segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Nunca Mais




Nunca Mais




Uma moça debruçada na janela
Espera, espera, espera...
Que seu Amor volte
Passa-se o tempo em anos
Gira depressa a esfera
Crescem heras
Por todos os campos
Ela continua esperando
Esperando, esperando...
Que ele volte

Atônita
Perdendo a paciência
Uma estátua de mármore
Reclama:

- Passado dê licença
O Presente quer passar!

Tudo é mudança
A fogueira já não crepita
A velha chama
Tornou-se cinza

Pessoas s
e despedem e voltam
Vêm e vão
Movimentam-se no espaço
O coração não
Quando – em verdade - se vai
Foi
O voltar é ilusão

Se voltasse quem esperas
Voltaria oco
Pão sem miolo

O Amor e o tempo
Muitas vezes
São dois relógios
Com ponteiros
Descompassados

Um adiantado
Outro atrasado

Renitente
Uma estátua de mármore
Exclama:

- Acerte a hora
Teu Amor foi embora!

Mas pra quem ama
Entender não é assim
O poema se torna
Hieróglifo do Egito

Que confusão!
Até mesmo um não
Tem valor de sim!

E suspirando
Dizes que me ama tanto...

Se tão bem me queres
Por que consente
Essa dor que sinto
Não indo?

Fui
Mas por que estás
Sempre aqui e ali
Cruzando meu caminho
Debruçada na janela
Como quem espera
Suplicante
Me olhando?

Talvez não entendas
O partir que clamo...

Sei que vai doer
Me ouvires dizer:

Não quero mais te ver!

Mas está dito!

NÃO QUERO MAIS TE VER!

Há quando
Alguém vai embora
Porque dentro dela estoura
Uma dor que é demais
Pra sofrer

Te ver
É uma adaga afiada
Que me dilacera
E se perde a calma

É o mito de Prometeu
Acorrentado ao penhasco
Com o fígado exposto
Sendo carcomido pelos abutres
Sem que se acabe
O manjar daqueles que o devoram

Se tão bem me queres
Por que consente
Essa dor que sinto?

Assim que tu me amas?

Te pergunto...

Te ver me é dor tão doída
Que por mais que a vida
Tenha sido sofrida
E a morte seja vazia
A esta negra misericórdia preferia
A ver-te novamente

O que me importa?
Ninguém mesmo entende meus versos!

Os lêem como bem querem
De cabeça pra baixo!

Tão logo jamais entenderão
A dimensão do Amor
De quem diz:

Nunca mais quero te ver!

É porque a dor
Foi demais

Houve Amor!

Não somente
Mais um caso
Pra quebrar a rotina
Houve sentimento

Houve...

Minha Paixão!

Só tão grande dor
Me dá forças
Para lhe dizer:

NUNCA MAIS QUERO TE VER!

Entenda o sofrer
De quem diz
Isso amando...

Por outro lado é quando
As palavras que realmente queremos dizer
Não saem - por piedade
E a gente sofre por não poder
Fugir do que nos mata
Lentamente
Então
Morrendo
Mente
E ficamos
No mesmo lugar

Há quanto tempo sofro
Sem ter consolo
Que não seja
O lampejo de um instante
Em meio à eternidade
Do quanto escrevo?

Morrendo nesse padecer
Que teu Amor me causa
De novo te pergunto:

É assim que tu me amas?

O que é amar então?

Querer toda essa dor
A quem se ama?

Que ninguém me entenda
Mas tu ao menos me compreenda!

Porque cada poema
Não é escrito para ninguém
Além
De uma única pessoa

Os outros que leiam
E não entendam
Desfrutem ao menos
Um pouco de poesia

Será de alguma valia!

Escrito unicamente
Para uma pessoa
Repito esbravejando mais uma vez:

NUNCA MAIS QUERO TE VER!

Amar não é viver morrendo
É morrer de Amor num outro corpo
Renascendo
Morto
Para tudo o que não seja
Amor
E vivo somente
Para este Rei Soberano

Fora todo engano!
Que causam antíteses
Esdrúxulas
À compreensão dos mundanos
Fora toda burrice!
De recair no mesmo erro
Sem jamais aprender
A dizer:

NUNCA MAIS QUERO TE VER!

Fora todo pranto e lamento!
Anseio somente o ungüento
Que sare todo ferimento
Que sangra
Em minha alma

Quero o riso e o canto
Não o réquiem
A marcha fúnebre
Dos amores defuntos

Clamo pelo espanto
Espantando as moscas
Sobre a foto preto e branco
Roída pelas traças

Rogo pelo túmulo
Do Amor morto que vaga sem cova
Pelos bosques sombrios

Suplico por uma nova aurora
Nos horizontes do meu coração
E todo aquele e aquela
Que seja contra ela
Que vá embora!

Porque nunca mais
Nunca mais
Desejo ver
O Amor morrer
Este
Que vive dentro de mim
Não por ti
Nem por ninguém
Tão somente
Por mim
Este tão grande Amor
Que me ensinou a dizer
Por tanto sofrer...

NUNCA MAIS QUERO TE VER!





Rob Azevedo










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