sábado, 23 de agosto de 2008

Ego Trip




Ego Trip



Antes do alvorecer
Hei de escrever
Algum poema...

Não tenho andado lá
Muito inspirado
Na verdade fatigado
Achando tudo banal
As palavras me fogem
Escorrendo entre os dedos
Como água

Será que meu mundo
Não será mais como outrora?

Em que minha pena
Deslizava
Tão fácil nas brancas folhas
Criando lendas e fábulas
Em metáforas
Encantadas

Ainda não veio a aurora
Que minha alma
Dê à luz
Na escuridão de agora

Talvez eu, peregrino
Tenha me perdido
No caminho que conduz a mim

Talvez isso e aquilo...
Tanta coisa
Que matou
Meu lirismo...

Passam horas
Cintilam estrelas lá fora
Um cigarro, um café
Acompanham meu drama
Riscando o último fósforo
Para que acenda a chama

Já não penso
Sou todo sentidos
Sinto frio
A sombra me envolvendo
O silêncio da noite
E o vazio

Quando menino
Queria ser o meu cão vira-lata
Achava aquela vida tão descomplicada
Dormindo o dia inteiro
Vez ou outra latindo
Bastava uma lata de água
Outra de comida que sobrava

Ou então uma coruja misteriosa
Piando na noite alta
Tendo o ninho ninguém sabe aonde

Imaginei também
Ser um fantasma
Um gnomo e um duende

Ainda quis
Ser um eremita
Vivendo numa cratera
D`algum planeta perdido

Por que eu
Tão misantropo
Nasci no seio
Desse formigueiro humano?

A mim, estou habituado
De tal forma
Que me é custoso
Habituar-me a outros

O espanto que me causo
Sendo estranho e incógnito
É ameno
Diante ao que me causam:

Puro estupor insólito!

Tenho a sina
De seguir minha trilha
Sozinho
Não quero ninguém
Que me acompanhe
Nem me amole

Vagueio de um pólo
Ao oposto
Sou grego e troiano
Desdigo o que disse
Sou lagarta
Crisálida
E borboleta

Metamorfose!

Apareço e sumo
Brilho e apago
Rio e choro
Vou e volto

Ninguém me entende!

Sou uma multidão interminável
De personagens
Em mim mesmo
Em constante batalha
Um contra o outro

É tão árdua a luta
Que me vejo deveras
Cansado e envelhecido
Parecendo ter nascido
Antes de Cristo

Quem sabe nada disso
Apenas eu, andarilho
Encontre-me
Nalgum pólo indefinido

Têm dias em que tudo desaba
O que era doce acaba
E encontrar o fio da meada
Num emaranhado tão intrincado
É pagar promessa
No Muro das Lamentações
E dando a sétima volta
Em torno do Kaaba

A senda de um poema
Filosofal
Quando inicio a jornada
Confuso
Para mim é tão longa e penosa
Que no transcurso da viagem
Ao fundo da alma
Perco-me de mim
Mil vezes
Encontrando-me fragmentado
Aos cacos
Lá embaixo
Reunindo meus pedaços

Nem tudo é tão mal
Minha sorte
É que no último verso
Sempre renasço
Num Girassol



Rob Azevedo






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