sábado, 25 de agosto de 2007

Ritual Sagrado - O Banho De Duas Estrelas Ascendentes –




Ritual Sagrado
- O Banho
De Duas Estrelas Ascendentes –


-> Trilha sonora


Tênue claridade
Azul Topázio
Violeta
Espelhos
Vitrais
Frio mármore
Samambaias
Orquídeas
Jardins suspensos
Cascatas
Incensos
Azulejos
Florais
Antiguidade clássica
Grego-romana
Mantos que caem
No mármore
Despindo
Dois corpos
Apolo e Vênus
Deus e deusa
Nus, refletidos
Em espelhos e águas
Ondulantes, cálidas
Tão logo imersos
Sob vapores e aromas
Celestes perfumes
Brancas espumas

Mãos macias
Deslizam na pele despida
Arrepiam-se poros
Percorrem dedos
Por todo corpo
Derramam, espalham
Cremes e óleos
Desvendam santuários
Massageiam, param...

Frescor, fragrância
Suavidade das manhãs
Na reentrância do poço
Bebem o orvalho
Dedos delicados
Derretem aço
Em torvelinhos desejos
Fervilham no corpo
Eriçam pêlos

Mãos suaves delicadas massageiam e param...
Se perdem no plexo
Depilando cuidadosas
O bosque ermo
Vibrante o anelo
Regressa ao útero

Meu corpo, minhas mãos
Em seu corpo
Meu corpo, minhas mãos
Em seu sexo
Em rimas e versos
Fora e dentro

Suas mãos, em meu corpo
Seu corpo entreaberto
Em busca do nexo
Meu corpo sobre
Seu corpo sob
Em frente e verso

Arrepios e suspiros
No desaguar do rio
Em mar profundo

Meu eu
Ao eu feminino se funde
Em parte de mim
No íntimo amado
Tornando-se gotas
No oceano

Na doação completa
A paz inunda
Duas almas
Transformadas em uma

Corpos descansam
Um no colo d`outro
Mãos deslizam
Em desfeitas tranças

Bocas murmuram
Canções de Amor
Lábios se encaixam
Línguas de entrelaçam

Cabeças giram
A língua não pensa
Pressente:

A vastidão do corpo é imensa
A libido que açoita tão grande
A vontade que tenho infinda
A distância que separa pequena...


A dois palmos

Da eternidade...



Perdemos o senso
Que o prazer censura...

Lábios e línguas
Se permitem
Ir além
Do que é finito
No desejo que tortura
Em Noites com Sol brilha
Liberto e anelante grita:

Tudo é permitido!

Imerso no infinito
O Sol na noite cintila
Vaga pelas luas
Cheias
Dos seios de quem se ama

Se põe entre montanhas
Minha boca, minha língua
Em seu corpo
Minha boca, minha língua
Em seu sexo
Sorvendo nas entranhas
Rimas e versos
Fora e dentro
Prazer perplexo

Língua que se perde em andanças
Na vastidão do corpo sorve o gozo
De quem se consente ao direito
À bem–aventurança
No Amor Perfeito

No Eterno Retorno
O regressus ad uterum
Santuário Sagrado Soberbo
Aconchego do lar
Origem de tudo
Onde em suspiros de saciado instinto
Paixão e devaneio
Em ritmo ondulante no íntimo consentido
Aprendo o segredo
Do Sol que refulge no escuro
Arrebatando-nos feito estrelas ascendentes
À imensidão
Da Via Láctea




Rob Azevedo & Karla Julia




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terça-feira, 21 de agosto de 2007

Pai e Mãe - Éolo e Rosa dos Ventos




Pai e Mãe
- Éolo
E Rosa dos Ventos –


-> Trilha sonora


Não sou teu
Não sou de ninguém
Sou do vento
Só ele me tem


Sopra o vento
Se curvam arvoredos
Diante Éolo

Uivante desprende
Ressequidas folhas
Batem janelas e portas
Em seus umbrais

Impele nuvens
E velas
De caravelas
Roda moinhos
Muda o tempo
Levanta poeira
Arranca telhas

Leva consigo
Cartas de amores
Pétalas de flores
Alastra chamas
Enfurece ondas

Ninguém o tem
A ninguém rende contas
Não tem dono nem dona

Sopra o vento
Sons de flauta
O vento en(canta)
Alazões exalta
Crinas balouçam
Nos verdes prados
À trotes largos

Planam aves
Estendendo asas
Olhos de águia
Espreitam presas

Ao sabor dos ventos
Viajam balões
Debicam pipas
Sorriem crianças
Choram damas

Uivante canta
A leveza de ser livre
Sem dono ou dona

Liberto canto
À Rosa dos Ventos
Mãe soberba
Cálice e berço

Impávido conto
Nas contas do terço
Lendas de Éolo
O Pai que escolho

Sou livre
Não tenho porto
Ou ninho
No topo das árvores
Nem cume dos montes

Nasci do Amor
Entre a Rosa dos Ventos
E o deus Éolo

Aos filhos de Gaia
Presos ao chão
Miro o horizonte
O azul celeste
Abro o peito
Solto a voz
Toco harpa
E canto:


Não sou teu
Não sou de ninguém
Sou do vento
Só ele me tem



Aprendi
Com o Pai Éolo
E a Mãe Rosa dos Ventos
A sabedoria
Do sopro que tudo leva
Sobretudo o encanto
Da liberdade
Na magia
De ser pássaro-poeta
E voar
Com asas
De poesia



Rob Azevedo









Meca da Poesia




Meca da Poesia


-> Trilha sonora


Vida longa aos poetas
Peregrinos fiéis de Meca...

Que nosso canto seja jubiloso às almas
Transbordando (en)canto...

Num enlevo místico do espírito
A nós se unirão os deuses do Olimpo
E os bardos gregos antigos
Argonautas excelsos
Aqui aportando
Saudaremos com ramos de louros
Num pomposo sarau à luz da lua
Daremos também boas vindas
A Baco e suas bacantes profanas
Nos embriagando de versos
No vinho extraído
De cachos de poesia

Homero, Aristófanes, Horácio
Cratino, Sólon
Epicarmo, Ésquilo
Alcmeno, Sófron
Ríton, Aristoxeno
Hipónax, Êupolis
Alceu, Safo
Píndaro, Arquíloco
Estesícoro, Anacreonte
Íbico

Deuses poetas
Nós te saudamos
Desde a Grécia, à Babilônia e Meca

E bem vindas
Todas as musas
De céus, águas, píncaros
Bosques ermos e vilas



Rob Azevedo





domingo, 19 de agosto de 2007

Não-Me-Quer




Não-Me-Quer


-> Trilha sonora


No mundo tanta gente
Em meu peito
Um Amor somente

Risos e olhares
Na noite
Promessas e encantos
De mil flores

Aquela que me causa dores
Desejo perdido de amores
D`outras
O vinho não entorpece
A rosa não floresce
Nada apetece
Ao coração
Trancado a sete chaves
Da paixão

Corpo e alma
Jurados
A quem o sagrado
Juramento nega
Dor causando

Desatando o laço
A todas amarei
Sem que ame
Aquela que amo

De que me vale
Caminhar ao cadafalso
Se nele morre
O Amor que devoto?

Contento o ego
O instinto calo
Insensível seco
A flor que quero:

Amor-Perfeito

Dói o peito
Derramo pranto
Transborda o cântaro
E rego
Jardins aonde nascem
Versos

Rezo...

Quiçá algum floresça
Entre os seios
Daquela
Que me nega
Enquanto
De amores mourro


Rob Azevedo



TI AMO! TI AMO! TI AMO! TI AMO! TI AMO!




Dialética da Paixão




Dialética da Paixão


-> Trilha sonora


Tanto que te amo
Que sinto nos ombros
O peso - dizer o que penso -
Ao seu respeito

Te amo de um jeito
Que ninguém entende
Amor de namorado-irmão
Pagão-errante

Tanto que te amo
Que quase enlouqueço
Sabendo que é bem pouco
O que te creio

Te amo de um modo
Que arrepio cada pêlo
Do alicerce ao telhado
Estremeço

Te amo tanto
Que sozinho bebo
Licor absinto
Com pedras
De desengano

Tanto que te amo
Que compreendo:
Nenhum eu te amo
É perfeito

Te amo tanto
Que à Noite Sem Lua clamo
Alívio ao meu desterro

Tanto que te amo
Que muito te conheço
Tão logo me enveneno
Do riso traiçoeiro

Te amo tanto
Que tenho dó
De ser tão só
Quando contigo estou

Tanto que te amo
Que tenho medo
De confessar de repente
Que te odeio

Te amando padeço
O fim que não mereço
Sofrer por dois

Início e fim sem meio
Bebendo palavras
Contraditas
Temendo feridas
Sou ébrio
Do cálice Amor Soberbo

É tanto que te amo
Que solene prometo:

Até que a derradeira estrela
No firmamento se apague
Escreverei poesia
Na esperança tardia
De que antes que a sombra
Derrame o cálice
Seu beijo me cale



Rob Azevedo






sábado, 18 de agosto de 2007

Lizlanne




Lizlanne


-> Trilha sonora


Se fosses à livraria
Se livraria de mim?
Dia após dia
Essa dúvida me persegue...
Seu jeito não é doce
É o fel da noite que amanhece
Quando se encontram nossos lábios
Sinto ácido no beijo
Esbravejo
Quando ouço
Sua filosofia
Antropofágica.

Ressabiado
Olho de lado
Adormeço acordado
Tenho medo
De morrer
Por minhas próprias mãos
Enforcado.

Desiludido
Com minhas ilusões
De Amor Perfeito
Ouvindo Bossa-Nova
Daquela bem
Deprimente.

Mas alguém me disse
Que o Amor Imperfeito constrói...

E da ostra ferida
Nascem pérolas...

Miro meu semblante
Ajeitando o cabelo no espelho
Com ar confuso
Surpreso e ofegante
Por tamanha desigualdade
Diante mim.

Sua imagem refletida
Na superfície vítrea
Num bote traiçoeiro de víbora
Procurando na bolsa não sei o quê
Surpreende meu ser.

O veneno me entorpece...

Padecendo
Vítima de animal peçonhento
O antídoto
Só encontro
Em sua boca...



Rob Azevedo






Save Our Souls




Save Our Souls


-> Trilha sonora


A torneira pinga
Lágrimas em gotas
Na tarde monótona
O que era colorido
Torna-se
Cinza

A pia transborda
Entorna
Retini o gotejar
Por horas e horas

Horas mortas
Cadaveris
Sem sepulcro sepultadas
Abandonadas
Ao relento

Horas sem prumo
Expostas
Diante ao Nada
Da vida amarga

Bússolas tortas
De barcos à deriva
Em mar bravio
Perdido o leme

Mar que transborda
Entorna da pia
Lágrimas de quem chora
Melancolia
Inunda ladrilhos
Afoga
Cães que ladram
Na tarde vazia
Toma o tombadilho
Tomba o navio
Que naufraga decaído
No sem sentido



Rob Azevedo





Poesia, Amor e Arte





Poesia, Amor e Arte

-> Trilha sonora


Meus poemas
Não me deram
Sequer um dollar furado

Às vezes me pergunto:

Escrever poesia dá dinheiro?

Ser poeta é profissão?

Que amargurado devaneio
Aflige meu coração...

De qualquer modo
Escrevo
Comendo o farelo
Do pão
Que o diabo amassou

Escrevo porque preciso
Dinheiro eu mendigo
Na porta da igreja
Vendo incenso
Numa tenda hippie

Minhas vestes
Que sejam retalhos
Costurados
Por minha mãe

Alimento
Pesco num rio
E nalgum pomar tenho
Frutos da estação

No quintal
Da minha casa
Herança do meu pai
Eu crio galinhas
E cultivo hortas

Dinheiro
Eu me viro
Não importa
Se não tenho status
De burguês empedernido

Estou vivo!

Mas sentimento
Do meu profundo íntimo
Não renego
Se não digo
Definho
Agonizo
E faleço
Morte invisível

Porque a alma
Ninguém vê
Nem sabe
Se adoece
Quando morre
Sequer tem enterro

Alma morre?

Ah, que se espantem
Os teóricos teólogos
Filósofos
Do além

Eu
Que não pagarei
Pra ver
Minh`alma morrer
De fome
Sem escrever em versos
O reverso
Do pão e água
Que carece meu corpo

Porque o alimento da minh`alma

É Poesia
Amor
E Arte



Rob Azevedo







Epílogo da Nossa História




Epílogo
Da Nossa História


- Aprendi o valor do silêncio
Quando decidi calar
Para não magoar alguém –


-> Trilha sonora


Deixe-me partir
Sem nada dizer
Palavras
Destruirão tudo
Que vivemos
Boas lembranças
Que permaneçam
Incólumes
Em algum lugar do passado

Minhas razões
Haverão de magoar
Quem um dia jurei amor

O tempo
Abranda o sofrer
Um dia
Se esquece a dor

Eu sofro
Por nós dois
Não quero te ferir
Como os espinhos
Que agora me ferem

Não me prenda mais
Deixe-me beber
Do cálice menos amargo

Seguir meu caminho
Dizer enfim good-bye

Nosso amor
Foi imperfeito demais
Sangra por dentro
Saber
Mera promessa de prazer
Sem futuro
Nem compromisso

Ainda assim te ferindo
O ferimento que teu amor me causou
Foi maior
Se agora me calo
E sigo meu caminho
É porque não quero
Te ver sofrendo comigo

Entenda o sentido
Do verdadeiro amor
Querer o bem de quem se ama
Incondicionalmente
Deixando-me partir
Porque ao teu lado
Não encontro abrigo



Rob Azevedo






Campos de Ouro




Campos de Ouro


-> Trilha sonora


Dourados fios
Graciosos, delicados
Em tons castanhos
Derramados da fronte
Cobrindo ombros
Adornando o riso

São como tranças
Dos lençóis de seda
Revestindo o leito
Onde embriagado me perco

Meu Anjo, Musa e Encanto
És a poesia
Mais linda que já li
Li com o corpo
Senti n`alma
E sorri

Voei sem asas
Brilhei feito estrela
Mergulhei como peixe
No mar de rosas
Inebriante abismo
Violeta, purpúreo
Do eu feminino

E amei
Como nunca antes
Amei ninguém

Flutuando caminhei
Em Campos de Ouro
Conversando com o vento
Indagando à Lua
O por quê de tanto Amor
Que dilacera, dói
É chama
Arder no peito
Inundando o mundo
De paixão em versos

Em silêncio me confesso
Como o Sol que aquece
Do alvorecer ao ocaso
Sem murmúrio algum

Devagar enlouqueço
Da solidão me despeço
Perdido de amores em afagos
Com a Dona Esperança

Jorro pranto
Transbordando no cântaro
Amor derramado
Desato o laço
Num só gole bebo
Sou bêbado
Apaixonado

Meu clamor canto
De mãos juntas rezo
Com o coração amargurado
Ao Pai peço:

Que meus versos
Como a brisa suave,
O copo d`água
No calor dando alento
Acalente o abrigo
Onde vive seu espírito

Em dom que transcende
A carne que somos
No mundo aparente
Tenha a força mística
Das lendas de Shakespeare
Festivais de Belthane
Confissões de Heloïse
Suspiros de um príncipe
Mirando erguido imponente
O Taj Mahal
Símbolo da grandeza
Do Amor que n`alma sente

De magia e paixão vestido
Que o fruto do que sinto
Como a lágrima de um filho
Toque o mais profundo
De seu íntimo



Rob Azevedo







Amor Pagão




Amor Pagão


-> Trilha sonora


Colher de pau
Caldeirão de bronze
Chapéu de bruxa
Tatoo de golfinho
No pé de Ártemis
Sacerdotisa

Branca a magia
Na trilha da Luz
Ao povo Druida

Na maçã a mordida
É sem pecado
Sorver o suco
Da poupa da fruta

O sorriso da deusa
Do alto nos brinda
A liberdade que celebra
Viver a vida
Desatada de nós

Nós dois a sós...

Do equinócio ao solstício
Semeando e colhendo
Festejando Imbolc
Beltane
No manto negro noturno
Contemplando
Ciclos lunares

Feitiço pagão
Ao canto do vento
Murmúrio das águas
Solidão paciente
Das pedras e montes
Vôo dos pássaros
Existir sem queixas
Dos animais silvestres
Raios do Sol
Luz da Lua
Cintilar das estrelas
Serenidade das nuvens
Rugir do trovão
Crepitar das fogueiras

No refúgio acolhedor
Dos sombrios bosques
Buscamos a sabedoria
Dos Carvalhos

Nossa Grande Mãe
Benevolente nos abençoa
Quando eriçamos pêlos
Deitados na relva
Ao Amor entregues

Nas copas das árvores
Sobejam maçãs
Em torno da ilha
Brumas

Somos de Avalon
Eu e ela...



Rob Azevedo





Veneza



Veneza

-> Trilha sonora


O que era sonho
De repente
Se vislumbra
Diante aos olhos
Singrando numa gôndola
Os canais de Veneza
Margeados por casarões milenares
Cruzando o vão das pontes
Ao canto e acordes
De serenata


...come respirare un'aria nuova

sempre di più

e tu e tu amore
vedrai che presto tornerai
dove adesso non ci sei...


Ao contemplarmos
A catedral de São Marcos
Flores que trago no regaço
Entrego à diva do outro lado
Suspirando os ares
Da Cidade dos Apaixonados

Violões não param
Os gondoleiros conspiram
Na melodia de serenatas
Corações descompassados
Disparam
Avistando
A Ponte do Rialto

Rosas desfeitas em pétalas
Feito crianças
A nos perdermos em risos
Jogamos ao alto
O vento leva
Pousam em nossos corpos
E flutuam nas águas
Metamorfoseadas
Em mar de rosas

Quantas românticas histórias
Nos contam Veneza
Vindas d`outras eras
Da potência comercial marítima
Dona de uma das maiores frotas
De toda Europa

Veneza do passado grandioso
Lar de Marco Polo
Contemplada pelas mãos de Michelangelo
Veneza dos sonhos
Da Ponte dos Suspiros
Desta vez, não daqueles
Dos apaixonados sem fôlego
Mas vindos de condenados
Levando consigo a derradeira visão
Do mundo externo
Atravessando do Palácio de Doges
À antiga prisão
Costumeiro palco
De execuções
Subindo o cadafalso

Veneza do presente
Sereníssima nas águas suspensa
Encantamento grandiloquente
Cenário deslumbrante

Veneza do amanhã
Da aurora que espera
Em mil cores
Cumprirmos a promessa

Veneza eterna
Quiçá, seus ares
Que sorvemos em suspiros de amores
Nos dêem a chave
Dos portões da eternidade

O que era sonho
Singrando numa gôndola
Os canais de Veneza
Torna-se
Realidade
E meus lábios
Cerrando os olhos
Pousam nos teus
Assim como
Uma branca gaivota
Na cruz altaneira
Da Catedral de São Marcos

E cantam os gondoleiros
Vibrando as cordas
De seus violões...

Só eles
Derramando de si
O canto dos poetas
Expressam
O que haverá
De inundar minh`alma
Cumprindo-se a promessa:


Sarà sarà l'aurora

per me sarà così
sarà sarà di più ancora
tutto il chiaro che farà

Sarà sarà l'aurora
per me sarà così
sarà sarà di più ancora
tutto il chiaro che farà




Rob Azevedo
– Trechos da música La Aurora – Eros Ramazzotti – inclusos no poema.







Noz Moscada




Noz Moscada


-> Trilha sonora


Uma cuia de chimarrão
Na manhã fria
O Sol dissolvendo a neblina
Além, o gado
Ruminando no prado
Pincelado de branco
Da geada de agosto

Cachecol, sobretudo
Botas e luvas

O corpo aqueço
N`alma padeço
Os rigores do inverno

Mil gravetos
Empilhados
Fogueira faço
Toco gaita e bebo
Uma caneca de vinho

Fagulhas rubras
Ascendem aos céus
O pensamento voa
Pelos pampas
Com asas
De gaita

Onde estás
Ó Noz Moscada?

Te procurei num pé
De Araucária
No fruto espinhoso
Duma castanheira
Nos ramos do Cipreste
E no alto do Pinheiro

Teu eu se esconde
Entre cascas
Desafia as palavras
Que meço em desvario
Abrindo aspas
Tua alma se envolve
Por véus
Que descem em cachoeiras
Das Sapucaias

Ó Céus
Metamorfoseado em torniquete
Tornai minha pena
Trituradora da casca
Que te reveste
Ó Noz Moscada!

Tua alma à minha exposta
Será quente
Como a chama da fogueira crepitante
Teu coração, pulsante
Como o alazão que se perde de vista
À trote largo no prado

O desejo, inebriante
Como a vinha dos pampas
Em barril de carvalho envelhecida
Fermentada e servida
Em noite enluarada

O Amor, transcendente
No cerne a suavidade
Da neblina matutina

A vida, alquimia
Etérea magia
A Noz sozinha
À boca unida
Seremos nós
Saciados da fome que esfria
Além do tremor que o inverno nos causa

O invólucro partindo
O fruto se revela
Por entre a casca aberta
Sem pudor se entrega
A quem saliva

Minha mente delira
Vejo os pampas
Cobertos de branco
Pelo orvalho congelado
Tua imagem, a quimera
Mais cobiçada
Esmerada
Em atender o chamado
Da gaita que chora

Devagar se aproxima
Desvanecendo a neblina
Diz bom dia
Abrindo um sorriso

A casca foi partida
A porta aberta
Etéreos em versos
De mãos enlaçadas
Se vão duas almas despidas
Partindo
De encontro à Poesia



Rob Azevedo





O Sonho e o Pesadelo




O Sonho e o Pesadelo

-> Trilha sonora


Vivi dos meus sonhos
E deram alento
Àqueles que à sombra
Deles repousaram

Vivi dos meus sonhos
E muitos deles viveram

Pintei o cinza
Em tons coloridos
Sutis

Sonhei demais
Sonharam comigo

Quando chovia
O dia era límpido
O pranto
Riso

A noite
Era clara
O Sol refulgia

No deserto se via
Campos floridos

Sonhando vivi
Acordado-adormecido
Morto-vivo

Amei demais
Meus sonhos
O Amaram demais

Apaixonamo-nos
Pelo que sonhei

Imaginei que as quimeras
Vislumbradas em sonhos
De dadivosas senhoras
E porvir virtuoso
Fossem aquelas
Nuvens levianas
Ao sabor do vento
E vice-versa
Em cada um dos meus versos

As brancas nuvens
Desvanecidas
Flutuando fugazes
Por todo céu
Imaginaram de mim
Sopro do vento
Os sonhos dourados
Que sonhei

Posto à mesa
Um sonho
No estômago
Manjar de abutre

Quando a digestão não é boa
À noite
Temos pesadelos
E acordamos

Um dia acordei
No meio de um sonho
Tão colorido
Parecia um caleidoscópio
Jardim primaveril
Transformado de súbito
Em calafrios de pânico

Desperto
Num salto da cama
Pisei na realidade
Com os pés no chão
Mirei ao redor
Tudo era opaco
Ao meu lado alguém
Era apenas alguém
Eu idem
Agora que havia acordado

Mirei meu semblante no espelho
Atônito
Olhos esbugalhados
Diante o reflexo perplexo
Embriagado de espanto
Dei-me conta:

Eu era o sonho

Fragmento da ponta

Do iceberg que desconheço

Quem dormia ao meu lado...

O pesadelo!





Rob Azevedo







De Novo Um Menino




De Novo Um Menino


-> Trilha sonora


Tarde ensolarada
De inverno
O céu é azul
As pessoas seguem pelas calçadas
Ocupadas, com seus afazeres
Eu sigo sozinho

Procuro seu rosto
Em cada semblante que vejo
Me encontro e me perco
Saudades sinto
Imerso no vazio

Contemplo o céu
Tão azul
Meu horizonte tão cinza
Sem sua companhia

Uma mesa de bar
Um drink, um cigarro
São companheiros
Da melancolia
Se o dia é quente
Minha vida é fria

Um sorriso
Num papel de foto
Olhar de rubi
Rosto de anjo travesso
A lembrança do perfume
Dos seus cabelos
Dourados, castanhos
Derramados sobre os ombros
É tudo que tenho

Outrora
O cinza era azul
O frio, quente
Você meu Sol
Minha menina

O acaso da vida
Leva o que amamos
Como folhas secas pelo vento
Agora diante a mim
Ao sem sentido
Perdido me reconheço:

Sou apenas um menino
Contendo o choro

A dor que me fere
Rasgando a entranha
É saber:

O melhor de mim te devotei
Sem merecer na partida
Sequer sua mão
Estendida sobre meu ombro
Uma palavra de afeto
Um adeus sincero

Além imaginei em devaneios
Que merecia
Algumas palavras
De vez em quando
Tão fáceis:


- Oi, como tem passado?

Continuo crendo
Que mereço
Por tudo que vivemos

Só queria que soubesse
Em meus últimos versos:

Ainda é tempo
Me faça ao menos
Saber que existo
Que existi
Algum dia
Em sua vida

Viramos a página
No entanto não precisa
Rasgá-la, jogá-la fora
Na cesta de lixo

Por mais que me doa
Haver me doado
Tão intensamente
E me ver nessa tarde
De mãos vazias
Você sempre existirá
Nalgum lugar
Muito especial da minh`alma
Guardada com todo carinho
A sete chaves

Te amarei como lembrança
Que o mesmo vento que te leva
A todo instante me traz

Senão como seu homem
Te amarei como irmão
Senão com meus lábios
Nos seus
Te amarei com meu respeito
E constante atenção

Vigilante, me preocuparei contigo
Perguntarei sempre
Se está tudo bem
Sobretudo
Serei seu amparo
Para que tudo eternamente
Em seu viver esteja bem

Ainda que agora
Eu quem precise socorro
Serei sempre seu salva-vida
Farol em mar bravio
Cais do porto

Serei tudo que digo
Se ao menos
Lembrares que existo

Um eco me aflige
Congela meu espírito:

Por tudo que vivemos
Pensei que merecia
Um oi, tudo bem?
Tão pouco o que peço

Agora entendo
Eu homem-menino
Ofertando ajuda
À mulher-menina que tive
Sou eu quem clamo
Do íntimo d`alma socorro

Nessa tarde e vida vazia
Desamparado, perdido
Agora compreendo
Que te amei demais
Bem mais do que devia
Bem mais do que merecias

E é triste
Nem ter ouvido na partida
Em voz sentida
Entrecortada por soluços de pranto:

- Adeus, nosso Amor se finda
Mas continuas existindo em minha vida
Como um grande amigo



Rob Azevedo






Louco Me Chamam



Louco Me Chamam

-> Trilha sonora


Ontem você disse
Que me amava
Hoje você diz:

Adeus

Ontem eu sorria
Agora eu choro
A vida hoje suporto
Ontem vivia
Embora não via
O valor que agora vejo
Em você enquanto
Em lágrimas me afogo

Te perdi, eu sei
Mas não te perdi em vão
Te perdi para que tivesse
O valor que agora te dou
Não te tendo
Ao meu lado

Cada detalhe teu
Hoje me é tão caro
Nenhum ouro
Do mundo compra
Teu sorriso
Não tem preço
Cada palavra tua
Um oi, um tchau
Teus cabelos balouçando
Sobre os ombros

Um olhar
Vindo dos teus olhos
Lúmen dos meus
Em devaneios
Me arrepia pêlos

Teu toque de pele
Me estremece inteiro

Ouvir teu coração batendo
Junto ao meu
Cântico dos anjos

Teu beijo... Ah!

( - Vácuo sem fim
Em meus versos
Palavras não encontro - )

O que sinto
Nem digo
Sangro
Mancho o papel
Onde escrevo
De vermelho
Paixão

A outros
Causo espanto
Porque amo tanto
Que o Amor que canto
Se desnuda aos olhos de todos
Causando pudor
Em vê-lo nu
Na essência concebida
Pelo Criador

Só um Amor assim
O universo fez existir
Só Ele pode medir
A extensão do que não se mede
O infinito

Louco, me chamam aqueles
Que me vêem pelas ruas
Declamando versos
Ao vento

Louco, me chamam aqueles
Cegos
Que não vêem
Enquanto vejo
Estou desperto

Louco, me chamam aqueles
Que não aprenderam
Colher no negro manto noturno
A Lua
Para iluminar
O leito
Onde nos amamos

Louco me chamam
Eu que tanto aprendi amando
Aprendi os segredos do céu
Desaprendendo
A dizer adeus
Louco portanto me chamam
Porque em troca
Do que me tornou encanto
Desaprendi
A lhe dizer adeus
Ou escrever a ti
Amor Sem Fim
Meu último canto



Rob Azevedo