quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Piano de Cauda




Piano de Cauda


-> Trilha sonora


O piano soou
A última nota
O drink acabou
A luz se apagou
A porta da taverna
Rangendo se fechou

Tudo que tenho
À frente na noite escura
Sem nem mesmo lua
É uma deserta rua
De paralelepípedos
Aberta no vão
Dos amores arredios
Não obstante
Ecoam em meus ouvidos
Acordes magníficos
De outrora
Gravados
Na memória

Cães ladram
Revirando lixo
Trocando o passo
Vou-me embora
Acendendo
O derradeiro cigarro

Meu ir é tão amargo
Ocre, desbotado
Preso ao passado
Que no íntimo de mim
Pulsa o ímpeto
De voltar d`onde vim

Na taverna
Cerrada a porta
O silêncio
Abissal dos túmulos
A escuridão
Do além mundo

O burburinho
Da boemia se foi
O sorriso
O galanteio
As querelas
De Cupidos tantos
Entorpecidos
De vinho

O piano
Calou-se
No entanto
Com os ouvidos
D`alma
Ainda ouço
Os acordes
Magníficos
De outrora

Da lembrança
Levantam-se fantasmas
Num sarau noturno
E valsa

Dou boas vindas
Aos convivas
Em trajes
Principescos

Nos vitrais
Reflete-se o brilho
De colares
E olhares

Suave
Soa
O piano
Em ritmos
Magistrais

Cavalheiresco
Convido a dama
À dança
No baile
De quem se ama

Minhas mãos
Se entrelaçam em mãos
Suaves, delicadas
Como fina seda persa

No calor d`outro corpo
Embevecido me aqueço
E mãos
Envolvendo pousam
Na cintura esbelta

Dançamos
Nuas peles roçando
Aos acordes
Do piano
Em murmúrios clamando
Eu te amo

Madeixas graciosas
Perfumadas se derramam
Em espáduas preciosas
Descortinando
Duas rosas

Ao som da valsa
Olhos se fecham
Na brisa dos suspiros
A alma se entrega
No encaixe de lábios
A paixão se esmera

Tornamo-nos cada tecla
Do piano de cauda
Que rege a festa

Florida rua
De paralelepípedos
Alvos
E cor ébano
Com destino
Ao fim do infinito



Rob Azevedo








Um comentário:

Silvaniamor disse...

Querido Rob,


Inebriante e fantástico poema, meu genial poeta e amigo lindo!
Li e reli esta obra de rara beleza e a degustarei por mil vezes!
Você escreve com tanta magia e intensidade de sentimentos, que nos deixa encharcados de emoção, Rob.
Sua habilidade com as palavras é algo impressionante, assim como o estilo, criatividade, romantismo e lirismo, criando obras de belíssima arquitetura!
Esse poema, em especial, tocou-me profundamente... É lindíssimo!
A cada verso, sinto-me personagem viva dessas cenas, como se estivesse ali, naquele lugar, em cada momento.
És um grande e talentoso artista, Rob!
És música, poesia, amor e arte...
Obrigada por tão generosa e maravilhosa homenagem!
“Piano de Cauda”... Minha paixão!!!
Você estará infinitamente em meu coração, AMIGO ROB!

Silvânia Barros.