quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Crise de Estrelismo




Crise de Estrelismo



Todo artista
Quando aparece
É dado a crises
De estrelismo
Eu tenho as minhas também
Sem nunca ter aparecido
Que não fosse
Para meia dúzia
De gatos pingados
Malhados
Contados
A conta gotas
Que me idolatram
Nem sei por quê
Se na verdade
Nem sou artista
Só escrevo
Umas bobagens
E me dizem:

É Poeta!

Ou talvez, quem sabe?
Até eu seja
E esteja na estrada
Underground
Trilhando-a no anonimato
E algum dia
Quando meus cabelos houverem embranquecidos
Eu brilhe
Nos círculos literários
Sendo reconhecido
E estudado
Em cada escola e faculdade

Quem sabe ainda mais?
Eu arrume mesmo algum trocado
Que me dê para comprar um túmulo
No Jardim da Saudade
Pois o tempo
Haverá chegado

Tudo é tão hilário
Que eu me divirto
Com meu sarcasmo
E explodo em crises súbitas
De estrelismo
Diante minha legião
De meia dúzia de fãs
Atônitos

É que eu me vejo em devaneios insanos
Um grande artista
Sob as luzes
Da ribalta
No palco imaginário
Do Carnigge Hall lotado
Sendo ovacionado
De pé

E também por quê
Eu sempre estudei a biografia dos grandes artistas do passado
E eram loucos de fato
Passíveis de atos
Impensados
Espantosos
Surreais
E boçais

Espelhei-me neles
E procuro de vez em quando pra quebrar o marasmo
E focar as luzes da ribalta sobre mim
Surtar diante todos
Que sejam meia dúzia de gatos pingados
Em meu delírio
São a platéia
Do Carnigge Hall lotado
Boquiaberta
Assustada
Com tanta loucura surreal
Mas vinda de um grande artista
É uma tacada genial
Estampada nas manchetes
Dos jornais
Mundo a fora

Tudo isso impulsiona as vendas
E se enriquece
Fomentando escândalos

Medito nessas coisas
Mas eu sou apenas
Um poeta underground
Só conhecido
Por meia dúzia
De gatos pingados
Malhados

Ainda assim o fato
É que me idolatram
Me bajulam demais
Acham que sou o máximo
E eu acredito
Até que surto
Subindo ao picadeiro
Sendo um palhaço de circo
Mas daquele bem famoso
Considerado
Um grande artista
Fenomenal

Na verdade sou o macaco
Que come as pipocas que lhe atiram

Fico cheio de vontades
E caprichos
Assentado num trono de ouro
Como um Rei
Porque meia dúzia de gatos pingados
Malhados
Acham que sou o máximo
Até que eu acredito

Crise de estrelismo
É isso...
Perder a humildade
Se julgar um deus humano
Sendo o maior
De todos os insanos

Perdoa-me, Meu Sol
Tudo aquilo foi só
Um ego que inchou demais
Se achou
E estourou
Diante
Meia dúzia de gatos pingados
Malhados

Rezo
Que apesar de tudo
Tu nunca deixes
De ser um deles
Acreditando em mim
Enquanto caminho
No anonimato




Rob Azevedo







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