domingo, 1 de julho de 2007

Testamento Apócrifo - Palavras da Verdade e Salvação




Testamento Apócrifo

Palavras da Verdade e Salvação


GÊNESIS


1 Deus é aquele que inventou a natureza
O Diabo inventou o homem
E os homens são aqueles
Que pensam haverem inventado os dois

2 - Cismando haverem inventado o Incriado
Inventaram haverem sido criados por Ele
Rastejando ao lado de vermes
Descobriram-se criados pelos diabos


ÊXODO


1 Os homens inventaram Deus
Quando Deus já havia inventado o universo
O Diabo espantado com a falta de nexo
Perplexo em cada ato do homem malcriado
Vomitado de suas entranhas numa poça de sangue
E língua de fogo
Expulsou o homem do Inferno
E foram dar nos Jardins do Éden
Adão e Eva
Ambos grandes inventores atrapalhados
Inventaram num surto de loucura o pecado
E foram expulsos do Paraíso onde viviam exilados

2 - Perambulando em dimensões paralelas
Perderam-se em orgias com Seres do Astral
E tiveram grande prole
De seres humanos inventores de dogmas
E Caim matou Abel
Foram vistos nas noites nos bares de Marte
Embriagados e criando caso
Intitulando-se com Serafim e Arcanjo
Os criadores de Deus e o Diabo

3
- Em cada planeta onde estiveram
Todas as constelações e galáxias
Foram espancados e convidados a fugirem em retirada

4 - Sem restar alternativa
Os grandes inventores navegadores do espaço
Inventaram a Arca de Noé
E vieram dar a Terra sem deixar sinais
Com toda sua prole de animais


LEVÍTICO


1 Povoaram o mundo
Inventaram as tábuas de Moisés
Ditando códigos e leis
Decretando impostos e dízimos
Blasfemando contra Deus e o Diabo
Inventaram que a terra e tudo que há nela
Não é partilha de todo aquele que nela habita

2
- Ergueram templos nas praças
E escreveram livros grossos de contos e fábulas
A Vaca Profana, a líder da manada
Em suas tetas sagradas amamentava incontável turba
De plebeus, nobres e sacerdotes
Mas a ganância era tanta
Que sua bolsa de leite rompendo
Estourou na cara do profeta

3 - O Sumo Sacerdote revoltado
Em concílio com o Grão-Vizir
Instituiu a Inquisição
E queimaram na fogueira todos adoradores
De deuses pagãos
Que em cinzas abandonados ao relento
Tiveram seus bens saqueados
Pela Sacra Ordem dos Templários


LAMENTAÇÕES


1 Os povos caíram em trevas
Desde os Celtas aos Druidas e Vikings
Imersos em carnificinas e guerras
Epidemias, fome e mazelas
Mas a cada dez que morriam
Cento e doze nasciam
E as nações continuaram crescendo
Procriando desgraça noite e dia
Embora o Amor fosse julgado
Sujo, pecaminoso e feio

2 – Céus nublaram
Rios e mares secaram
Florestas tornaram-se desertos
E da terra semente não florescia
Aglomerados em centros urbanos
A humanidade erguia suas casas
Séculos se passaram
E ergueram prédios de quarenta andares
Em concreto e ferro

3 – No espetáculo nefasto
Do Big-Bang humano
Resultado lamentável:
Já não havia espaço pra ninguém
Sequer donde retirar o sustento
Homens se devoravam sedentos
Nos campos, cidades e favelas
Em cada morro oculta entre barracos
Uma boca de tráfico de drogas
Vigiada por escopetas calibre doze

4 – Os sacerdotes do Novo Mundo
Empunhavam seus cedros de pérolas
Sentados em tronos de ouro
Defecando notas de Dollar
E andando cantarolando o Hino da Pátria

5 – Reunidos em seus plenários
Confabulavam novas guerras
Derramando mares de sangue
De outros seres que não o deles
Assim os engravatados de sapatos lustrados
Viviam petrificados de mente e espírito
Tendo a gola engomada e topete penteado
Num canto de seus gabinetes
Um cofre abarrotado de prata
Diamante, rubi e esmeralda


APOCALIPSE


1 Deus cultivando seus jardins na constelação de Órion
Visitando os Três Reis Magos
E o Diabo na constelação de Taurus
Sentado na estrela Aldebaran
Fumando calmamente um cigarro
Assistiam ao noticiário intergaláctico
Passivamente acompanhando os fatos
Um e outro eram sempre os culpados
Pela guerra no Oriente Médio
Atentado em Nova Iorque
Prostituição na Ásia
Fome e atraso na África
As mazelas da América Latina
Cada venda de drogas na esquina
Trabalho infantil
Catástrofe nuclear
Flora e fauna em agonia
Camada de ozônio degradando
E toda e qualquer miséria

2 - Deus e o Diabo se reuniram
Escandalizados daqueles seres bizarros
Povoando a Terra
Um fragmento estelar azulado
No seio da Via Láctea
Chegaram ao consenso
Após sete minutos ou quatrocentos e vinte segundos
Não seria preciso destruírem o mundo
Varrendo do espaço o planeta perdido
Deflagrando as trevas do Apocalipse
O fim estava em andamento
Nas mãos do próprio homem
Exclusivo autor de sua sina
Antropofágica
E as trombetas anunciando o momento derradeiro
Haviam há tempos soado
E ninguém expiando no Purgatório
Ou ardendo nas chamas do Inferno
Seria depois perdoado
Tampouco recebido em glória
Ao lado do Pai Eterno

3 - Decididos não moverem uma palha
Lamentaram a desventura dos homens
Deram as costas, lançando um último olhar resignado
Ao agonizante planeta azul insólito
E opostos que eram
Cada um seguiu pro seu lado
Deus pro Sul
E o Diabo pro Norte

4 -
E os homens todos
De braços dados
Seguiram pra Morte...



Rob Azevedo - O Profeta





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