segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ora-Pro-Nobis




Ora-Pro-Nobis


- Rogai por nós
Pois somos pecadores -



Quanto mais se avoluma meu engenho
Mais me avolumo do mal
E desdém
Por aquelas formigas lá embaixo
E ao próprio Deus
Me igualo

Não foi essa a história de Lúcifer?

Tanto seu saber cresceu
Que se arrogou perfeição
Superior ao do Perfeito
Expulsando-se do Céu
Descendo ao breu
Aonde vive crestado

Que o viver devolva-me o halo
Da humildade
Enquanto me calo
Para que possa ouvir bem mais
Do que dizer
E maldizer
Quem um dia me deu o prazer
De ser exaltado

Eu, trovador
Tomei emprestado
O saber de muitos bardos
Foram meus mestres
Por mim idolatrados
Ao começar a escrever
Julgava brincadeira
Rabiscada
O que vertia minha pena malcriada
Em lágrimas de vergonha
Diante à Arte
Daqueles outros bardos

Passaram-se os anos
Avolumou-se meu engenho
De mãos dadas com meu engano
E um dia vi pequenos
Meus mestres de outrora

Senti-me um Michelangelo
Da Poesia
E ofertei Odes
A mim mesmo
Celebrando-me o maior
De todos

Ah! Doce sonho de um trovador...
Devaneio de criança...
Meta que nenhuma mão alcança...

Não que seja mal
Em verdade é o mais belo sonho
Nem tampouco que seja tão engano...

O que reclamo
Minha alma investigando
É que me trouxe
O mal
Da falta de humildade
E arrogância intolerante
Com quem vejo
Através de minhas lentes embaçadas pelo ego
Deveras avolumado
Num orgulho sem tamanho
Despudorado
Desapiedado

Não tenho medo da perfeição, no entanto
Essa quimera é inalcançável
Mas no paradigma da contradição
A imperfeição me atenta
Tornando-se síndrome do pânico
Quando vôo feito Ícaro
Perseguindo a lenda intangível

Não me importa!
É essa diligência que justifica
Meu vôo mais alto
Ao ser perfeccionista
Extremista
A tal ponto que me tornei
Malabarista
Contorcionista
De palavras
Mágico ilusionista
Bastando dizer
Abracadabra!

Assim se avolumou meu engenho
E vi minha Arte
Em faca de dois gumes transformada
Me apunhalando a alma
Ferindo minhas retinas
E vi meus mestres de outrora
Meros grãos de areia
Do deserto do Saara

Nem lhes disse ao menos:

Muito obrigado!

Longe disso...

Ousei roubar suas coroas
Fazer-me Rei
Igualando-me ao Diabo

Tudo porque alguém me disse:

- Os poetas na literatura consagrados
A maioria
Não chegam aos teus pés...


Perdendo-me da humildade me achei
O maior de todos
E na verdade roubei
A coroa de Lúcifer
Arrogando-se exceder a Deus

Que Ele, o Perfeito que tudo sabe
Me ensine novamente a humildade
Para que eu não pise mais nas flores que me dão
Descendo ao breu
E vivendo nele crestado...

Pelo orgulho inflamado...

Longe, bem longe

Do teu coração...



Rob Azevedo








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