terça-feira, 21 de outubro de 2008

Era Glacial Interior




_________Era Glacial Interior_________












Que essa noite amarga me traga
A morte da amargura
A ventura
De um nascer do Sol feliz

Fatigante demais
É o tédio
Quando não há remédio
Nem para o hoje
Nem para o amanhã
Apenas algo assim que pareça
Um longo exílio solitário na Antártida
Naquele cenário frio de neves
Vendo pingüins
E comendo enlatados

Ah! Meu exílio amargo!
Longe das palmeiras
Dos Sabiás...

Quem dera eu voltar
Para o lugar de onde não vim
E nele te encontrar
Dentro de mim

É lá que estou
Feito um caramujo
Soturno
Um urso polar
Hibernando

Porque agora é inverno
No meu eu profundo
Assim sozinho
Sem quem o aquecia
O tornando verão eterno

Tudo ecoa tédio
Marasmo
Sem sentido
Vazio
No mundo congelado
Onde então vivo

Será longo meu exílio
Trancafiado dentro de mim?

Resta-me passar o dia
A ver os pingüins
Andarilhando sobre as neves
Desajeitados
Buscados as águas gélidas
Do mar salgado
Tornado pedra
De gelo

Ó cenário monocromático!
O colorido se perdeu
Tudo é branco
Até onde se perde a vista
No horizonte

Geleiras e neves...

Eu mesmo, creio
Tornei-me uma pedra de gelo!

Ah! Isso passa, isso passa!
É só um momento transitório
Em minha vida
Cinza, frio
Como há
Na de qualquer pessoa...

- Digo para mim mesmo –

O problema
É que me digo tal coisa
Desde não sei quando
Tento contar os dias marcados na parede
Do meu exílio dentro de mim
E não consigo...

Pego meu velho violão
Descansando num canto
E não sei por que
Espontaneamente, ao acaso
A canção que vou cantando
E dedilhando nas cordas
Diz:

“É impossível ser feliz sozinho...”

Mas o sentido desse “sozinho”
É bem amplo...

- Reflito –

Não diz Camões
Que há o “solitário andar entre a gente” ?

Mil companhias que eu tenha
Por virtuosas que sejam
Não me fazem menos só do que estou
Sem quem um solitário – exilado na Antártida
Tornei-me por não tê-la
Como nos dias findos de verão
Naquelas terras
Onde há palmeiras
E Sabiás

Na verdade os pingüins
Dos meus devaneios nas geleiras
Do Pólo Sul
São em simbologias
As pessoas todas
Que agora vejo
Ao não vê-la

Não me fazem a companhia adequada
Nem tampouco posso me comunicar com elas!

Estou incomunicável da alma!

Portanto um exilado
Calado dentro de mim

Até quando não sei...

O horizonte é sombrio
Desolador...

Mas Deus queira
Ainda verei as andorinhas em revoada
Anunciando a volta do verão...

E ouvirei o canto dos Sabiás
Empoleirados nas palmeiras...

Senão ao lado dela
De alguém que me mereça
Trazendo o Sol, o calor e o sentido
Mais uma vez à minha vida



Rob Azevedo














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