sábado, 5 de janeiro de 2008

Legião Estrangeira – De Fantasmas




Legião Estrangeira – De Fantasmas



Cantei tanto Amor
Um dia a fonte
Da minha alma secou
Estiagem prolongada
O verde definhou
Em folhas ressequidas
O solo rachou
Em profundas rugas

Veio o inverno
Ao sopro do vento
Gelado do Norte
Meu mundo
Entristeceu

Tudo que via
Eram terras nuas
Estéreis
Árvores secas
Galhos retorcidos
Rios mortos

A inocência se perdeu
Sonhos murcharam como as flores
O riso
Não teve mais motivo

Tive medo e chorei
Quando ainda podia chorar
Depois
O sentimento também morreu
Mesmo o rio
Vertido do pranto
Secou cada gota

O maior pesar
Vinha ao me defrontar
Sem força
Para mover uma palha
Diante aos fatos
Impiedosos

Tudo era deserto
Eu um nada em meio ao desterro
Insensível

O bonde da vida indo
Embora
Sem volta
Eu murchando
Tornei-me sombra
Fantasma de mim
Cavaleiro morto por dentro
Cavalgando oculto em armadura
Atado ao cavalo
Por algum escudeiro solidário
Ao que fui no passado

À frente da tropa invisível
Segui guiando
Cruzando o deserto
Como lábaro
Inspirando
Outro tempo
Glorioso

Em mim
Jazia morto
De aparências
Valia o símbolo
E ouvi ao vento:

- Nosso General está vivo
Imbatível nos guia
À vitória!


Mal sabia o vento
Que pesava em minha alma
A mais melancólica
De todas derrotas:

Não havia mais motivo
Pelo que lutar
Nenhuma vitória
A vitória traria
A ninguém

Apagou-se
De todos dicionários
A glória

Viver tornou-se
Sem razão

Nenhuma ideologia
Nos salvaria
Nada
Nem altruísmos
Deus algum
Ou aquela quimera
Que um dia
Nos tempos da inocência
Acreditamos:

- O Amor -

Pois secou-se amargo
Em nossos corações

Na verdade nos trouxe
O pesar
Que agora sofremos

Tornou-se
Nosso inimigo
Carrasco
Cicuta
Engodo
Abutre
Víbora

Em nosso peito
Nos matava
Extirpá-lo
Nos chacinava até a entranha
Da alma

Assim em tese
Morremos
Sem saída
Num beco escuro

O maior espanto:

Mesmo a morte
Morreu!

Destituídos
Desse véu
De misericórdia sombria
Viemos a ser
O que nos tornamos:

Legião estrangeira
De fantasmas
Vagando eternamente
Pelo além
Sem descanso
Assombrando
Penando
Murmurando
Maldizeres
Ainda em cânticos
De Amor



Rob Azevedo








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