quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Prats dels Cremats - Testemunho de uma vida passada




Prats dels Cremats

- Testemunho de uma vida passada –
"Als cathars, als martirs del pur amor crestian.”





16 de Março de 1244…

Os cruzados logram sucesso
No assalto à fortaleza de Montségur
E nós cátaros
Negociamos a rendição da praça forte...

- Heréticos! Heréticos! Heréticos! Esbravejam os cruzados...

Aqueles que renegarem à fé cátara serão poupados
Da fogueira inquisitória!

Nossas senhoras e crianças choram
O desespero aflora
É consumado o fim
Da resistência cátara em Montségur

Tudo em nome
Da Igreja que se arroga
A ser a voz de Deus

Ó cegos
Magistrados do Diabo!
Vil pecado
É abarrotar os cofres
Da Basílica
Com ouro roubado!

Ó cruzados!
Tua Santa Igreja latifundiária
É covil de endemoniados
A serviço dos monarcas
Tiranos
Que impõe armas

Papas, Bispos, Cardeais
Toda corja
De parasitas prepotentes
Espalhando ais
Pelos quatro cantos do mundo
Sangrando, morrendo, faminto
Em nome de reis, príncipes, duques, condes
Trupe infame de aristocratas empedernidos
Auto-intitulados nobres em arrotos de porco
Ostentando diademas
Cinzelados pela Besta

Nossas crianças e senhoras gritam e choram
Desoladas
Mirando desesperadas esposos, pais, filhos, irmãos, companheiros
Sangrarem pela espada,
Por arqueiros das trevas
E dilacerados
Por pedras lançadas
De catapultas malditas

Nosso lar arde incendiado
Sob as chamas do Diabo
Nos saqueiam os cruzados!

Sangrenta chacina
Em nome de Deus
Onde tudo é heresia
Abissal covardia!

Os últimos combatentes cátaros
São dizimados
Aos olhos
De nossas crianças e senhoras

Não há saída
Tudo está perdido
Negociamos a rendição da praça forte

- Heréticos! Heréticos! Heréticos! Esbravejam os cruzados saqueadores endiabrados...

Aqueles que renegarem à fé cátara serão poupados
Da fogueira inquisitória!

Abro o peito e grito:

- Não renego!
Nosso Deus seja louvado
Não o Diabo dos saqueadores cruzados!

Todos se emudecem temerosos
Espantados
Meus companheiros se calam
Crianças e senhoras choram

Silêncio e olhares aflitos
Diante à morte cruciante na fogueira
Queimado vivo...

Agarra-me o braço um cruzado
Esbofeteia-me, chuta-me
Insulta-me
Corta meu rosto
Com a lâmina da espada
E sangra

Preparam a pira crematória
Escarnecendo de nós cátaros
Em nome do Santo Deus-Diabo

Silêncio e olhares aflitos
Crianças e senhoras choram
Vou sozinho
Ser queimado vivo...

De súbito
Uma voz se levanta:

- Em nome do povo cátaro
Também não renego
Minha fé!

E mais outra e outra e outra
Se vai ouvindo
Vencendo bravamente o medo
A vida e a morte
Com um sorriso valente de orgulho no rosto...

E somos duzentas vozes destemidas
De homens e mulheres
A não renegarem a fé

Ó servidores das trevas
Mais trabalho a vós damos
A pira crematória
Há de ser grande
Imensamente grande
Tão grande o quanto
Nossa fé
Diante a vida e a morte

Aos cantos de louvores a Deus
Somos amarrados nos mastros
Sobre a palha e madeira seca

É ateado o fogo...

Agonizamos em êxtase queimados vivos
Nos Prats dels Cremats

É o fim da resistência cátara em Montségur...

E início de uma lenda
Que atravessando em vidas séculos
Não esquece dos campos
Neles semeando não a morte no fogo
Mas o Amor em Versos



Rob Azevedo






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