quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Vida São Franciscana




___ Vida São Franciscana ___











Vou-me embora aos prados verdejantes
Bem distantes
Viver entre as cabras
Tão serenas e amáveis
A pastarem e mugirem
De vem em quando

Hei de pastoreá-las
Tendo em meu alforje
Água
Em minha bolsa de lona
Um bom pedaço
De pão
No mais, a companhia
Do meu cajado de pastor
E de um cão
São Bernardo

Basta-me...

Quero a simplicidade do campo
O vento uivando
Curvando os matos
O murmurar das águas
Correndo no leito pedregoso dos rios
O silvar dos pássaros

Quero o bálsamo
Das noites brandas
Onde tudo é quietude
À luz do luar
E dos lampiões
Ouvindo o cri-cri dos grilos
E coaxar dos sapos

Acordar alvorecendo o dia
Ao canto das cotovias
Dos galos
Sabiás
E cigarras
Sentindo o cheiro de café forte
Que alguém faz na cozinha
No fogão à lenha

Sobre a mesa
O pão da venda
A milhas de distância
O pote de mel
Em favos
Das colméias criadas na propriedade
Sob abelhas revoando
Ao redor

O leite ordenhado das vacas
Enchendo a caneca
De alumínio
Coberto de grossas natas

E mais um dia
Pastoreando cabras
Pelos verdes prados

Ó vida São Franciscana!
Quero-te!
Passar meus dias
Contemplando as borboletas
Voejando por sobre as flores
Exalando suaves aromas

Ouvir os passarinhos cantando
Empoleirados nos galhos das árvores
Ver o Beija-Flor
Colhendo o néctar das rosas
No bico
E as formiguinhas trabalhando
Levando folhinhas recortadas
Para seus ninhos

Brincar com joaninhas entre os dedos
Delicadamente
Contemplando seus cascos
Coloridos
Salpicados de bolinhas

Ver um coelho correndo
Se escondendo no mato
Uma cotia
Uma gambá
Um tatu
Um João-de-Barro
Construindo sua casa

Longe dos olhos humanos
Poder com eles conversar
E com as flores
As árvores
Com o rio
As pedras
O Sol
A Lua...

Pois sou irmão deles
Com eles quero estar
E conversar
Chamando-os de meus irmãos
E minhas irmãs...

Ó vida São Franciscana!
Quero-te!

À noite
Ver os pirilampos cintilando
E rezar
Por meus irmãos e irmãs
Da Natureza
Pedindo a eles
Todo o bem que possa haver
E me deitar
Sereno
Como os prados verdejantes
Com os quais sonho
Em meus ideais franciscanos




Rob Azevedo








Cântico do Irmão Sol (ou Cântico das Criaturas)


(Quase cego, sozinho numa cabana de palha, em estado febril e atormentado pelos ratos, São Francisco deixou para a humanidade este canto de amor ao Pai de toda a Criação.
A penúltima estrofe, que exalta o perdão e a paz, foi composta em Julho de 1226 no palácio episcopal de Assis, para pôr fim a uma desavença entre o Bispo e o Prefeito da cidade. Estes poucos versos bastaram para impedir a guerra civil.
A última estrofe, que acolhe a morte, foi composta no começo de Outubro de 1226).





Altíssimo, onipotente e bom Deus,
Teus são o louvor, a glória, a honra
e toda benção.

Só a Ti, Altíssimo, são devidos,
e homem algum é digno
de Te mencionar.

Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as Tuas criaturas.
Especialmente o irmão Sol,
que clareia o dia
e com sua luz nos ilumina.

Ele é belo e radiante,
com grande esplendor
de Ti, Altíssimo é a imagem.

Louvado sejas meu senhor,
pela irmã Lua e as Estrelas,
que no céu formastes claras,
preciosas e belas.

Louvado sejas meu Senhor,
pelo irmão Vento,
pelo ar ou neblina,
ou sereno e de todo tempo
pelo qual as Tuas criaturas dais sustento.

Louvado sejas meu Senhor,
pela irmã Água,
que é muito útil e humilde
e preciosa e casta.

Louvado sejas meu Senhor,
pelo irmão Fogo,
pelo qual iluminas a noite,
e ele é belo e jucundo
e vigoroso e forte.

Louvado sejas meu Senhor,
pela nossa irmã a mãe Terra,
que nos sustenta e nos governa,
e produz frutos diversos,
e coloridas flores e ervas.

Louvado sejas meu Senhor,
pelos que perdoam por teu amor
e suportam enfermidades e tribulações.

Bem aventurados os que sustentam a paz,
que por Ti, Altíssimo serão coroados.

Louvado sejas meu Senhor,
pela nossa irmã a morte corporal,
da qual homem algum pode escapar.

Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
conforme à Tua Santíssima vontade,
porque a segunda morte não lhes fará mal.

Louvai e bendizei a meu Senhor,
e daí lhes graças
e servi-O com grande humildade.

Amém.









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