sábado, 8 de dezembro de 2007

O Rochedo de Gibraltar




O Rochedo de Gibraltar


-> Trilha sonora


Alma posta
No papel em branco
Sagrado refúgio
Do poeta saltimbanco

Campos de Lírios
Altar no Templo
Picadeiro do Circo
Alamedas do Palácio

Do mundo esvaído
O passeio em versos
Vôo de pássaro
Navegar em mares

Aonde me levas
Ó, Lira de Poeta?

Ao Rochedo de Gibraltar?

Ondas espumantes em escumas
Dispersas ao vento
A maresia
Garças grasnando

Marinheiros no píer
De toca e tatuados
Ancorando embarcações
Trazendo cestos
Transbordantes de pescado

Olhos mortos
Guelras
Barbatanas
Escamas prateadas
Refulgindo ao Sol
Sobre corpos cinza
Viscosos

Peixe fresco!

Revoada de garças sibilantes
Voando em círculo
Pousando
Andarilhando com pernas
Compridas e finas
Nas beiradas
De caixotes abarrotados

Os pesqueiros balouçam ancorados
Ao sabor das ondas
Peixeiros limpam o pescado
Refletindo ao Sol lâminas
De facas amoladas

Um gato a tudo espreita
Desconfiado
Entre um e outro miado

Rosna
Serpenteia o rabo
Crava na madeira do píer
Afiadas unhas
Escorrendo
Deixando trilhas
Espreguiça
Eriça pêlos
Alisa o bigode
Se lambe
E mia

Rola e se deita
Aconchegado
Num amontoado
De cordas

Espera sua hora
Com a ansiedade dos felinos famintos
Que alguma tripa
Por caridade
Lhe seja dada

Falta ainda
Um bom tanto para o meio-dia
Ao longe alguém assovia
Canções do mar

Mãos calejadas
Pela vida
De marinheiro
Recolhendo cordas
Anzóis e redes
Empurrando barcos
Carregando caixas
Se cortando em facas
Afiadas
E corais

Peles curtidas
Pelo Sol causticante
Morenas
Da cor dos troncos
De amendoeiras

Shorts desfiados
Nascidos
De velhas calças recortadas
Camisetas surradas
Puídas
Manchadas

Pés descalços
Cobertos de calos
Couro de touro brabo

As ondas balouçam
Os últimos pesqueiros
Vão chegando ao píer
Acompanhados
Por revoadas de garças
Em febril algazarra

Ao longe alguém canta
Canções do mar
Canções de Amor
Recordando aos marinheiros
Que amar
Também é preciso

Cumprida a lida
Se vão às suas singelas casas
De paredes caiadas
Contemplando as moças
Passarem ligeiras
Rebolando as ancas
Em saias curtas
Saltitando os seios
Em decotes fartos

Detém-se nas tavernas
Na beira da praia

Uma dose, duas doses, três doses
De bebida forte
Quente
Como o Sol causticante

De repente
A cabeça gira
Um bufão
Toca cítara
Castanholas
Entreolham
Uma jarra
De Sangria

E se vão os cavalos-marinhos
Galopando pelas ruas
À beira-mar...

Se vão com estes
Os peixes-de-asas
Voando em bandos
Cruzando o rochedo
De Gibraltar

Estupenda bebedeira
Ao meio-dia
Quando a noite chega
Pós descanso
Tarde inteira
O marujo se levanta
Da cama
Com bafo de onça
Cabeça zonza
Toma um banho
Se apronta
Ajeita a barba
Põe um pano
De festa
Xadrez
Azul-grená

Água de cheiro
E preces
Profanas
À deusa do mar

E se vai o marujo
Atrás das moças
Que rebolam as ancas
Pelas vielas, nos mercados
E em passes de dança
Nos bailes
De Gibraltar

No caminho
Ancora o lobo dos navios
Nas habituais tavernas
Esvazia canecas
Garrafas
Barris

Embaçada a bússola
Sem Norte nem Sul
Segue rumo
Na esperança
De encontrar
O porto noturno...

A cama
D`alguma moça
Faceira, de olhar brilhante
Riso fácil
Vistosas coxas
Cintura fina
Ancas roliças
Seios firmes
Do tamanho
Exato
Da boca

O porto noturno
Noturno porto
Ancoradouro
No corpo
De mulher
Entre coxas
Abertas
Feito pétalas
De Perfeito-Amor

Mergulho
Na fenda purpúrea
Em busca
Da pérola

Se falasse
O Rochedo de Gibraltar
Diria que vê se amando
Estrelas-do-Mar



Rob Azevedo








Nenhum comentário: