domingo, 30 de dezembro de 2007
Devoção
Devoção
Não, eu não te disse
Da noite triste
Sombria que existe
Quando de partida parte
Quem meu coração reparte
Nem do que amargurado senti
Sem ti ao meu lado
Sequer te contei
Tudo que imaginei
Por horas a fio
Na solidão do quarto
Têm coisas que não te conto
Por falta de coragem
Ou acho bobagem
Ainda aquele receio
De ver-me despido, indefeso
Flagrado em pecado sacrílego
Herético em delito
No recôndito
Do confessionário
Deslumbrado mirando
O crucifixo
Entre dois róseos mamilos
Guardo o segredo comigo
Do templo que ergui
Debaixo do véu
Da tua saia
O altar que venero
Dele sou servo
Devoto fiel
Encontra-se sob o céu
Do Santo Sudário
- A peça íntima que te veste -
Água benta
Nesse altar enlevo
O espírito e rezo
Nele teu cacho de uva
É Minha Santa
Hóstia, vinho e sacramento
Contrito me confesso
De joelhos entre um par de coxas
Minha fronte se coroa
Beijando a Redentora
Acaricia-me as madeixas
Ó deusa e abençoa
Teu servo devoto fiel
Que humilde vos beija
Arrebatado em transe místico
No santuário
Da carne e espírito
Rob Azevedo
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
No reverso do clamor enche o cálice e toma...
No reverso do clamor
Enche o cálice e toma...
-> Trilha sonora
Moro numa casa pequenina, pobrezinha
Na beira do mar
Não tenho nada pra te dar
Tenho Amor
Tenho Amor
Tenho Amor
Não tem nem linho, nem seda
Ouro nem prata
Vaso de louça, nem cristais
Não tem nada não
Não tem nada não
Tem o Amor
Tem Amor
Tenho Amor
Nada o que roubar
Nem o que se guardar
Nada que envelheça
Nada que pereça
Lágrima aquela
Que te mereça
Não tem teto nem chão
Ao alto o Céu
O Sol
A Lua, as Estrelas
As Nuvens
Abaixo o purpúreo tapete
Do Meu Coração
Não tem sim nem não
Nem contradição
Luz nem sombra
Silêncio nem som
Não tem nada não
Não tem nada não
Tem o Amor
Tem Amor
Tenho Amor
Não tem janela nem porta
Parede nem compota
De doce de Pêra
Nem tem cadeira
Sequer tem cama
Não tem nada não
Não tem nada não
Teus meus olhos a janela
Da alma
Tua minha boca a porta
Nosso Amor a compota
Do doce de Pêra
No lugar da cadeira
Teu trono
No Meu Coração
Na relva à beira da ribeira
Minha tua cama
Rimando com chama
Daquela
Que não se apaga não
Não se apaga não
Sou pobre então
Nada tendo à mão?
Não tem problema não
Não tem problema não
Tenho o Amor
Tenho Amor
Tenho Amor
No Amor tenho
Inspiração
Faço uma canção
Dó, Ré, Mi...
Vejo o universo em ti
Daí a razão
É teu meu verso
Mais pequenino, singelo:
Amo-te!
No reverso do clamor
Se arrepia
Enche o cálice
!et-omA
Meu Amor
Rob Azevedo
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Jardim Interior
Jardim Interior
-> Trilha sonora
Guardo pra ti um jardim
Onde não murcham flores
Ainda na mais prolongada
Estiagem
Nem cresce erva daninha
Ou coisa alguma devasta
Um jardim que sempre existirá
Florido
E dele as flores
Não podem ser pisadas
Ninguém
Nem nada
Que não seja as mãos
De nossas almas
Para adornar em guirlandas
Notre maison de l'amour
Pode levá-las
Dos canteiros roubando-as
Entre as fronteiras
Não viceja
A vaidade
O orgulho
A dúvida
Interesses
Jamais o mal-querer
E o esquecimento
Atravessa o tempo
Sem a tibieza de espírito, pudor
De declarar os sentimentos
Porque é dádiva
Força interior
Ainda quando jaz ferida
Amordaçada pelo orgulho
A Flor do Amor
De tudo se despe
Das pedras
Ergue castelos
Do veneno na fonte
Remédio
Do espinho que sangra
Brota vinho santo
Transbordando cântaros
Assim nada resta
De material
Que os sentidos embace
Então o milagre:
O coração vê
O que vive
Por si só
Tem vida própria
Imortal valor
Semeado, florescendo
No jardim interior
Que guardo pra ti
Amor
Rob Azevedo
FIZ DE CORAÇÃO... FIZ DE CORAÇÃO...
sábado, 15 de dezembro de 2007
Quem sabe um dia eu volte pra onde estou
Quem sabe um dia eu volte
Pra onde estou
-> Trilha sonora
Já deu minha hora
Meu Amor
Tenho que ir embora
Vem luzindo a aurora
Enxuga a lágrima
Por favor, não chora
Acaso doer bastante
Daquela dor imensa
Abraça a Saudade
Diz bom dia, boa tarde
Tem de mim piedade
Quando vier a noite
Chora o jardim
A Colombina, o Arlequim, a Rosa
Choram as nuvens do céu
Minha alma quem chora
Guarda aquele verso
Nosso Amor é eterno
Rasga aquele outro
Nada na vida é duradouro
Escuta minha prosa
Com as paredes do quarto
De quem parte com o corpo
Permanece de alma
Aguça os ouvidos
Escuta, Amor
Na sinfonia dos Sabiás
Meu coração o Tenor
Cantando
No refrão teu nome
Vê o Sol
Do alto te olhando
Sorrindo e aquecendo
Lembra o manto
De estrelas sem fim
No breu da noite
Agüenta a Saudade
Firme e calma
Conversando com o vento
Os arvoredos
As ondas do mar
Quem sabe um dia eu volte
Pra onde estou
De coração e alma
Rob Azevedo
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Triangle Royal
_Triangle Royal_
Lençóis, travesseiros, véus
Azul-turquesa no leito
Florais e quadros do menino Deus
Tapeçarias orientais, no ninho perfeito
O H do Rei sobreposto
Aos dois Cs opostos
Entrelaçados de Catherine
Formando o D de Diane
Lareira digna de reis, lustres, vitrais
Teto cofrado, esculturas, romântica vista
Do Rio Cher
Esplêndidos jardins
Em terraços elevados
A Torre de Marques
Estábulos, hortos
Pavilhões de caça
Na imensidão dos bosques
Cenário de sonhos
Do triângulo amoroso
Ménage à trois real –
O Rei, a Rainha
A amante
Favorita do soberano
À Catherine submissa
Diante o Amor do monarca
Por todo reino conhecido
A gentileza de Diane
Em conselhos sobre a vida íntima de cônjuges
E permissões, incentivos
Para que o amado
Ao leito da Rainha se recolha
Providenciando ao trono herdeiros
Em cada ducado
Com toda pompa
Recebida a preferida
Ao lado do Rei
Catherine esquecida
Vem
Dois dias depois
Solenidades
Títulos, honrarias
Propriedades rurais e urbanas
Châteaux e obras de arte
Todo Ouro e libras
À Diane
Venerada como a deusa
Da caça e da Lua
Seu ofício
Entre todos do reino o mais rentável
Cumpre
Na alcova do Rei
Tornando-se manjar da libido
Ouro, prata, jóias
O reino aos pés...
À despeito de coquetéis irrecusáveis
Marionetes em mãos vaidosas
São coadjuvantes na peça
Quando o Amor
A ambos une
Amante ornada em diamantes
De amantes as madrugadas
O depois, o antes
Tão somente nada
Horas contadas
Prepara-te!
Como a Relicário Sagrado
Banquete do Rei
No dever e honra de saciá-lo
Banhada em leite de rosas
Perfumada, maquiada
Depilada e penteada
Por damas de companhia
Ó meretriz elegante
Da fina nobreza
Por detrás dos véus
Refulgindo a pele alva
Abre tua guarda
Oferta a relíquia
Que trazes no corpo
Aos desejos
De teu soberano
Santificado será o gozo
Em Bula Papal
Solenemente trazida
Nas mãos
D`algum cardeal
Santo deleite!
Salvação da alma! – dirá o Sumo Pontífice
Ó, Favorita!
O reino conspira
Em matéria e espírito
Práxis e filosofia
Qualquer heresia
É-nos bendita!
Abre as portas levadiças
De tua fortaleza ao Rei
Adentra-rei
Ainda que me afunde
Perdido no fosso
Que seja aquele
Bem-quisto
Entre duas alvas Camélias
Rob Azevedo
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Diane
Diane
Diane, teu Rei, das profundezas da alma
Por ti clama, ardendo na chama
Que jamais se apaga, ainda extinta a vida
Vem ao meu encontro, ó pérola feminina!
Sobre o rio, o château mais belo
Erigido do engenho da arquitetura
Contempla com requinte e esmero
Tua fineza, romantismo, vasta cultura
És a eleita que a todas desbanca
Deusa mitológica da caça e da Lua
Enlevo do espírito em noite branca
Vem ao meu encontro por florida rua
De versos, lembranças, paixão, encanto
Encontrarás o Rei em leito de Ouro esperando
Rob Azevedo
O Lago dos Cisnes
O Soneto abaixo o escrevi inspirado no balé dramático de Tchaikovsky – O Lago dos Cisnes. Minha composição – do meio em diante - é um pequeno resumo do enredo da obra de mesmo nome do compositor russo.
O Lago dos Cisnes
Um passeio meditativo num parque
Na beleza estupendo, bosque florido
Verdejante gramado, ao Sol da tarde
Às margens do lago, cenário esplêndido
Cisnes brancos nas águas desfilam
Graciosos, serenos, sonhos invocando
No devaneio do maestro um balé despertam
De reino e feitiço, príncipe e donzela se amando
Juras d`Amor, verdadeira, eterna paixão
Artimanhas de mago, inundando de engano
No cisne negro, malevolente ilusão
Quebrado o juramento, traz o pranto
Persistem votos incólumes no coração
Que se afoga no lago pelo cisne branco
Rob Azevedo
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Château de Chenonceau
_Château de Chenonceau_
A noite vai alta
Após o Amor com a Rainha
Para que dê herdeiros ao trono
Sorrateiro me despeço
A caminho do prazer verdadeiro
A alcova da favorita
Dona do reino
Do meu coração
A Duquesa de Valentinois
Aquela com quem
O Amor é ardente
Profunda paixão
No leito me recebe
Como Rei
Descortino os véus
Fito olhos lânguidos
Cúmplices
Flamejando desejo
Ao lado
Da favorita me deito
Nua esperando
Banhada em leite de cabras
E pétalas de rosas
Coberta por lençóis de cetim
Suplicando em voz doce
Coroarmos almas e corpos
De Amor
Inteiramente saciado
Ó, deusa serva
Dos meus caprichos
No recôndito do leito
Beije minhas mãos
E tenha a honra
De servir ao teu Rei!
Sou soberano do reino
Teu Rei e vassalo
Ó, minha dona!
Teu corpo é meu recreio
Oásis, aconchego
Perdidamente anseio
Que venha a primavera
E mudemos com a corte
Para o Château de Chenonceau
Sobre o rio Cher
Ao mais glorioso
Esplêndido
Encantador
Romântico
De todos châteaux
Da França
Aquele que vos dei
De presente, ó, deusa!
Onde nossas iniciais
Entrelaçadas
Com resplendor são vistas
Por toda parte
Memorial suntuoso
À minha devoção por ti
Símbolo da paixão
Ícone de amantes
Por Deus escolhidos
Coroa-me de prazeres
Com as delícias do teu corpo
Rendido de coração e alma
Porque destes
Sou teu Rei
Qual de todos os reinos
Haveria eu de mais amar
Senão vós em pura essência?
Ó, Duquesa de Valentinois
Mais cara que todas as terras
Da Europa
De todos continentes
O Amor com que me presenteias
Do cair da noite ao arrebol da aurora
Não tem para ti rivais
Amor sem igual
Nem amanhã
Nem outrora
Nenhum
Da mais excelsa dama
Será digno
De comparar-se
Aquele que me doa
Nas alcovas
Dos châteaux
Que venha a deusa Vênus
Ao reino
Rivalizar contigo...
Ao Olimpo
Regressará
Cabisbaixa
Tendo a deidade
Para ti perdido
Antes
Beijará teus pés
Venerando-te
Pela vitória
Nenhuma jóia
Ou prata
Nem Ouro
Paga
A glória
De vos ter
Em minha cama
Como teu Rei
Ó, Luz
Que eclipsa a aurora!
Minha coroa, meu reino
É a Duquesa
De Valentinois
Rob Azevedo
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Maîtresse en Titre
_Maîtresse en Titre_
Omnium Victorem Vici
Entre as beldades da corte
Vem ser minha Maîtresse en Titre
No palácio acomodada
Teus aposentos soberbos
Unir-se-ão aos meus
Por túneis secretos
Tornar-te-ei Dama de Honra
Da Rainha
Em breve tempo
Marquesa
Ornada de jóias
Retratada por gênios pintores
Para posteridade
Como exuberante deusa
Dar-te-ei o ducado que queiras
Serás duquesa
Honrarias e títulos de nobreza
Brasões e libras
Renda vitalícia
Prataria e Ouro
Louça chinesa
Magnificentes carruagens
Encantadores châteaux
De Outono, Inverno
Primavera e Verão
Às margens de rios e lagos
Entre bosques e jardins
De contos de fadas
Bem vinda aos prazeres da corte!
Bailes de gala
À fantasia
Festas glamorosas
De sete dias
Celestiais banquetes
Adegas, vinícolas
Transformadas em súditos
Ofertando a safra
Mais primorosa
Solenidades
Com toda pompa
Da monarquia absoluta
Santificada pelo Papa
Incontável criadagem
Uniformizada, sempre atenta
Salões decorados
Com obras de arte
De Rembrandt a Da Vinci
Quadros, esculturas
Cristaleiras
Lustres e vitrais
Tapeçarias orientais
Dramaturgias, sinfonias
Vistas
De preciosos camarotes
No teatro real
Jogos de cartas
Equitação
Caça aos veados
Pesca
Esgrima
Passeios ao Sol
Nos pátios internos do palácio
Sob sombrinhas
Levadas por damas de honra
Jardins esplêndidos
Estátuas clássicas
Chafarizes
Trajes suntuosos
Ostentação
O reino inteiro
Aos nossos pés
De camponês a nobre
Aos cofres
Do tesouro nacional
Cada capricho
Saciá-lo um dever
Dos cortesãos
A preferida do soberano
Maîtresse en Titre
A serviço do Rei
Na alcova elegida
Pela paixão
Mesmo a Rainha
Haverá de beijar-te os pés
Dizer-te boa noite agradecida
Pelos serviços prestados
Ao monarca
Em ménage à trois real
Ao vê-la no cair da noite
Retirar-se em companhia do esposo
Ao teu aposento
De Maîtresse en Titre
Contíguo ao dela
Que enlevo à tua alma feminina
Saber que a Rainha
Com teimosia ferina
Secreto deleite de voyer
Que a alma humilha
Ainda vê teu Amor com o Rei
Ardente, extrapolando a exaustão
Todas as noites
Encharcando o corpo de suores
Através de frestas abertas
Por empregados a mando dela
Na parede que os quartos divide
Choramingando com as confidentes
Confessa:
- Ele nunca me usou tão bem!
Bastardos serão nobres
Duques e duquesas
Marqueses e marquesas
Condes e condessas
Criados pela Rainha
Como os próprios filhos
Ou como queiras
Haverá de criá-los
Também aqueles da soberana
Como teus
Nosso ideograma
Sobre os portais
De deslumbrantes châteaux
Cada súdito
Ao passares se curvará
Humildemente
Todo pedido
Dever e honra cumpri-lo
Ai de quem
Contra si se volte tua ira
Expropriação de bens
E banimento do reino?
Prisão perpétua
Na masmorra?
Forca?
Decapitação?
Esquartejamento?
És a predileta do soberano
Contra ti ninguém pode
Tudo que desejas tens
Em alcova Diamantes
Leito de Ouro
Cravejado de Esmeraldas e Rubis
Acima os dizeres:
A serviço do Rei
Só vivo através dele
Conquistei aquele
Que a todos conquistou
Rob Azevedo
sábado, 8 de dezembro de 2007
O Rochedo de Gibraltar
O Rochedo de Gibraltar
-> Trilha sonora
Alma posta
No papel em branco
Sagrado refúgio
Do poeta saltimbanco
Campos de Lírios
Altar no Templo
Picadeiro do Circo
Alamedas do Palácio
Do mundo esvaído
O passeio em versos
Vôo de pássaro
Navegar em mares
Aonde me levas
Ó, Lira de Poeta?
Ao Rochedo de Gibraltar?
Ondas espumantes em escumas
Dispersas ao vento
A maresia
Garças grasnando
Marinheiros no píer
De toca e tatuados
Ancorando embarcações
Trazendo cestos
Transbordantes de pescado
Olhos mortos
Guelras
Barbatanas
Escamas prateadas
Refulgindo ao Sol
Sobre corpos cinza
Viscosos
Peixe fresco!
Revoada de garças sibilantes
Voando em círculo
Pousando
Andarilhando com pernas
Compridas e finas
Nas beiradas
De caixotes abarrotados
Os pesqueiros balouçam ancorados
Ao sabor das ondas
Peixeiros limpam o pescado
Refletindo ao Sol lâminas
De facas amoladas
Um gato a tudo espreita
Desconfiado
Entre um e outro miado
Rosna
Serpenteia o rabo
Crava na madeira do píer
Afiadas unhas
Escorrendo
Deixando trilhas
Espreguiça
Eriça pêlos
Alisa o bigode
Se lambe
E mia
Rola e se deita
Aconchegado
Num amontoado
De cordas
Espera sua hora
Com a ansiedade dos felinos famintos
Que alguma tripa
Por caridade
Lhe seja dada
Falta ainda
Um bom tanto para o meio-dia
Ao longe alguém assovia
Canções do mar
Mãos calejadas
Pela vida
De marinheiro
Recolhendo cordas
Anzóis e redes
Empurrando barcos
Carregando caixas
Se cortando em facas
Afiadas
E corais
Peles curtidas
Pelo Sol causticante
Morenas
Da cor dos troncos
De amendoeiras
Shorts desfiados
Nascidos
De velhas calças recortadas
Camisetas surradas
Puídas
Manchadas
Pés descalços
Cobertos de calos
Couro de touro brabo
As ondas balouçam
Os últimos pesqueiros
Vão chegando ao píer
Acompanhados
Por revoadas de garças
Em febril algazarra
Ao longe alguém canta
Canções do mar
Canções de Amor
Recordando aos marinheiros
Que amar
Também é preciso
Cumprida a lida
Se vão às suas singelas casas
De paredes caiadas
Contemplando as moças
Passarem ligeiras
Rebolando as ancas
Em saias curtas
Saltitando os seios
Em decotes fartos
Detém-se nas tavernas
Na beira da praia
Uma dose, duas doses, três doses
De bebida forte
Quente
Como o Sol causticante
De repente
A cabeça gira
Um bufão
Toca cítara
Castanholas
Entreolham
Uma jarra
De Sangria
E se vão os cavalos-marinhos
Galopando pelas ruas
À beira-mar...
Se vão com estes
Os peixes-de-asas
Voando em bandos
Cruzando o rochedo
De Gibraltar
Estupenda bebedeira
Ao meio-dia
Quando a noite chega
Pós descanso
Tarde inteira
O marujo se levanta
Da cama
Com bafo de onça
Cabeça zonza
Toma um banho
Se apronta
Ajeita a barba
Põe um pano
De festa
Xadrez
Azul-grená
Água de cheiro
E preces
Profanas
À deusa do mar
E se vai o marujo
Atrás das moças
Que rebolam as ancas
Pelas vielas, nos mercados
E em passes de dança
Nos bailes
De Gibraltar
No caminho
Ancora o lobo dos navios
Nas habituais tavernas
Esvazia canecas
Garrafas
Barris
Embaçada a bússola
Sem Norte nem Sul
Segue rumo
Na esperança
De encontrar
O porto noturno...
A cama
D`alguma moça
Faceira, de olhar brilhante
Riso fácil
Vistosas coxas
Cintura fina
Ancas roliças
Seios firmes
Do tamanho
Exato
Da boca
O porto noturno
Noturno porto
Ancoradouro
No corpo
De mulher
Entre coxas
Abertas
Feito pétalas
De Perfeito-Amor
Mergulho
Na fenda purpúrea
Em busca
Da pérola
Se falasse
O Rochedo de Gibraltar
Diria que vê se amando
Estrelas-do-Mar
Rob Azevedo
sexta-feira, 7 de dezembro de 2007
Por Quem Suspiro?
Por Quem Suspiro?
Nas manhãs
Tardes e noites
Arrebatado o espírito
Por quem suspiro?
O nome de qual dama
Encravou-se em meu peito
Na ponta da lança de Cupido?
Por quem
Ó Lua
Arde a chama?
Minha alma clama
O corpo se revira
No leito
Mourro em suspiro...
Qual diva
Ó Céus
É razão
Do delírio?
A quem meus versos dedico?
Flores em primavera
Se abrem
Em delicadas pétalas
Beldades vistosas
Em rosas
Camélias
Açucenas
Magnólias
Jasmins
Margaridas...
Tantas flores infindas!
Qual delas
Definha meus sentidos
Torna o pranto rio
Faz da lucidez desatino
Viver morrer em suspiro?
Ó Flor, te amarei
Raiando o Sol
Vindo mostrar-me quem és
Basta um sorriso
Onde o meu nele se espelhe
Um afogar-se em olhos
Arrepiando poros
Bastam dois corações uníssonos
Entoando harpa e címbalo
Em boas vindas
Ao Amor Bendito
Rob Azevedo
O Cão
O Cão
Tornei-me um cão
Risonho
Sem alma nem coração
Lambendo o chão
Vagueio pelas ruas escuras
No frio madrigal
Entre brumas
Revirando lixo
Meus pêlos orvalhados
Abrigam pulgas
Cheiro a cão molhado
Rindo demente
Mostro os dentes
Inconseqüente troçando
Da vida alheia
Maldita a minha sina
Clamo companheiros
Em desgraça canina!
Alguém que sinta
A si tão em cão transformado
Sem pedigree, nem dono
Que venha ladrando
De quatro patas
Vadiar no breu noturno
Adeus! Correntes, coleiras, canil
São indignos de mim
E vice-versa
Sou cão vadio
Vagueando por desertas ruas
Revirando lixo
Faminto
Fatigado de amores
Que em cão me tornaram
À promiscuidade do cio
Animal instinto
Sem tino, nem dona
Cantarei minhas trovas em uivos
Ofertando-as à Lua
O Amor único
É humano demais
Num mundo habitado
Por cães
Ladrarei até o dia
Em que restabeleça a fé
E torne
A caminhar de pé
Rob Azevedo
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
Poema Sem Cor
Poema Sem Cor
Sem sentimento
Inspiração
Nem vontade
Escrevo um poema
Nasce pálido
Descamisado
Pé descalço
Sem-teto
Sem-terra
Inválido
Em pecado
Sem sentido
Faminto
Famigerado
Passo o tempo
Deslizando a pena
Sem nem mesmo valer a pena
Tantas sem-razões no mundo
Por que não um poema
Ainda que nasça mudo?
Desnudo
Carrancudo
Sisudo
Robusto ou miúdo?
Falta de inspiração
Amargura dos poetas...
Oh! Meu Deus!
Oh!
Minha pena zombeteira
Escreve poesia desinspirada
Falta de inspiração é tema
Calando qualquer dilema
Que venha um poema cinza
Vazio, desbotado
Sem nada a dizer...
Lembrará os filósofos
Em crise existencial
Diante a vida
Todos nós um dia
Não nos perguntamos a razão de tudo?
Não nos deparamos com o Nada
O absurdo
O tédio
A retina fatigada?
Tão natural do ser humano!
Então...
Falta de inspiração é tema
Calando qualquer dilema
Rob Azevedo
sábado, 1 de dezembro de 2007
Tributo a Ti no Tom
Tributo a Ti no Tom
-> Trilha sonora
Eu tenho que ir
Dindi
Nessa vida num deu pra gente
Amei, sofri
Tenho saudades
Do que não vivi
Nosso Amor não sei por que
É sombra, nuvem, vento
Água escorrendo
Entre os dedos e dos olhos
Eterno etéreo
De pedra e aço
No sentimento
Concreto armado
Castelo erguido na rocha
Fantasma no viver
Agora e aqui
Embora eu queira o que tu queres
Deus não quis
Que vivêssemos as lendas
De nossas poesias
Tenho que ir
Dindi
Vou ouvindo Tom Jobim
Se soubesses o quanto
É difícil pedir
Me deixe partir
Vou indo
Dindi
Chorando demais
Tudo que não vivi
Nossos passeios na praia
De mãos dadas
Nosso descanso na rede
Duma casinha de sapé
No pé da serra
Serenatas ao luar
Contando estrelas
Dias inteiros
No aconchego da cama
Coberta de rosas
Vou indo
Dindi
Sonhando todos esses sonhos
Contando em versos
Histórias de Amor
Contigo
Dindi
Rob Azevedo
O Crisântemo
O Crisântemo
Tan tan, tan tan, tan tan, tan tan...
Tamborilo na mesa
Ecoando no tédio vespertino
Meu nonsense musical
Espero o tempo escorrer
De grão em grão
Formando dunas
Talvez à noite
Alguma novidade
Quem sabe
Uma festa inesperada?
Nessa hora eqüidistante
Do Nada ao Porvir
Ninguém sequer lembra
Que existo
Abandonado no mundo
Soterrado entre ossos de ócio
Miro o vazio
Na folha nua da agenda
Escrevo um poema
Sentindo na língua
A alma do Nirvana...
Quietude
Ostracismo
Paz
O espaço branco...
Pareço exilado
Numa cidadela qualquer
Além da Sibéria
Se eu grito e morro
Alguém ouviria antes da morte
Meu clamor de socorro?
Acaso ouvisse
Se importaria?
O que valho no mundo?
Fatigado imagino
Valer o mesmo que sinto:
Um Nada absurdo...
Menos que um pirilampo...
Por que me cristalizei
Num ser humano?
Não poderia ser tão somente
Um crisântemo?
A vida tão menos complicada
Sem filosofias em horas vazias
Sem exigências
Nem coisa alguma
Sem dores de consciência
Nem perguntas e respostas
Mal formuladas
Sem insônias
Nem tardes entediadas
Até o monótono vazio
Imperturbável
Rotina do dia a dia
Sempre igual
Seria natural
E nenhum pensamento
Discorreria em contrário
Quisera eu ter nascido
Apenas um crisântemo
Inocente
À beira de um rio
Rob Azevedo