terça-feira, 10 de junho de 2008

芸者




芸者



Aonde o Sol nasce
No Leste
O mundo se reveste
Do encanto da flor
Do Salgueiro

Fina na Arte
Da pétala ao cálice
Artífice
Do enleio sedutor
Mestra
Na dança e canto

Penteado em forma
De pêssego
Maquiada de branco
Rosto de boneca
De porcelana
Vestida de quimono

Elegante
Culta
Delicada
Como um tesouro guarda
Milenar tradição

Insondáveis mistérios
Nos olhos riscados
Baixos
Na voz velada
Suave
Afinada em gestos
Graciosos

Do outro lado do mundo
Buscando absorto
A Gueixa dos meus sonhos
Cruzei arrozais
Cheguei à cidade
Orei no pagode
Perambulei taciturno
Pelas ruas de Quioto

À luz de lamparinas
Névoas se esfumam
E caem
Finos flocos de neve

A noite é fria
A rua vazia
Toda palavra dita ou escrita
Um enigma...

芸者

Ó Gueixa!
Dama de polidez
Valorosa e tão assídua
Em meus sonhos...

Numa casa de chá
Imersa na penumbra
Vinda de velas em castiçais
Encontrei-te
Incomunicável nas palavras
Compreensível nos sentidos e alma

O encantamento
A sedução
Tem sua linguagem
Silenciosa

Que se parta a ilusão!
De amante por prata
Dolente engano
Veneno na água

Que se separe
O trigo do jôio
Nos ampare
O Iluminado

Nem da terra se perca
Vossa imagem soberba...

Que minhas mãos a toquem
A envolvam
Deslizem na pele nua
Não por prata
Como dizem outros
Mas pela simples e pura
Beleza da Lua

Ó Amor!
Vinde sereno
Límpido
Derramar seu bálsamo
Sobre nós
Nessa noite em Quioto
A sós
Numa casa de chá

Lá fora
As ruas são vazias
A noite desolada e fria
Arranha-céus desertos
De solidão e agonia

Descansam do dia após dia
De árdua labuta

Ao nascedouro do Sol
Oferto meu canto
Que seja o lenço
A lhe enxugar o pranto

Esse que enxugo dos meus olhos
Porque eu peregrino mundo afora
Sabedor que ainda há
O que virá no luzir da aurora
Encontrei
A Gueixa dos meus sonhos


Rob Azevedo





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