quarta-feira, 20 de junho de 2007
O Iconoclasta
O Iconoclasta
Às vezes penso comigo:
Não vamos idealizar demais
Porque santidades não existem
Pessoas são imperfeitas
Tudo na existência
É composto de imperfeição
Arestas mal polidas
E espinhos que ferem
Sagrando quem neles se corta
A ufania dos poetas
Ergue quimeras nas nuvens
Vem a trovoada
Desabam sobre suas cabeças
Férteis na imaginação
Que a tudo adorna
De encanto e suavidade
Recriando modelos
Posando para que sejam transformados em Arte
Ó santidades
Do pau oco!
Em versos
Vedes a ti mesmos perfeitos
Excelsos na beleza
Caráter e castidade
De nobreza tão elevada
Que voam feito Ícaros
Nas alturas dos céus
E haverão de queimarem vossas asas de cera
No calor do Sol satírico
E despencarem sobre os telhados
Daqueles que assim vos criaram
Toda rosa
Guarda em si espinhos
Os diamantes mais belos
Têm suas arestas
E todo ouro
Não é puro
Ó poetas ultra-românticos
Que a tudo idealizam
Vossos tempos se passaram
Suas rimas continuam
Declamando utopias
Miragens no deserto
Prados floridos nos vales do desterro
No afã de saciarem a sede d`alma
Haverão de envenenarem-se
Nas fontes que vêem cristalinas
Através do prisma de olhos cegos
Não enxergarão as impurezas
E as águas recriadas de seus versos
Trarão à vossas gargantas sedentas
Quem sabe um lagarto asqueroso?
Que se escandalizem todas as musas!
Minha Arte não é prostituta
Não se vende
Para que egos sejam massageados
E nunca foi galanteio de sedutor calhorda
Ansiando deitar-se com outra na cama
Quantas de minhas musas um dia
Torpemente já me escandalizaram
Desmerecendo toda dedicada Poesia?
Essa conta
Faz tempo perdi
E se decepcionei minhas musas
Não me importa
Se foi por dizer o que sinto
Antes isso
Do que ser hipócrita
Meus poemas não são pontes
Para novas conquistas
Somente digo o que penso
Sem ser ingênuo
Refletindo o momento
Fugaz, que se transmuta
No espelho refletida
A experiência da vida
E o que vêem meus olhos
Sem as lentes da utopia
Essa quimera míope dos poetas
Embelezando tudo que cria
Tampouco meus versos
São vômitos rancorosos
De minhas entranhas desiludidas
Nem sou niilista
Revoltado, pessimista
Ou alguém que tenha colhido
Em vivências anteriores
Frutos amargos
Dolorosos e cortantes
Mas somos todos humanos
Não sumidades da perfeição
À imagem e semelhança de Deus
A beleza seja cantada
Tal qual é
E que os espíritos nela se embriaguem
Embevecidos
Mas a feiúra
Nunca será censurada
Ou nascida órfã
Somos realistas!
Meu coração e alma são de Poeta
Mas minha mente é de filósofo
Amante da Verdade
Nua e crua
Ainda que não seja a sua
Se te espantam meus versos
Cuspa neles e os rasgue
Mas não censure minha Arte
Nem perturbe meus ouvidos
Com vossas queixas doentias
Imaginando-te Narciso diante
O espelho partido
Acaso por demais se exalte
Apenas uma coisa vos digo:
Pegue vossa pena
Se debruce sobre a mesa
E escreva seu poema
Porque esse, meu caro
Minha cara
É meu
Sou eu quem sinto
Reflito
Padeço
E escrevo!
Se puder
Faça melhor...
Rob Azevedo
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