quarta-feira, 4 de julho de 2007

Tudo Que Existe Um Dia Finda...




Tudo Que Existe
Um Dia Finda
Chega Ao Poente
Sobrevive - O Que É
Como A Camélia Prateada
Nua Flutuando
No Firmamento


-> Trilha sonora




..........I




O Gato de Botas
Caminha léguas
Em companhia do Boto
Cor de rosa.

Levam rosas
Ao velório
Dum gato conhecido
Que morreu
Escaldado.

Do céu nublado
Desaba água
Chuva fina
Os transeuntes
Pelas ruas
Erguem sombrinhas
Carrancudos
Bem agasalhados.

A estação Outono
É fria.

Estendido no esquife
Um corpo sob flores
Em torno, sete gatas
Lacrimosas pelo gato
Que perdeu
A sétima vida.

Os recém chegados à capela
Entristecidos
Depositam vermelhas rosas
No interior
Do ataúde.

O Boto veste luto
Com ar de sentido
O gato dá os pêsames
Às sete gatas que perderam
O predileto
Dos seus sete amantes.

Já é tarde
N`algum relógio bate
Sete horas da noite.

Mirando o corpo inerte
Pálido, em repouso eterno adormecido
Do conhecido padecido
Escaldado
O Gato de Botas reflete:

Como as rosas que trouxe
Tudo um dia
Murcha devagar e morre.

Mas sete vidas Deus lhe deu
Vive sete personagens
Cada um com sua identidade.

De modos que dorme numa noite
Como um gato
Acordando latindo
É cão.

Noutro alvorecer
Ao despertar, se mira no espelho
Contemplando o semblante
Dum coelho.

Alguns dias
Vê em seu corpo plumas
Tem asas
E voa
É pássaro.

De repente
É um gato
Bem maior
Enorme
Com juba
Chamado Leão.

Adiante um Marlin
Vivendo
No profundo azul.

E também
Um alazão
Correndo livre nos campos
Contra o vento.




..........II




Por fim
Diga-se ainda
Que às vezes
Tem hábitos
De corujas e morcegos
Seres da noite sombrios
E lobos das estepes
Amantes das madrugadas enluaradas
Afeitos à penumbra
E encanto
Do uivar em solidão
Entoando cantos de amor
De costume
- O por quê ninguém entende -
Não às lobas, mas à Lua
Camélia Prateada desfilando nua
No negro manto firmamento noturno
Jardim do Excelso
Florido de estrelas.

Aquela que ninguém alcança
Beijá-la ninguém pode
Os lobos, tantos seres notívagos
E sobretudo os poetas
É a quem
Verdadeiramente amam.

O inatingível
É uma quimera tão distante
Onde aportam tantos sonhos
Que suave torna-se
O mais desejado enlevo
D`alma e da carne.

Em brumas, pairando reluzente
Soberba, em plena majestade
Vistosa, como um diamante
Além do que tocam as mãos
Ainda estendidas num pulo do píncaro mais alto
Ou vôo de Ícaro
A Lua desperta em seu encanto
Mágico – místico – misterioso - eterno
Naqueles que almejam
O Amor por todos desejado
A mais bela imagem
De eternidade
Imaculada castidade
Perpétua virgindade
Entregue somente a quem
Saiba voar além
Do que as asas de Ícaro possam levar

O pouso no intangível
Amor em estado puro
Único.


O Gato de Botas
Cismando absorto
Retorna ao mundano cenário
Mirando um corpo descorado
Frio, estático
Estendido no esquife
Sob murchas flores mortas
Como tudo que existe
Um dia finda
Chega ao poente.

Sobrevive
O suceder dos tempos transcende
Somente realidades
Que se tornaram lendas
Pela grandeza de seus sonhos
Ou pela beleza
Do Amor santificado
Na magia que emana
Da Lua que flutua
No Jardim do Excelso
Florido de estrelas
Símbolo a todo aquele
Que de verdade ama.




Rob Azevedo






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