sábado, 20 de setembro de 2008

Como os Homens do Deserto




Como os Homens do Deserto



Aquele que sobreviveu dos cactos espinhosos
E dos lagartos
E cobras venenosas

Aquele que disse adeus
À sombra
E só teve a companhia
Do Sol escaldante

Aquele que só viu no horizonte
Areias e dunas

Aquele que foi espreitado
Pelas aves de rapina
E matilhas de lobos, hienas e coiotes
O esperando
Tornar-se carniça

Aquele que pediu a morte
Sendo a misericordiosa sorte
De quem peregrina perdido
Em tão estéril deserto

Aquele que lambeu no lodo
Gotículas de água
E fritou ovos
De abutres nas pedras
Rubras de calor pelo Sol
Para que tivesse almoço

Aquele que peregrinou
Solitário
Sem Sul nem Norte
Morto-vivo
Em pele e osso
Em busca d`algum oásis
Em toda parte
E nada encontrou

Conheceu todo o deserto...

Um dia chegou
Ainda lhe correndo nas veias o sangue
O coração palpitante
Numa tenda de nômades

Tinham comida e água
Um caminho a seguir
Um Norte e um Sul

E riram
Do peregrino
Pois havia se tornado Mestre
Das areias
Dos cactos espinhosos
Das cobras e lagartos
Das gotículas de água
Escorrendo em filetes
Entre as pedras
Cobertas de lodo

Havia se tornado Mestre
Das aves de rapina
Dos coiotes e lobos

Havia se tornado Mestre
Da vida e da morte
Peregrinando
Sem Sul nem Norte
Entregue à própria sorte

O abandonaram por fim
E seguiram seus caminhos
Não dando ouvidos aos seus conselhos
Para que não caíssem
Nas ciladas do deserto

Abandonado
Seguiu sozinho seu caminho
Levando um pão
E um alforje
Com um bocado de água

Os nômades
Morreram perdidos no deserto
Porque só eram mestres
Da fartura
Da boa sorte
Seguindo tendo
Um Sul e um Norte
Logo foram
Enganados por miragens

O peregrino solitário
Mestre da vida e da morte
Mostrou-se mais forte
Do que a ilusão que engana
No desterro do deserto
E encontrou um oásis

Salvou-se e teve
Longa vida
Lembrando um dia
Daqueles nômades
Que riram dele
E morreram
Sem pão nem água
Perdidos no deserto
Enganados por miragens




Rob Azevedo










Um comentário:

Anônimo disse...

ola vi suas poesias lindas singulares. tocam o infinito dos sentimentos... parabens .. belas fotos inspiradoras... um forte abraço

ricardo salles ricosalles@hotmail.com