quarta-feira, 20 de junho de 2007
Bifurcação
Bifurcação
Amanheci amargurado
Diante um caminho bifurcado.
Um deles era largo
Margeado de macieiras
Frondosas e os frutos maduros
Escurecidos de tão vermelhos.
Pássaros, em revoadas
Silvando nos galhos
Sorviam o néctar das maçãs.
Leve brisa
Derribava-as ao chão
Apodrecidas.
Além dos pomares
Campos vastos
Relvas verdejantes
Jardins de rosas.
Adiante
Rios e cachoeiras caudalosas.
Seria tão fácil
Seguir aquela senda!
Eximindo-se de toda aquiescência
Fartar-se em banquetes
Trepando nas macieiras
Colhendo frutos
Espatifados no chão.
Restos carcomidos
Pelos pássaros
Saciam a fome
Ainda que podres
São manjares
De comensais sedentos
Partilhando restos
Com outros animais.
Tão fácil seria
Trilhar aquela senda!
Detive o passo...
Voltei os olhos à direita...
O que vi
Era um caminho estreito
Tão somente rastro
De pegadas na areia.
De ambos os lados
Dunas alvas
Deserto interminável
Nem o vento soprava.
No manto celeste
O Sol escaldante
Derretendo ferro.
No horizonte
Envolto em brumas
Um pigmento verde
Pequenino.
Meu espírito inquieto
Cala em dúvida enigmática
Ao sorriso da esfinge
Devorando indecisos
Entre caminhos bifurcados.
- A voz da esfinge -
Vedes à esquerda!
Manjares fartos
Consentidos
Ao alcance das mãos
Frutos doces
Margeiam a senda
Nos pomares
Repletos de pássaros.
Além convidativos
Beneplácitos
Campos verdejantes
Relvas macias
Jardins de rosas
Cachoeiras.
D`outro lado
Um rastro
De par de pegadas
Na areia
Atravessa
Deserto interminável
Sem refrigérios
Nem ao menos cactos
Onde água se encontre
Ou lagartos
Que sirvam de alimento
No horizonte
Milhas adiante
Envolto em brumas
Um pigmento
De verde cor.
Qual dos caminhos seguirás?
Um se oferece a vós
Largo e consentido
Transbordando promessas
Manjares fartos
Prazeres infindos
Outrossim, atraindo
Revoadas de pássaros
Buscando o verão.
Pousam nos galhos
Das macieiras
Sorvem o néctar dos frutos
E partem saciados
No outono.
Os animais silvestres
Fartam-se sobejamente
Nos banquetes oferecidos
Partindo
Lambuzados de mel
Ao vir a estiagem.
N` outro caminho
Um par de pegadas na areia
Atravessa deserto estéril.
Nenhum ser vivente
Buscando o verão
Trilhar tal senda
Sequer se atreve.
Numa placa desbotada
Lê-se: Não!
Qual caminho haverás de seguir
Ó peregrino do Amor?
Detive a resposta
Uns instantes
Meu espírito turvou-se em dúvidas
E temores abissais.
A esfinge
Não me devoraria
Qual fosse
A escolha
Mas o próprio caminho
Escolhido...
Ah, longe de mim
A senda oferecida
Como transbordante de prazeres
Fáceis, ademais traiçoeiros
Que atraem os pássaros
E todos animais silvestres!
Em cada macieira
Ao alcance das mãos
Sobejam frutos maduros
Esconde-se uma serpente!
Víbora peçonhenta
Que aparta-nos do paraíso
Deslumbrado n`outro caminho
Onde avisto ao léu
Entre brumas de mistério
Um ponto verde
Resplandecendo a esperança
Do mais belo, casto e puro oásis
Jamais encontrado!
Esse caminho seguirei!
Em que vejo tão somente
Na areia
Um par de pegadas
Claro indício daquela
Que trilhando árdua senda
Sem a turba dos comensais
Há de esperar-me no horizonte
Num oásis de encanto
Recatada e única
Majestosa e pura
E desposar-me...
Ariadne
Fartar-nos-emos
De Amor...
Rob Azevedo
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