terça-feira, 4 de março de 2008
Melodrama de Dois Corpos Se Espremendo Contra a Parede
Melodrama de Dois Corpos
Se Espremendo
Contra a Parede
Larga desse copo
De Whisky
Apaga o cigarro
E fecha a porta
O assunto
É entre nós
Vem cá Mademoiselle
Andas se embriagando
Demais
E acende
Um cigarro n`outro
Sua vida tão revirada
De ponta à cabeça
Noite virou dia
Dia virou noite
Vejo a hora
Em que de mala e cuia
Virá bater
À minha porta
Fugirmos para o Tibet
Não é
Uma boa idéia...
Nem de Poesia e Amor
Viveremos
Seja lá
Como for
Queima um pouco mais
Dos seus neurônios
Pensando em algo
Diferente...
Abdução por extraterrestres...
Que tal?
Verossímil te parece?
Olha Mademoiselle
Poesia não se come
Nem a fama nos dá cama
Todo poeta
Morreu na penúria
Declamando ao vento enlouquecido
Que as gerações futuras
Lhe renderiam glórias
De corpo e alma
Absortos
Por esse Elixir da Imortalidade
Trilharam seus caminhos
Semeando versos
Esperando, quiçá, um dia
Serem mortos
Famosos
Consagrados
Na Literatura
Objeto de estudo na escola...
É bem assim
Nosso prato de comida
Só vem
Quando já não temos
Fome
Sequer estômago nem boca
Somos apenas
Caveiras se esfarelando
Numa lápide qualquer
De um cemitério além do mundo
Ah! Viajo tanto em minhas querelas!
Ó, Ululante Libélula!
Tudo isso me revolta
Na tela branca deixa nódoa
Inundando o atelier
Num mar de mágoa
Seu equilíbrio se revira
De ponta à cabeça
Nessa paixão mal resolvida
Dividida
Pra nós dois
Esmigalhada
Aflita, sem saída
Trocando o dia pela noite
Paixão por segurança
Busca refúgio
No cigarro
Na bebida
Sobretudo nas quimeras
Que eu mesmo acalento
Em mil poesias
Ah! Um pouco mais
Seremos dois
Bêbados caídos na sarjeta
Dando pano pra manga
A cineasta
De melodrama
E quão bela história se verá
Nas telas Hollywoodianas...
Risos...
Que se danem esses tolos!
Que riem às gargalhadas
Exibindo em suas bocarras
Dentes de ouro
Não passam de devoradores de revistas
Que contam a vida íntima...
Ainda ruminam hipocrisias
Rindo
Do que nos bastidores
Dão muito mais motivo ao riso
O que esperam
Encontrar nas páginas dos diários alheios
Senão tudo aquilo que espanta
E é visto como loucura?
Se há de rir das insanidades dos outros
E os outros rirem das suas
Cometa ao menos
Suas próprias loucuras
Verdadeiro louco é aquele
Cuja grande loucura de sua vida
Foi cometida por outros
Danem-se todos
Que morram em convulsões de riso
Internados neste dourado hospício
Que é o mundo cão
Dane-se ainda
Nossa bestial confusão...
Mas rezemos contritos a Baco
Para que ao menos, algum dia
Nalguma esquina qualquer da vida
Quando na sarjeta estivermos dormindo
E os cães vira-latas vierem lamber nossas bocas
Possamos afugentá-los aos berros
Mais estrondosos do que quaisquer latidos
De tão ébrios de orgulho íntimo estaremos até os últimos fios de nossos cabelos embranquecidos
Porque tivemos
Atitude
E essa será
Nossa oração
Protetora
Alimento
E abrigo
Vomitei a solução
Pra essa intrincada equação
Matemática
Agora vou-me embora
Vou-me embora
Antes que cerrem
As cortinas
E apaguem
As luzes
Alguém sabe onde passa
O ônibus pra Pasárgada?
Rob Azevedo
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