segunda-feira, 28 de julho de 2008

Castelo de Montsegur




Castelo de Montségur



Nasci com dote
De ser fantasma
Atormentado
Por fantasmas

Minha casa
É na treva
Aonde a porta
Está fechada

Trancada!

O cadeado não se quebra

A canção que ecoa
Por lúgubres corredores e átrios
É o réquiem
Dos desenganados

Desalmados!

À noite saio
Deixo o castelo
De Montségur

Desço a íngreme colina
Perambulo pelas vielas
Da cidadela
Abandonada

Deparo comigo
Condenado
Não paramentado
Pelas vestes de um cavaleiro consagrado
Mas aos farrapos
Escondendo o corpo em chagas
Com a mortalha
Dos amaldiçoados

Como os ratos
Entre as ruínas
Busco o limbo
O chão pisado
Entrando
Nos canais
Subterrâneos

Há um tesouro
Emparedado
Lá embaixo
Pelos cátaros

A encontrá-lo
Estou fadado
Até que a vida
Me leve da morte

O Santo Cálice!

Depositário do sangue
Do Mestre de antes
Portal dos mundos
Única chance
Para que a vida
Rebelde e compungida
Me leve da morte
No luzir da aurora
E me torne
Como outrora
Cavaleiro
De luz irradiante



Rob Azevedo








terça-feira, 22 de julho de 2008

Dama da Noite




Dama da Noite



Ó Dama da Noite
Vem derramar em minha boca
O bálsamo da tua doçura
Vem, me beija, me incendeia
Por Deus seja feita
A alquimia!
Desata o laço
Das madeixas
Despe tuas vestes
De princesa
Em nosso leito se deita
Entrega o corpo casto
Ao teu nobre bardo

Por ti cantarei
Enquanto sinos badalam
Por ti morrerei
Jazendo em gotas de orvalho
No teu íntimo amado

Ó, sonho um sonho não sonhado
Tu dormes ao meu lado
Reinando
Em meu coração
Libertado

Se a ti
Coube a mim
Fazer-te mulher
Ser o primeiro
A desvendar
Teu segredo
Entrego-te
As chaves
Do meu reino

Tua fronte adornarei
Não por ouro
Nem quimeras
Mas por heras

Lá no alto
Aonde brilha
A prateada esfera
Erguerei
Nosso castelo
Cravejado
De pérolas

Símbolo ao eterno etéreo
Imaculado
Canto de um ébrio
Alvejado
Pelo Amor
Sem pecado



Rob Azevedo








Camelot




Camelot



Acende lá no fundo da alma
O archote
São as luzes
De Camelot
Na colina imponente
Em rosa brilhante
O Joyous Garde
Ao cair da tarde

Avante carruagem!
Sigamos viagem
Ao reino de Arthur
E seus cavaleiros
Estandartes de coragem
Na Round Table
Da igualdade

Da pedra
Tiraste água
Tornando-te rei
Erguendo a espada
De Excalibur

Ó Arthur
Tu és o escolhido
De Merlin
E abençoado
Pela Dama do Lago

Toda Bretanha
Enfim unida
Nas mãos merecidas
De um rei ungido
Pelo saber divino

É tempo
De uma nova ordem
Instaurada
Pela nobreza
Do teu caráter

Rangendo carruagens
Cruzamos o bosque
Arautos do reino
Saúdam à Guinevere
Ressoando trombetas

A eleita
A coroar-se rainha
De Camelot

Ah! Tudo tão perfeito
Não fosse o Amor
Articulado
Nos bastidores
Do reino
Em nome
Da dinastia

Pelo erro
Caem em chamas
Tua dama
E teu mais fiel
Guerreiro...

Ó Arthur!
Do coração não se escolhe
Dono, nem dona
Amanhece
Feito Sol no horizonte
Abre-se
Como um botão de rosa

Vem vindo a carruagem
Rangendo
Os cavalos relinchando
Trazendo
Lady Guinevere

O céu se nubla
Detrás das colinas
Sombrias
Troveja
Voam em círculos
Aves de rapina
Cintila
Sob a luz tênue do Pôr-do-Sol
O aço da adaga
Que atraiçoa

A serpente
Mira fixa
A maçã da ruína

A utopia
Foi derribada
Pelo que arde
Dentro da carne

Ó Arthur
Lendário rei da Bretanha
Eram grandes demais
Teus ideais
O dragão da cobiça
Rugiu
A mesa redonda se partiu
O reino ruiu
Teus cavaleiros
Mataram-se todos
Tornando-se carniça
Manjar de abutres
Famintos por poder
Ouro e prata

Ah! Nem ruínas
Do teu castelo
E cidadela
Restam...

Ao menos
Sobrevive a lenda:

King Arthur and the Knights of the Round Table

Vencendo o tempo
No cruzar dos séculos
Que se sucedem

Ó cavaleiros
Descansem em paz
No além
Envoltos em brumas
De Avalon


Rob Azevedo








terça-feira, 15 de julho de 2008

Dona Flor e Seus Dois Maridos




Dona Flor e Seus Dois Maridos

Com eu lírico feminino – Por Dona Flor




Quando me penetras
Ó meu amor vadio
Sinto que me despertas
Em pleno cio

Por ti rogo
Revirando olhos enquanto gozo
Com todos meus poros
Sou puro instinto
Felino
Eriçando pêlos

Despe com fúria minha roupa
Liberta a tempestade de desejos
Deixa-me louca

O amor com que me abençoa
Tudo perdoa
Minhas economias
Arrancadas a tapas no rosto
Gastas no jogo
Tuas mulheres da vida
Teus passos tortos
De tão ébrio
Ao voltares pra casa
No término da madrugada

Ó meu gigolô, confesso
Molhada de suores
Abrindo-te meu coração e as pernas
Por ti meu sexo arde
Em chamas que não se apagam
Os lençóis da cama incendeiam
Ao me possuíres
Como bem queres

Enlouquecida de vontade
Te trago da morte
Para que jorre
Dentro de mim teu gozo

Ó meu amor proibido
A aliança de agora
Não é nada
Quando tu me desfloras

É limbo
Sem graça, nem libido
É tempo perdido

Sou tua fêmea no cio
Que sacio
Somente contigo
Ó meu amor vadio!



Rob Azevedo





Princesa




Princesa




Minha princesa menina mulher
Tuas palavras são cantos
De pureza em meus ouvidos
Tua presença a leveza
Que alivia o fardo da minha alma
Tão cândida
És a castidade que outrora
Desencantado
Busquei na Lua...

O quão doce são teus sonhos de amor!
Concedem a mim a crença
Em lendas
Incólumes
Nascidas do coração
Santificando o puro sentimento
Do encantamento que há
Entre um homem e uma mulher
Devotados um ao outro
Em cada pensamento

Um amor assim de todos
Algum dia já foi sonho
Verdadeiro
Único
Leal
Inocente
Confiante e calmo

Desperto
O vejo em teus olhos
Amor digno
De romances que emocionam

Enfeitiçado
Contemplo
A mais bela imagem
Dos meus ideais de poeta...

Todas quimeras
Que cantei em devaneios em meus versos
As encontrei em tua alma
Isso me acalma, me embebeda

Transfigura o deserto
Em bosque florido
Onde se abriga um castelo
Às margens de um lago

Ó, se aquietem todos!
Teus olhos não vêem o que vejo
Deixem que eu contemple desperto
O sonho mais belo

Não vêem os cisnes no espelho das águas desfilando?

Os pássaros silvando pousados nos galhos dos arbustos?

Os íngremes montes ao fundo cobertos de neve?

As cabras pastando nos outeiros?

As gazelas correndo nos prados?

Ó, eu vejo até com os olhos cerrados!

Eu vejo minha princesa de pureza que vem
De seu castelo
Vestida de azul

Menina mulher de longas madeixas
Derramando-se sobre as espáduas nuas
Seus olhos me fitam e sorri
Eclipsando a luz do Sol

Sou seu príncipe
Chegando num cavalo branco

Sempre serei
Seu príncipe
Ela
Minha princesa

Desço da montaria
Tiro o chapéu
Ajoelho-me diante da deusa
Beijo-lhe a mão
Oferto-lhe um buquê de rosas

Ó, numa noite enluarada
Defronte a igreja
Em voz suave e calma
Confidenciou-me recatada
Que entregar-se na alcova
Há de ser
Unicamente
Por um amor
Que não se meça
Tudo transcenda
E que seja
Pra vida inteira
Pleno de pureza
E devoção

Ó, que sonho!

Assim foi o amor da minha mãe...
Por toda vida só do meu pai
Disse-me ainda

Ah! Que leveza
Minha alma flutua como pluma
O mundo torna-se
Um mar de rosas sem espinhos
Inocente
Tranqüilo
Celeste

Contemplando o íntimo
Dessa princesa menina mulher
Compreendo
Que o amor das lendas, ideal
Posto em pedestal
Declamado por trovadores medievais românticos
Ainda existe
E o tenho em minhas mãos
Que de coração e espírito asseguro
Com grande alegria e honra
Serão dignas de ti
Religiosamente
Por toda a vida
Como tu sonhas
Ó, minha princesa!



Rob Azevedo






quarta-feira, 9 de julho de 2008

4 U




4 U




Mesmo quando não te vejo
Te vejo, te beijo e contigo me deito
Tu dormes em meu peito
Amor-Perfeito!

O que são dias
Que contigo não estive?

Tua presença
Em meu pensamento
E em cada estrela
Que vejo no firmamento
E beijo sedento

O que são momentos
Sem ti ao meu lado?

Eternidade e sofrimento
Mas eu agüento
Contigo aqui dentro

Sentimento não se leva pelo vento
Nem o tempo
Distância ou qualquer padecimento

A saudade é o ungüento
Que sara as chagas
Em meu coração sangrento

Remédio amargo
Cicatriza toda ferida
Dando a exata medida
Do quanto te amo

Traz a certeza
Na dor sem tamanho
Banhada em pranto santo
Que é verdadeiro meu canto:

Mesmo quando não te vejo
Te vejo, te beijo e contigo me deito
Tu dormes em meu peito
Amor-Perfeito!



Rob Azevedo






O Alinhamento dos Planetas




O Alinhamento dos Planetas




Fêmea felina
Pecadora bendita
Bandida bem-quista
Banida e recebida
Além do Sétimo Céu

Messalina exclusiva
Do homem escolhido

Um nome se pronuncia...

Convento, catedral
Confessionário, sacristia


.........................................Hare Krishna
............................................Muladhara
..........................................Mantra Sham
..........................................Píngala Ida
.........................................Chakra Swadhisthana


Arrebol

Se põe o Sol
Em Si Bemol




Rob Azevedo