ao conflito
Delineando-se nas águas bravias
Do Mar Mediterrâneo
Velam por seus semi-deuses
Do alto do Olimpo
Ou planos humanos
E se compadecem
Por suas amantes terrenas
Habitantes de Cartago
Na rota das sombras e ruína
Ares cruel e impiedoso
Espírito da agressividade
E cegueira sanguinária
Surge com a lança
Vocifera
Militariza
Rege a estratégia
Das frotas romanas
As primeiras fragatas intrusas
Cruzam a barreira de corais
Incólumes, sobre a maré alta
E vão ancorando
Bem perto da praia
Aninhados em incontáveis barcas
Guerreiros romanos
Armados e malditos
Maus e insanos
Trazem à terra firme
A tirania e o sangue
O poeta
No costão rochoso solitário
Sente na carne a realidade
Da escuridão vinda da guerra
Onde a glória é quimera
Cada gota de sangue derramada
Um passo sem volta
Em direção ao Tártaro
Sob a treva em plena luz do dia
A chama interior acende
E enxerga a fantasia desnuda:
Aventuras em batalhas lendárias
Vitória e bravura
Condecorações, medalhas
Tambores, trombetas
Hinos, eternidade
Heroísmo, honra
Espada contra espada
Cabeças degoladas
Braços decepados
Pernas mutiladas
Prisioneiros acorrentados
Humilhados
Soldados e famílias dizimados
Mulheres estupradas
Destroços e ruínas
Fome e ódio
Sede e frio
Grito e angústia
Desespero e medo
Crianças maltrapilhas
Devoradas por ratos
Em nuvens de fumaça...
Glória?
Nesse contexto se encaixa alguma glória?
Não meus bravos guerreiros
Não quero ser Herói das Trevas
Renego versos de guerra
Nascidos de minha entranha entorpecida
Deserto!
Estou de partida
Jejuarei no deserto
Abominando cactos e pedras
Transformados em pães
Pela demência humana
Deserto!
A adaga que fere entrego
Jejuarei no deserto
Por quarenta dias
Abominando cactos e pedras
Em companhia do Arcanjo
Que a Paz espera
Rob Azevedo
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