domingo, 14 de setembro de 2008

Amor Melindroso




Amor Melindroso



Se me queres
Me digas
Não sou adivinho
Se não queres o vinho
Que te oferto em minha mesa
Que o recuse
Não carece polidez ou destreza
Nas palavras
Ou qualquer que seja
Impressão de grandeza
Na dor
Que há de me causar

Nada já me fere
Tudo me conforma
A ver-me a cada dia mais
Revestido por uma casca bem grossa

Se me queres
No entanto
Que o digas
Não carece
Sussurrar em meu ouvido
Em voz lânguida
As vestes já despindo

Pois o Amor não é nada disso
- Fugacidade, um fechar de olhos e consentir o desejo de uma noite de verão –
Mas a razão
Do gosto que tomamos
Por tantas horas
Que juntos passamos

E aquela saudade
Que vem ligeira e arde
Quando a pessoa amada
Parte

É toda aquela afetação
Tremenda
Por um pequeno
Desentendimento
O abalo trágico no ânimo
Quando com outro qualquer
Houvesse sido
Deitaríamos na cama
E dormiríamos tranqüilos

É o devaneio
Nos perseguindo todas as noites
Manhãs e tardes vazias
Imaginando fantasias
Com um outro alguém

O Amor de começo
É termos segredos
Inconfessáveis
Por timidez e receio
Dizendo tudo pela metade
Deixando no ar
Sempre um quê de mistério
Nunca um sim taxativo
Jamais um não exclusivo

É tudo velado...

Abstrato...

Melindroso...

É um caminhar
Pisando em ovos...

É termos para cada ato ou coisa dita
Uma desculpa
“Camuflante”, que remedia

É um passo pra frente
Outro pra trás
É nos equilibrarmos
Em cima do muro
Cozinhando tudo
Em banho Maria

O Amor no começo
É tão cheio de melindres
Como se fora uma criança
Numa loja de brinquedos
Cobiçando pegar para si
Sem que ninguém veja
Algum deles
O que mais deseje

Tanto melindre é contagioso
E o par amando
Esconde um do outro
Talvez por anos
Tudo o que sente

Ah! Quero dizer adeus
Aos meus verdes que jogo
Para colher maduro!

Quero dizer adeus
À roupagem com que visto verdades
Para que tenham ares de brincadeira
E não me compliquem
Se houver dito besteira

Quero a certeza
De saber querer
Tudo o que tu queres...

Para que nada mais eu camufle
Para que no medo eu não me abrigue
E sobretudo
Dele te desabrigue

Não te melindre
Haverá uma morada melhor
Para ti em meu coração

Do meu destino o pior
Será um não
E eu seguindo pela contramão
Do meu sentir

Mas viverei
Revestido de uma casca ainda mais grossa
Dessa que já tenho
Sem que essa armadura valorosa
Me impeça
De confessar o que sinto

Porque aprendi:

A pior saudade
É pelo Amor
Não vivido
Sabendo lá no íntimo
Que poderia ter sido
Dentre todos
O sonho mais bonito




Rob Azevedo









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