quinta-feira, 5 de julho de 2007

Um Bardo Ébrio e a Dona Esperança




Um Bardo Ébrio e a Dona Esperança


-> Trilha sonora


No Secret Garden
A noite arde
Aguardo a companhia
Prometida
No tampo da mesa
De bar
Gravo corações
No aço dum canivete
Florescem orquídeas
Na madeira ocre

A velha senhora
Dona Esperança
Senta-se ao meu lado
Iniciamos um diálogo:


- O Bardo Solitário –


- Ah, senhora
Tua companhia me cansa!
Viver de esperança
Que nunca se consuma
É tão dura pena
Quem nem mesmo Camões
Das terras de além mar
Infante lusitano nas colônias africanas
Soube cantar
De forma tão extensa
E dolorosa
Da adaga que lhe perfurou um olho
Seu frio corte
- Das traíções do Amor -
Cravou mais fundo em meu peito
Anseio a morte
Vir desposar-me
Em seu vestido negro
Aquela que o descanso concede
À alma dos jurados
De eternos padecimentos
Dos amores esperados
Em bem-aventurança

Ah, Dona Esperança!
Se ninfa tão formosa
Ainda na luz da aurora
Clareando o céu
Não há de minh`alma
Salvar dessa noite sem fim
Em cálice de Absinto
Brindarei
Num sorriso sereno
O ponto final de minha viagem
Neste vale de sombras que desterra
Dando boas vindas
Àquela que ceifa
A vida dos peregrinos
No Deserto do Amor

Tens compaixão de mim
Companheira de solidão
Meus lábios aguardam-na
A doce ninfa
Que vive na Torre de Concreto



- A Dona Esperança –


- Ah, Bardo sofredor
Estás embriagado!
Desaprendeste a lição
Daqueles que esperam
- Quando devem esperar -
Sempre alcançam

Lembrai dos verdes olhos
Que um dia cruzaram teu olhar
A vida vos trazendo
Nos ermos campos
Onde só havia solitude
Floresceram lavandas violetas
Colheste todas e muitas outras
Nos vasos de louça
Arranjos de flores multicoloridas
Ornam teus aposentos

O colar de pérolas
Que a ninfa joalheira
Compõe nos dedos delicados
Há de vê-lo
Adornando espáduas nuas
Reluzindo o vestido vermelho

Nem tudo está perdido
Abre vossa Caixa de Pandora
Bem lá no fundo
Encontrarás Esperança
Antes do luzir da aurora
Sorridente e graciosa
A vir beijar-lhe os lábios
Colorindo-os de carmim



- O Bardo Solitário –


- Senhora... Já passou da tua hora
Convido o Senhor Desencanto
A passearmos no Bosque
Das Ilusões Perdidas!

Irei ébrio
Quem sabe tenha sorte
Ao cruzar o rio
Despenque da ponte
Afogue-me nas águas turvas
Corredias
Desposando a Dona Morte
Livre serei
Dos desenganos dessa vida!




Rob Azevedo





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