segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Mercador de Ilusões




Mercador de Ilusões
- Dedicado à Megg, 25/08/2008 –





Poetisa não creia
Em tudo o que diz os poetas
Nós mentimos demais
Por tanto amarmos o Amor
E dele precisarmos em nossas vidas
A cada instante
O forjamos
Para que nosso coração se inflame
Transbordando em poesias

Ah! Vistosa quimera!
A paixão na verdade
É pela beleza estética
E sentimental
Do que escrevemos
E pela utopia
Do Amor em si

Todo poeta é um Narciso
Se mirando nas águas do lago
Onde o lago é a branca folha
O que vê seus versos

Abrigam lendas
E contos de fábulas
O mundo perfeito
Das terras de Platão

Passaram-se os tempos
Ainda vemos
Rainhas e princesas
Cavaleiros e reinos

Trovadores medievais apaixonados
Recitando seus escritos
Debaixo da sacada
D`alguma nobre dama
Da eterna Verona

Ah! Vistosa quimera!
Embebeda e vemos
O que ninguém enxerga!

Contudo, poetisa, não creia
Nessas miragens líricas...

São ilusões
Bailando no deserto...

Eu mesmo um dia cri em meus versos
Amanheci tão ébrio
Que em verdade amei
O que eu mesmo criei
Sem que sequer existisse

Eu, mercador de ilusões
Comprei
O que eu próprio vendi:

Uma garrafa verde pálida
De licor Absinto embriagante
Onde li no rótulo
Só após esvaziá-la:

DESENGANO!

Ah! Que bufão demente!

Continha a água
Do lago onde contemplei refletida
A beleza dos meus versos
Dela bebi
Cada gota
Sedento
E morri
Não afogado como Narciso
Mas embriagado
Do asco
Que me tornou fantasma...

Não creia, poetisa
Em tudo o que diz os poetas!

Pode haver alguma verdade escondida
Na entrelinha
Onde se abriga
A lâmina afiada
Da adaga
Que mata

Ó morte!
Que torne
Verdade mentirosa
No cálice da rosa
Aonde moribundo da treva
Encontre meu sepulcro
No derradeiro suspiro
Que encerra
Minha vida de poeta

Que então eu me transforme
Na metamorfose
Não num Narciso à margem do lago ilusão
Mas em alguém
Que ame
Outro alguém
De carne e osso
Tal qual é...


Rob Azevedo






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